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Vídeo de artistas pró-Boulos: ajuda ou faz o Nunes ganhar retroativo no primeiro turno?

Para os indecisos e para aqueles que rejeitam a elite progressista, as aparições de artistas em vídeos de Boulos podem dar mais força a Nunes

A aparição dos mesmos artistas elitistas, rejeitados pela população, em vídeos de campanha é um fenômeno que, de tanto se repetir, se tornou uma verdadeira kriptonita política. Quando um desses vídeos surge, o público não só ignora o conteúdo, como automaticamente rejeita o que está sendo dito. A simples presença desses artistas já desperta ranço.

Vídeos com artistas queridos têm uma função em outras esferas. Artistas são ótimos para campanhas de saúde pública, por exemplo. Eles funcionam bem quando o objetivo é divulgar iniciativas humanitárias ou de caridade. A imagem deles é utilizada em prol do bem comum, e nesse contexto, o público escuta. Já vimos isso funcionar em várias situações. A pessoa para e ouve porque gosta do artista, daí passa a ter contato com a causa ou informação de interesse público.

Mas, na política, a situação é completamente diferente. Quando um artista se posiciona politicamente, ele é eficaz se representa uma voz de contestação ao sistema. O poder da arte está em transgredir, em questionar o status quo. É por isso que os artistas foram tão importantes no movimento das Diretas Já. Eles estavam desafiando o sistema, não fazendo parte dele.

Agora, esses mesmos artistas que aparecem defendendo Boulos já não representam a ruptura. Eles se tornaram parte do sistema que a população está cansada de ouvir. E o pior: não são artistas populares, que têm grande apelo com o público. São figuras representativas de uma elite progressista que há muito tempo defende as mesmas pautas de esquerda. E por que são vistos assim? Porque é exatamente isso que eles são. Não são novidade, não trazem frescor. Pelo contrário, representam a continuidade de uma narrativa que grande parte dos brasileiros já rejeitou.

A exaustão com a política é evidente. A população está farta e, nesse cenário, o artista que apoia uma força política deixa de ser o rebelde que desafia o sistema e passa a ser visto como um aliado da elite. Não é uma surpresa que essa campanha de artistas pró-Boulos esteja soando como música desafinada. Pior: ela tem um problema de lógica. O objetivo, claro, é evitar que a “extrema direita” governe São Paulo. Mas como? Ricardo Nunes já é o prefeito da cidade. Ele não é uma ameaça desconhecida que está prestes a chegar ao poder. Ele já está lá.

A ideia de que é preciso evitar um cataclismo ao impedir a eleição de Nunes simplesmente não faz sentido. A cidade de São Paulo já é administrada por ele, e a população sabe disso. Não há mistério em torno de sua gestão. A cidade tem seus problemas? Claro. Mas Nunes não é uma incógnita. Ele já está no cargo. A tentativa de vender sua eleição como um apocalipse iminente soa vazia, alarmista e desconectada da realidade.

Outro ponto que agrava essa situação é o fato de serem sempre os mesmos artistas. Essa repetição desgasta a mensagem. O público já os conhece, já ouviu suas opiniões em diversos contextos, e a impressão que fica é que eles sempre escolhem o mesmo lado. Quando apoiam, o discurso é um; quando criticam, o tom é completamente diferente. A incoerência é evidente. E o resultado disso? O público os enxerga como parte da elite tentando empurrar suas ideias, goela abaixo para um povo que não os considera relevantes politicamente.

Para o eleitorado de Boulos, esses vídeos não fazem diferença. A elite que vota nele já compartilha dessas opiniões. Para esse grupo, os vídeos não mudam nada. Mas, para os indecisos ou para aqueles que rejeitam a elite progressista, essas aparições podem ser o estopim para consolidar ainda mais a rejeição a Boulos. É possível, inclusive, que esses vídeos acabem atraindo mais antipatia do que apoio, reforçando a imagem de Boulos como o candidato da elite e distanciando-o do eleitorado comum.

Tem até uma piada circulando pela internet. Se esses artistas do Leblon e Vila Madalena resolverem gravar mais um vídeo pedindo voto no Boulos, capaz de Ricardo Nunes ganhar retroativo em primeiro turno. Pura maldade, claro.

O Antagonista

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