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Heróis em meio ao caos: conheça os PMs promovidos por enfrentar golpistas

Policiais militares que atuaram nos atos golpistas de 8 de janeiro contam sobre os episódios de agressão e o trabalho para restabelecer a ordem. Dois deles foram reconhecidos por ato de bravura

8 de janeiro marcou a vida de Brasília e do país em um dos episódios mais dramáticos para a democracia. Extremistas se concentraram na Esplanada dos Ministérios e invadiram o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto. O cenário foi caótico. As sedes dos Três Poderes foram depredadas. Em meio à escalada da violência dos atos de vandalismo, parte da Polícia Militar do DF foi acusada de se omitir. Muitos militares estão sendo investigados sob suspeita de omissão e inoperância. Mas, nesse caos, houve atos de heroísmo para reposicionar a ordem e conter os golpistas. Como forma de reconhecimento, mais de 40 PMs passam por uma análise para promoção por ato de bravura na atuação em 8 de janeiro. Dois deles foram promovidos de patente e homenageados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF).

Correio entrevistou dois policiais reconhecidos por ato de bravura, que atuaram na linha de frente no combate aos extremistas. Juntos, o subtenente Beroldo Júnior, que, em 8 de janeiro era sargento, e a cabo Marcela Morais, que era soldado, integram o Batalhão de Choque da PMDF. Como em qualquer outro dia de serviço, os dois, junto a pelo menos outros 18 militares, começaram o expediente cedo, às 7h. Houve treinamento esportivo e, quatro horas depois, as equipes se preparavam para patrulhar na rua. Antes de deixar o quartel, fizeram uma oração.

A manifestação estava prevista e, como em qualquer outro evento coletivo, a PMDF designou policiais no reforço à segurança. Não demorou muito para a equipe do subtenente Júnior perceber que o clima em meio ao protesto estava diferente e acirrado. Por volta das 14h, a determinação do comandante do batalhão era de que todos os policiais deveriam estar posicionados na Esplanada dos Ministérios. De maneira veloz, uma multidão invadiu e cercou o gramado em frente ao Palácio do Planalto. “Eles acessaram o espelho d’água. Uma parte foi por debaixo da rampa e outra pela via N1. Subimos pela cúpula para fazer eles voltarem ao gramado e evitar a invasão no Palácio do Planalto. Em 27 anos de polícia, eu nunca tinha visto uma ação tão agressiva”, relata o PM.

Violentos, os extremistas estavam em posse de rojões, barras de ferro e fogos de artifício. Os policiais do Batalhão de Choque foram encurralados. Cinco deles acabaram empurrados de uma altura de três metros. Era apenas o começo da selvageria. “Quando estávamos na cúpula, fomos agredidos e empurrados. Nessa queda, a ideia era reposicionar. Não tinha como fazer diferente. Era recuperar o controle da situação”, afirmou a cabo Marcela.

Agressão

Marcela foi uma das policiais empurradas pelos golpistas. Ao tentar retornar pela via N1 para se reposicionar junto à equipe, a cabo foi brutalmente interpelada pelos vândalos e agredida. Caída no chão, foi covardemente cercada e chutada. A militar usava um capacete balístico específico do Batalhão de Choque. O equipamento ficou inutilizável com as pancadas desferidas com uma barra de ferro. “Eles tentavam a todo custo tirar o capacete da minha cabeça com força para me espancar e finalizar (matar) ali mesmo. Eles também tentaram pegar minha arma por várias vezes. Me vi entre a vida e a morte”, relembra.

O subtenente Júnior foi o responsável por resgatar Marcela das mãos dos criminosos. Com um lançador nas mãos, o policial saiu em meio à multidão para buscar a colega de farda. “Nisso, me deram uma pancada com barra de ferro na cabeça. Eu vi minha visão se apagar e voltei rapidamente. Eles (golpistas) arrancaram meus carregadores e a máscara antigases. Senti a morte. Fui salvo por dois PMs, que hoje chamo de irmãos. Assumimos a linha novamente. Ali, tinha que lutar, mesmo ferido. Mantivemos o controle e nos posicionamos”, conta.

O policial afirma que a PM não recuou e nem deixou os manifestantes invadirem as sedes dos Poderes sem oferecer resistência. A tática foi a ensinada nos quartéis e nos cursos, como forma de segurança, tanto dos profissionais, quanto dos manifestantes. Júnior explica que, no caso do Batalhão de Choque, em específico, devido às substâncias utilizadas (granadas e munições de menor potencial ofensivo) era necessário estar mais longe do coletivo, pois qualquer erro no uso desses equipamentos poderia causar acidentes e até mortes.

União

Mesmo machucados, o lema era não desistir. Dos 20 policiais do Choque integrantes de uma das equipes, 12 se machucaram. “Eu estava com o ferimento na cabeça devido à pancada. No momento em que o bombeiro veio me atender, ele segurou nos meus braços e disse que queria me levar ao hospital. Ele disse que tinha um lapso de tempo de seis horas. Depois disso, eu não poderia levar pontos. Eu disse que só sairia quando a ordem estivesse restabelecida”, relata o subtenente, que teve a cabeça enfaixada no local e só foi ao hospital após o término do confronto.

Para os dois colegas de equipe, o sentimento é de dever cumprido. “É uma lição clara de que Deus esteve conosco. Se Deus não estiver, é impossível não vencer a batalha. Era difícil eu sentir medo, mas naquele dia, eu senti que iria morrer”, desabafa o subtenente. “Nossa missão não seria cumprida sem Deus. Além Dele, há a certeza de um companheiro (policial) que a gente sabe que não vai te deixar para trás”, complementa a cabo Marcela.

Segurança

Em entrevista ao Correio, o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, falou sobre a atuação da PM nos atos de 8 de janeiro e a promoção dos PMs por ato de bravura. “A nossa PMDF é diferente de todas as polícias militares do país. Isso porque em todo tipo de manifestação da esfera nacional, os manifestantes se concentram onde? No DF. Então, a PM é quem precisa cuidar desses eventos. Eu digo que a PMDF é do Brasil”, enfatizou.

Na fala, o chefe da pasta destacou o trabalho das tropas. “Em 2013, por exemplo, quando Brasília recebeu inúmeros manifestantes, a PMDF atuou com serenidade e responsabilidade. No 8 de janeiro, não foi diferente. Não teve sequer um tiro disparado pelos policiais ou uma pessoa ferida. A questão do planejamento é outra discussão, mas não se deve questionar que os policiais que estiveram lá (nos atos) deram o melhor para evitar que o pior acontecesse”, disse.

Bilmar Angelis, chefe do Estado Maior da PMDF, afirmou que estão sendo analisadas outras mais de 40 promoções por ato de bravura pela atuação no 8 de janeiro. Questionado sobre possíveis mudanças na organização e na comunicação da corporação após a manifestação, o coronel falou sobre a criação do Batalhão dos Poderes, que, atualmente, conta com 500 PMs responsáveis pelo policiamento na Esplanada dos Ministérios e na área central de Brasília.

Outra medida é uma portaria da SSP que estabelece que organizadores de protestos avisem, pelo menos cinco dias antes, sobre o tipo de manifestação, o objetivo e número estimado de presentes. “Estamos revendo procedimentos internos de emprego da força em grandes eventos, além das matrizes curriculares de todos os cursos e as aquisições nacionais e internacionais para a tropa”, finalizou.

CB

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