Decisão foi tomada após reunião do governador Ibaneis Rocha com órgãos competentes na manhã desta segunda-feira (26); fumaça vinda de outros estados se concentrou no céu de Brasília e deve permanecer até quarta (28). Por enquanto, não está prevista a suspensão das aulas na rede pública. Decreto de abril estabeleceu estado de emergência ambiental entre junho e novembro
Em decorrência da cortina de fumaça vinda de outros estados que se concentrou no céu da capital federal, o governador Ibaneis Rocha se reuniu com autoridades para instituir um grupo de trabalho e elaborar um plano de ação para eventos críticos de qualidade do ar. A decisão será publicada no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF). Em abril deste ano, o chefe do Executivo já havia decretado estado de emergência ambiental no DF para o período de junho a novembro.
O governador Ibaneis Rocha falou sobre a condição do ar em postagem em suas redes sociais e pediu a colaboração da população para combater os focos de incêndio: “Estamos em um período de seca e calor no DF, o que aumenta o risco de incêndios. Nossa equipe está preparada para agir rapidamente, mas a colaboração da população é essencial. Evite fogueiras em locais não permitidos e descarte materiais inflamáveis corretamente. Se avistar qualquer sinal de incêndio, denuncie imediatamente: ligue 193 para acionar o Corpo de Bombeiros ou envie uma mensagem para o WhatsApp exclusivo do Instituto Brasília Ambiental, no (61) 99224-7202, destinado a receber denúncias de incêndios em unidades de conservação”.
Em 64 anos desde que foi criada, Brasília nunca havia atingido esse nível de qualidade do ar. Especialistas explicam que a fumaça no DF vem de outros estados afetados pelas chamas. “Temos focos de incêndio no DF, mas estão controlados. Essa fumaça no céu não é daqui. Essa é a primeira vez que isso acontece em Brasília, e nós temos um grupo que estuda todos esses acontecimentos na qualidade do ar. Como isso é inédito, vamos criar um plano de ação para que, caso aconteça novamente, nós saibamos agir”, afirmou o presidente do Instituto Brasília Ambiental, Rôney Nemer.
A autarquia dispõe de duas torres de medição automática, na Fercal, que mostram o Índice da Qualidade do Ar (IQA) no Distrito Federal. No domingo (25), os dados coletados mostraram o IQA como ruim (93 em uma medição e 82 na outra) para material particulado — que pode ser poeira, fumaça ou fuligem. Durante a noite, o IQA chegou à classificação péssima (maior que 200), por volta das 19h, permanecendo até as 3h desta segunda-feira (26).
As últimas medidas da estação mostram que houve uma pequena melhora no indicativo, mas a classificação continua como muito ruim (186). Segundo o meteorologista Carlos Henrique Rocha, do Brasília Ambiental, a previsão é que a cortina de fumaça permaneça no DF: “Essa situação deve continuar até esta terça-feira [27], e a previsão é que quarta [28] ou quinta [29] isso se normalize. Tivemos uma noite complicada, com a qualidade do ar péssima, e hoje estamos na classificação ruim, então houve uma melhora”. De acordo com o especialista, não há previsão de chuva para os próximos dias.
Na avaliação do comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, coronel Sandro Gomes, a quantidade de chamados para incêndios florestais está dentro do previsto para esta época do ano: “Temos militares preparados para atender todo o DF. As ocorrências estão dentro do esperado. Infelizmente, os incêndios que temos atendido são oriundos da ação humana, que ocasiona algum tipo de queimada e acaba perdendo o controle, se tornando de grandes proporções”, explicou o militar.
“Pedimos à população que não faça nenhum tipo de queimada, porque isso fará mal para ela mesma e para toda a sociedade. No último domingo, contabilizamos 93 chamados; no último sábado, foram 100. Essa é uma média esperada. Mas solicitamos que o cidadão abra um chamado somente se tiver certeza de que se trata de incêndio, porque nem sempre onde tem fumaça tem fogo”, reforçou o coronel Sandro Gomes.
500
Número de bombeiros envolvidos na Operação Verde Vivo
Além do monitoramento 24 horas realizado por inteligência artificial, que detecta precocemente fogo ativo ou fumaça, o DF dispõe, por meio da Operação Verde Vivo, de 500 bombeiros, 27 caminhonetes, 24 caminhões-tanque, 22 caminhões de transporte da tropa, dois aviões e dois helicópteros para o combate aos incêndios florestais. Entre maio e julho deste ano, a operação já contabilizou 3.368 ocorrências desta natureza.
“Nós contratamos antecipadamente, no início do ano, mais 150 brigadistas. Isso nos ajudou muito no combate aos incêndios florestais. A equipe da Secretaria do Meio Ambiente e Proteção Animal [Sema-DF] também realizou diversos incêndios controlados para evitar chamas de grandes proporções nas nossas unidades de conservação neste período de estiagem”, acrescentou o titular da Sema, Gutemberg Gomes.
As condições meteorológicas, incluindo ventos vindos do Sul que trazem fumaça dos incêndios e uma inversão térmica, têm dificultado a dispersão dos poluentes, como poeira, fumaça e fuligem. A exposição a esses níveis de poluição pode causar sintomas graves, como tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz e garganta, além de falta de ar e respiração ofegante. Esses efeitos podem ser ainda mais severos em crianças, idosos e pessoas com doenças cardíacas ou pulmonares.
O Brasília Ambiental recomenda que a população, especialmente do grupo mais vulnerável, evite atividades ao ar livre até que a qualidade do ar apresente melhora significativa.
Confira algumas recomendações do Ministério da Saúde para amenizar os impactos da seca:
– Aumentar a ingestão de água e líquidos ajuda a manter as membranas respiratórias úmidas e, assim, mais protegidas;
– Reduzir ao máximo o tempo de exposição, recomendando-se que se permaneça dentro de casa, em local ventilado, com ar-condicionado ou purificadores de ar;
– As portas e as janelas devem permanecer fechadas durante os horários com elevadas concentrações de partículas, para reduzir a penetração da poluição externa;
– Evitar atividades físicas em horários de elevadas concentrações de poluentes do ar, e entre as 12h e as 16h, quando as concentrações de ozônio são mais elevadas;
– Uso de máscaras do tipo “cirúrgica”, pano, lenços ou bandanas pode reduzir a exposição às partículas grossas, especialmente para populações que residem próximas à fonte de emissão (focos de queimadas); portanto, melhoram o desconforto das vias aéreas superiores. Enquanto o uso de máscaras de modelos respiradores tipo N95, PFF2 ou P100 são adequadas para reduzir a inalação de partículas finas por toda a população;
– Crianças menores de 5 anos, idosos maiores de 60 anos e gestantes devem redobrar a atenção para as recomendações descritas acima para a população em geral. Além disso, devem estar atentas a sintomas respiratórios ou outras ocorrências de saúde e buscar atendimento médico o mais rapidamente possível.
Pessoas com problemas cardíacos, respiratórios, imunológicos, entre outros, devem:
– Buscar atendimento médico para atualizar seu plano de tratamento;
– Manter medicamentos e itens prescritos pelo profissional médico disponíveis para o caso de crises agudas;
– Buscar atendimento médico na ocorrência de sintomas de crises;
– Avaliar a necessidade e segurança de sair temporariamente da área impactada pela sazonalidade das queimadas.
Agência Brasília