POR: RICARDO NORONHA**
Hoje me apresento como jornalista e paciente. Nada melhor que viver na prática o papel principal das nossas escritas. Não se assuste, pois, o pior já passou! Vou dividir esse texto em duas partes.
1ª Parte – O PACIENTE Ricardo Noronha
Em 24 de junho passado, uma quarta feira de sol, resolvi pedalar. Andar de bicicleta é uma prática comum de crianças, adolescentes, jovens, adultos e até os da melhor idade. Há muito eu não fazia isto. Depois de uma manhã tranquila, tomei café reforçado, fiz fisioterapia, almocei bem, dei uma “sacudida” no corpo e, de repente, num impulso tomei a decisão: vou pedalar aqui mesmo, na rua em frente a minha casa. Só esqueci que eu estava me recuperando de uma cirurgia de coluna – grave – ocorrida em 23 de setembro do ano passado. Foi uma cirurgia complicada, com mais de 8 horas de duração, que me deixou hospitalizado quase 30 dias. Depois que deixei o hospital, continuei o processo de recuperação, em casa. Previsão de ficar pelo menos 12 meses até a recuperação total. Um ano? Impossível! É muito tempo para quem está acostumado a trabalhar de domingo a domingo, pensei.
Pois eu resolvi ignorar esse “pequeno” detalhe. Peguei a bicicleta do meu neto e fui pedalar!
Bastaram apenas 150 metros, aproximadamente. Eram 14h45 do dia 24/06/2020. Perdi o equilíbrio, levei uma queda. Bati no meio fio, fraturei o quadril, atingindo também o fêmur do lado direito. Por impulso, e proteção divina, consegui segurar a cabeça para não chocar contra o asfalto. Uma dor infernal. Meus gritos de socorro chamaram a atenção dos vizinhos. Bicicleta por cima do meu corpo caído junto ao meio fio, gritos de dor e o apelo para a chegada do Samu. Foram 45 minutos de espera, no asfalto, sol escaldante. Fui socorrido e levado ao Hospital Santa Marta. Ainda me lembro da voz que ecoava em meus ouvidos: “sala de cirurgia, urgente”. Não! Eu não posso ser operado sem antes falar com o médico que cuida de mim! Encostaram-me num corredor e permitiram que eu falasse com o Dr. Jorge Vaz, hematologista que me acompanha desde 2012. Ele me recomendou, que se era cirurgia ortopédica, fosse transferido para o Hospital Santa Lúcia, aos cuidados de Dr. Fabrício Lenza e sua equipe.
Cheguei no Santa Lúcia por volta das 03h50 da madrugada de quinta. Toda a equipe médica escalada pelo Dr. Fabricio estava de prontidão.
Exames pré-operatórios realizados, veio a cirurgia… equipe chefiada pelo Dr. George Neri. Lembro-me dessa frase: “o senhor vai tomar anestesia raquiana e depois vai apagar”. Quando acordei, já na UTI, fiquei sabendo que a cirurgia transcorreu tudo bem, durou cerca de 3 horas e que eu estava com “10 pinos novinhos em folha” agregados ao meu quadril e coxa direita. Ah, havia a recomendação: mínimo 60 dias sem pôr o pé direito no chão.
