O G1 conversou com Bituca sobre a decisão de deixar os palcos, o Clube da Esquina e seu grande amor
Esta sexta-feira (9) é um dia histórico em Salvador. Caçador de si, Milton Nascimento se despede dos palcos e faz o último show na capital baiana, aos 79 anos – 60 deles dedicados à carreira. Para Bituca, apelido do poeta-cantador, a música vai falar por si só nesta noite, na Concha Acústica.
O anúncio da turnê “A Última Sessão de Música”, pode até ter chocado os mais desatentos, mas Milton já estava desacelerando as apresentações, na busca de um ritmo mais tranquilo de vida. Em entrevista ao g1, ele contou que a decisão de despedida dos palcos foi indolor e tomada em família.
“Foi uma coisa muito natural. Isso é algo que meu filho e eu temos pensado já tem um tempo. E acho que agora foi a hora certa disso acontecer. Essa turnê de despedida foi algo muito bem planejado entre a gente”.
Milton Nascimento apresenta sua turnê de despedida na Capital. — Foto: Foto: Marcos Hermes/Divulgação
“O fechamento de um ciclo muito importante na minha vida. Encerrar essa turnê ao lado do meu filho, dos meus amigos, e tendo esse contato tão bonito com o público como tem sido nesses primeiros shows”.
Com a Última Sessão, Bituca já se apresentou na Itália, no Reino Unido e em Portugal. Em solo brasileiro, o carioca mais mineiro de todos já passou com seu repertório pelo Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre.
Repertório esse, recheado de Brasil. A memória e identidade de um ancestral vivo tornam Milton um griô, transmitindo seus saberes por meio das palavras. Mais de 40 álbuns gravados e, ao g1, ele negou que haja a possibilidade de escolher uma música preferida.
“É algo impossível, principalmente por conta de tantas músicas e tantos parceiros que eu tive ao longo da minha vida. Seria muito difícil, e até injusto escolher apenas uma música entre quase 400 gravadas nesses 60 anos de carreira”.
Depois da palavra do próprio artista, é até blasfêmia nominar o maior álbum dele, mas também é pecado não mencionar Clube da Esquina como uma das obras mais importantes da Música Popular Brasileira.
“Esse foi um disco todo produzido entre grandes amigos. E acho que isso interferiu diretamente no resultado. Tanto que até hoje as pessoas têm uma relação especial com esse disco. O Clube da Esquina tem uma importância muito grande na minha vida”.
Importância também teve – e tem – outro grande ícone da música brasileira: Elis Regina. A Pimentinha deu voz a grandes composições de Bituca, como Canção do Sal, Cais e Nada Será Como Antes.
“Desde que conheci Elis Regina, – no começo dos anos 1960, na casa da cantora Luiza, no Rio de Janeiro – e depois em 1966, quando Gil me levou na casa dela em São Paulo para eu mostrar algumas músicas, nós nunca mais nos separamos. E até hoje tudo que eu faço é pensando nela, Elis, o grande amor da minha vida”.
Os amores e as amizades não morrem, assim como os sonhos – que não envelhecem, como canta o próprio Milton. E para que não reste dúvidas sobre Milton continuar fazendo arte, ele vai seguir compondo:
“Me despeço dos palcos, da música jamais”.
Fonte G1