A notícia e confirmação de que o Comandante Geral da PMDF, coronel Julian Pontes, e mais 4 oficiais que ocupam cargos de alto comando na Polícia Militar tomaram a vacina imunizatória contra o COVID-19 antes que os policiais de linha de frente que estão no combate da criminalidade do dia-a-dia a tomassem não soaram bem no seio da corporação.
Aproveitando que as vacinas denominadas “xepas” foram utilizadas com as mudanças das regras de vacinação e dado às forças de segurança a preferência para serem imunizados, os oficiais foram vacinados.
Nas redes sociais de policiais militares as críticas foram intensas, já que todos esses oficiais, apesar de estarem exercendo suas funções diariamente, não fazem parte do combate direto a que estão sujeitas as cerca de oito mil praças da corporação, oficiais subaltenos (tenentes) e intermediários (capitães).
“Não é justo que o comando dê um exemplo desses quando estamos perdendo diariamente policiais da ativa e da reserva para esse vírus maldito. Pergunto: “Quantos oficiais estão no combate direto a criminalidade?”, “Quantos oficiais tombaram em decorrência do coronavírus?”, “Em um combate se dá suporte para quem está no front ou se retira esse suporte em benefício próprio para beneficiar quem não está na linha de frente?”. Esse é o pior exemplo que um comandante pode repassar aos seus comandados”, dizia um policial em seu manifesto.
Segundo o Centro de Comunicação Social da PM, realmente os oficiais citados tomaram a vacina justificando que “outros policiais militares” também foram imunizados, seguindo a circular vigente da Saúde do DF, que passou a valer na última segunda-feira (29/3).
No entanto, a relação dos policiais de linha de frente que foram vacinados não foi disponibilizada pela comunicação social da PM, somente a dos oficiais, além do comandante geral, conforme abaixo:
- O subcomandante-geral, coronel Cláudio Fernando Condi, 47 anos;
- O chefe do Departamento Operacional (DOP), coronel Hemerson Rodrigues Silva, 48 anos;
- O chefe do Estado Maior, coronel Marcelo Helberth de Souza; 48 anos
- O subcomandante operacional do 2º Comando de Policiamento Regional, tenente-coronel Eduardo Condi, 48 anos.
Circular
A norma em vigor desde o dia 29/3 alterou as regras até então adotadas para a distribuição de xepas da vacina. Antes dessa data, valia o que estava previsto na Circular nº 9, também editada pela Secretaria de Saúde do DF. O documento estabelecia que as sobras dos imunizantes deveriam ser aplicadas de acordo com as seguintes prioridades: trabalhadores de saúde, idosos, pessoas com comorbidades, pessoas com deficiência, pessoas em situação de rua, funcionários do sistema de privação de liberdade, trabalhadores da Educação e, finalmente, integrantes das forças de Segurança. Ou seja, sete grupos tinham preferência na vacinação.
Com a mudança nas regras vigente desde o dia 29, essa dinâmica foi totalmente alterada. As sobras das vacinas foram integralmente destinadas às forças de Segurança. A Circular 67 apresenta como uma das justificativas para a decisão a transparência no uso das doses.
“Dar maior transparência no uso dessas doses, mitigar a pressões sofridas pelas equipes vacinadoras, reduzir as aglomerações que se formam na espera dessas doses, no momento do final das atividades vacinais, atender a recomendação do Ministério da Saúde de contemplar grupo prioritário e não desperdiçar doses”, diz o documento.
A Circular nº 67, editada e que começou a valer no dia 29, traz novas determinações em relação à utilização das vacinas remanescentes aos órgãos de segurança: “O uso das doses remanescentes de vacina contra Covid-19 nos profissionais das forças de Segurança Pública do Distrito Federal, que exercem atividades de rua, que prestam serviços essenciais de excelência neste momento de enfrentamento à Covid-19 com apoio nas fiscalizações diuturnamente no combate às aglomerações, nas distribuições e escoltas das vacinas, na segurança e manutenção da ordem nos postos de vacinas, na organização dos trânsitos dos drives, nos atendimentos pré-hospitalares, dentre outras ações, para aqueles que estejam em serviço, prestando apoio na segurança local nos minutos finais que antecedam o término das atividades de todos os postos de vacinas contra Covid-19, seguindo sempre a ordem de prioridade por idade desses profissionais”, diz.
No entendimento de alguns especialistas ouvidos pelo site, todos foram tácitos em afirmar que, de acordo com o texto da Circular 67, nenhum oficial exercendo cargos administrativos teriam a preferência no recebimento dessas doses.
Mais mortes de policiais
Ontem, segundo apurou o site, mais três policiais perderam a batalha contra o COVID-19, Sgt Renato, Cap Gilberto Batista e Sgt M. Rocha. No total, desde o início da pandemia, cerca de 40 policiais já perderam a vida. Muitos desses já estavam na reserva (aposentados), porém não significa que tenham deixado de ser policiais. O número exato dos “veteranos” mortos nunca foi disponibilizado pela corporação, mas com certeza a grande maioria teve complicações mórbidas já que fazem parte do grupo de risco. Segundo estatísticas já disponibilizadas nas redes sociais e na grande mídia, a média de vida dos policiais que deixam a corporação para se aposentarem chega aos 5 anos devido as complicações durante o próprio exercício da função.
Parlamentares são cobrados
Nas redes sociais a cobrança em cima dos parlamentares eleitos pelas corporações militares cresceu. Para os policiais, Roosevelt Vilela (Corpo de Bombeiros) e João Hermeto (Polícia Militar) tem a obrigação de se manifestarem sobre o que farão, doravante, em relação aos casos que estão acontecendo. “Não é justo que continuemos assistindo a tantas mortes de amigos da ativa e da reserva e aqueles que elegemos para nos representar fiquem silenciosos aos acontecimentos. Estão lá por nós e têm a obrigação e nos defender. Pela função que exercemos, de policiamento ostensivo, todos nós soldados, cabos, sargentos, suboficiais e oficiais menos graduados, como tenentes e capitães, merecemos a atenção devida das autoridades. Isso é uma questão de humanidade e respeito”, disse um policial revoltado nas redes sociais.
O que disse a polícia Militar em relação a vacinação do comandante e de outros oficiais, através de nota:
“A Polícia Militar informa que não só o comandante-geral, como outros policiais militares, desde a data de ontem [quarta-feira], respaldados na Circular 67 da Secretaria de Saúde, estão sendo vacinados com as doses remanescentes. Importante registrar que a vacinação ocorre após as 17h, com total observância dos critérios e normas inerentes à situação. Ademais, cabe registrar que, dentre os policiais militares que se vacinaram, o comandante-geral era um dos mais velhos. Por fim, registra-se que quaisquer dúvidas poderão ser sanadas junto à Subsecretária de Atenção Integral à Saúde da Secretaria de Saúde.”