Whatsapp: território fértil para fraudes

Um delegado da polícia civil do DF, mediante não revelar sua identidade, informa que a maioria das mensagens enviadas ofertando documentos fraudados provém de celulares que estão no interior de penitenciárias e que é muito difícil identificar essas negociações, pois quem compra cédulas falsas ou cartões clonados está cometendo crime igualmente ao fornecedor e, por isso não revelará as transações.

Que tal um diploma universitário sem ter frequentado a faculdade? E uma carteira de habilitação sem a necessidade de se submeter ao exame do Detran? Você pode ainda cobrir suas despesas com cédulas falsas de real, ou cartão clonado em nome de outras pessoas, algumas até já mortas, que não irão reclamar. Tudo isso está disponível nas redes de whatsapp.

As fraudes nas redes sociais vão além das fakes news, que buscaram inviabilizar a vacinação contra a covid ou que insuflam as pessoas com mensagens de ódio e xenófobas. Abertamente, propagandas oferecem esses documentos para quem desejar. Quem envia prefere grupos que reúna moradores de áreas mais carentes do DF, tipo Estrutural, Varjão, Café sem Troco e 26 de setembro. Mediante o envio de um pix no valor de R$ 50,00, o estelionatário lhe promete um cartão de crédito clonado, porém já desbloqueado, com limite de despesas em R$ 4 mil. Se a preferência for por cédulas de dinheiro, a oferta é de receber um pacote de R$ 3 mil, mediante o envio de um pix de R$ 350,00. E os fornecedores garantem que as cédulas são iguaizinhas às verdadeiras. “Notas fake fibradas, perfeitas”, diz a propaganda disseminada nos grupos de zap. A carteira de habilitação para motoqueiros custa R$ 1 mil e para as categorias B, carro de passeio, e D, que permite dirigir lotações, os preços são, respectivamente, R$ 1.500,00 e 1.600,00.

Agiotas também atuam nessa rede oferecendo empréstimos. Os telefones que enviam essas mensagens têm origem nos DDD 64, interior de Goiás, 85, Ceará e 31 e 34, interior de Minas Gerais. Um delegado da polícia civil do DF, mediante não revelar sua identidade, informa que a maioria das mensagens enviadas provém de celulares que estão no interior de penitenciárias e que é muito difícil identificar essas negociações, pois quem compra cédulas falsas ou cartões clonados está cometendo crime igualmente ao fornecedor e, por isso não revelará as transações. Mesmo assim, a Polícia Federal tem conseguido identificar esses falsários e seus cumplices. No final de abril, um jovem foi preso em Samambaia ao retirar nas agências dos Correios um pacote com mil reais em notas falsas de cem. Ele admitiu que comprou as cédulas pelas redes sociais. É sempre bom lembrar que aquisição de moeda falsa é crime e a pena chegar a doze anos de reclusão.

Procurada, a secretaria de Segurança do DF, repassou a demanda à Policia Civil, que até o fechamento dessa edição não havia retornado. Ex-secretaria de Segurança do DF, Marcia Alencar, avalia que a segurança digital passa, fundamentalmente, por algumas medidas a serem adotadas pela governança de cada plataforma. “Desenvolver filtros e disparar alertas ao usuário sobre a confiabilidade das informações. Executar um plano massivo de comunicação sobre as informações disparadas sem o selo de qualidade do WhatsApp de forma permanente” – diz ela. Já para os usuários, ela recomenda ações de educação para a cidadania, capacitando os usuários para que identifiquem os riscos e perigos das informações falsas e contrainformação; de forma a neutralizar a narrativa da desinformação dominante atualmente nas redes sociais.

Por Chico Sant’Anna

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