Conheça os desafios encontrados para abrir uma passagem subterrânea com quase 1 km de extensão no centro de uma grande cidade
A superação de imbróglios judiciais foi apenas o primeiro desafio enfrentado para transformar o Túnel Rei Pelé em realidade. Construir uma passagem subterrânea com quase 1 km de comprimento bem no centro de Taguatinga se apresentou ainda mais complexo do que tirar do papel um projeto de mais de uma década. Isso porque as limitações impostas por um cenário urbano já consolidado foram muitas.
Como fazer escavações de até 20 metros de profundidade sem afetar as edificações vizinhas? Como lidar com sistemas de drenagem e redes elétricas passando exatamente pelo local da obra? O que fazer para evitar desmoronamentos ao abrir uma passagem subterrânea em um terreno tão argiloso? A equipe de engenheiros responsável pela obra encontrou na tecnologia a resposta para essas perguntas.
“Lançamos mão de uma tecnologia diferenciada, que nunca foi vista em nenhuma outra obra do Distrito Federal”Luciano Carvalho, secretário de Obras
O Túnel Rei Pelé foi construído usando a inovadora técnica de escavação invertida. Ou seja, a passagem subterrânea só foi aberta depois que as paredes e o teto já estavam prontos. Foram 18 meses de trabalho e 65.000 m² de concreto para erguer essas estruturas que, segundo o subsecretário de Fiscalização e Acompanhamento de Obras, Ricardo Terenzi, contaram com a dedicação exclusiva de 350 trabalhadores.
“Eram armadores, equipe de concretagem, técnicos de escavação… Muitos profissionais se envolveram nesta que foi uma das fases mais importantes da construção”, detalha Terenzi. “As paredes vêm antes de tudo. Depois de prontas, lançamos a laje em cima para travar essas estruturas, e só então começamos a abrir o túnel.”
A construção dessas paredes, algumas com 20 m de profundidade, não usou uma perfuratriz convencional. “Lançamos mão de uma tecnologia diferenciada, que nunca foi vista em nenhuma outra obra do Distrito Federal”, destaca o secretário de Obras, Luciano Carvalho. O titular da pasta se refere ao clamshell. Além de escavar, o equipamento lança um polímero no solo que estabiliza o terreno e evita risco de desmoronamento.
Vistorias
Mesmo com toda a tecnologia garantindo uma escavação segura, a construção do Túnel Rei Pelé exigiu atenção especial com as edificações vizinhas. Vistorias cautelares foram realizadas para fazer um nivelamento topográfico de precisão nas paredes e pisos dos prédios. Assim, foi possível acompanhar se as estruturas se mantinham intactas ou se sofriam algum tipo de alteração física em consequência da obra.
“Fizemos, diariamente, uma minuciosa inspeção dos imóveis vistoriados”, comenta o engenheiro Terenzi. “Além de fornecer a exata descrição e localização de cada um deles em relação à obra, as visitas traziam uma completa averiguação das condições estruturais dessas edificações”, completa. Ao longo da construção do Túnel Rei Pelé, nenhuma anomalia foi detectada.
Interferências
A atenção dos engenheiros responsáveis pela construção do Túnel Rei Pelé não estava concentrada apenas na superfície, nos prédios vizinhos à obra. Por debaixo do solo, sistemas de drenagem, redes elétricas e cabos de internet também preocupavam a equipe técnica.
Uma das primeiras interferências encontradas, em maio de 2021, foi a presença de cabos de fibra ótica na área onde seriam construídas as paredes do túnel. Sob pena de deixar a região sem acesso à internet, o cabeamento precisou ser deslocado 40 metros.
“Depois, em junho do mesmo ano, precisamos remanejar uma rede de drenagem de águas pluviais que passava no local onde seria aberta a passagem subterrânea”, conta o engenheiro civil José Alfredo Aguiar. “As manilhas de escoamento foram transferidas e ficaram 800 metros distante do local de origem.”
Uma das últimas intervenções que a construção do túnel fez na paisagem de Taguatinga foi o deslocamento da rede elétrica que passava por cima da obra. O maquinário usado para construir as paredes da passagem subterrânea era muito alto e ficaria perigosamente próximo dos cabos de energia.
”Qualquer objeto metálico colocado a pelo menos três metros de distância de uma rede de média tensão sofre indução, fenômeno no qual a eletricidade passa para o metal”, alerta José Alfredo. “Para evitar acidentes, em fevereiro de 2022, fizemos com que o cabo de energia desse a volta por fora do canteiro, um deslocamento de 500 metros.”
Agência Brasília