Dali em diante passei por noites intermináveis! Cada noite parecia um ano e eu contava os minutos para amanhecer! Medicamentos às 18h, 22h, 24h, 02h, 06h, 10h, 12h, 14h, 16h… médicos, técnicos e enfermeiros eram constantes, verificando pressão, glicemia, pulsação e saturação. Laboratório colhendo sangue duas vezes por noite, geralmente às 20h e às 06 da manhã. Pesadelos durante as madrugadas. Por várias vezes tive que trocar de roupa por causa da suadeira. Deitado com a barriga para cima, as costas começaram a doer. “Contra dor, toma morfina”. Essa era a recomendação médica e o medicamento ficava a minha disposição. “Se sentir dor forte, chama a enfermeira e toma morfina na veia”. E assim foi feito durante várias noites mal dormidas. Da UTI C fui para a UTI B. Comecei a sentir uma dor sufocante, na parte detrás da cabeça, na altura do pescoço. Após exames de radiografias foi recomendado 5 sessões de radioterapia sob o comando do Dr. Ricardo e sua equipe de radioterapia. Foram 5 dias seguidos, desce e sobe elevadores, tudo dentro da mais perfeita organização. Ao todo 19 dias divididos em UTI C e B. Durante esses dias e madrugadas, pude conviver com uma equipe médica, técnicos e enfermeiros, nutricionistas, garçons, trabalhadores responsáveis pela limpeza, do mais alto nível profissional. Médico intensivista, Dr. Valter, médicas plantonistas Dra. Dilma e Dra. Silvana, toda equipe de cirurgia, capitaneada pelo Dr. Fabrício Lenza e sob os cuidados do Dr. George Neri, aos inúmeros profissionais nutricionistas, garçons, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, etc. Vou mencionar os nomes que marcaram meus dias de internação, embora corra o risco de esquecer algum (Denize, Deise, Jaanne, Hugo Henri, Ozael, Lindalva, Lorena, July, Rayssa, Elizete, Ana Cristina, Carla, Edenilson, Elton, Lukiani) enfim. Uma equipe de profissionais que está acima da média e que eleva o conceito de “alto nível” do Hospital Santa Lúcia.
Tratamento VIP. Alimentação de primeira qualidade – Hospital Santa Lúcia
Aos meus médicos e amigos Jorge Vaz, João Pitaluga, Dr. Ximenes e Fabrício Lenza, minha eterna gratidão. Aos novos amigos que conquistei nestes 20 dias de Santa Lúcia, o meu “MUITO OBRIGADO” por tudo. Àqueles que em momentos de dor eu tenha maltratado, peço perdão. O corre-corre dos profissionais dentro de uma UTI é muito mais que trabalho – é um ato de amor ao próximo. Eu pude ver isto de perto, in loco.
Minha maior gratidão a DEUS por mais uma chance de vida, permitindo que nesse momento difícil eu possa ter sido tão bem assistido e amparado por essa equipe maravilhosa do HOSPITAL SANTA LÚCIA. Eterna gratidão a DEUS pela minha família, comandada pela Dona Ritinha – meu anjo da guarda – sem palavras para agradecer. Aliás, palavras não são suficientes!
Estou em casa. Período de readaptação.
Cadeira de rodas, cadeira de banho, fisioterapia, tudo dentro das orientações médicas. 60 dias sem colocar o pé direito no chão? Quem me conhece sabe que isso parece praticamente impossível, mas é necessário. Quero ir para as ruas, gravar o SOS BRASÍLIA!
Parte 2 – O Jornalista Ricardo Noronha
Durante muitos anos no rádio e na televisão, ouvi várias frases: “Hospital de Base é referência nacional no atendimento e recuperação de doentes crônicos”. “O melhor hospital de Brasília é a ponte aérea BSB/SP”. No jornalismo a gente escuta de tudo, inclusive muitas bobagens. Cabe ao profissional consciente escrever a verdade.
HOJE, 24/7/2020, um mês após o acidente, estou usando este espaço na condição de jornalista e PACIENTE, às vezes IMPACIENTE, para declarar: BRASÍLIA TEM REDE HOSPITALAR PRIVADA que está muito acima da média nacional. Basta você conhecer os serviços prestados.
A rede pública voltou a ganhar destaque no Governo Ibaneis Rocha, com o Hospital de Base crescendo no conceito da população, o HRAN no atendimento a pandemia do Covid 19, e o Hospital da Criança, pioneiro no tratamento contra o câncer infantil. A construção de novos hospitais das redes pública e privada, coloca Brasília para sempre em “outro patamar”, bem acima da média nacional, e nos permite dizer que o melhor hospital deixou de ser a ponte aérea BSB/SÃO PAULO faz tempo.
Essa é uma história real que coloca em cena dois personagens vividos por uma só pessoa: EU.
**Ricardo Noronha, jornalista e paciente.