Muitas pessoas ainda seguem influencers que fazem o mesmo jogo sujo que Felipe Neto, mas são perdoados porque dizem o que elas querem ouvir
Precisamos parar de levar a sério influencers cínicos e violentos que só dizem o que queremos ouvir por puro oportunismo. Felipe Neto é talvez um dos maiores exemplos disso. Ele construiu sua imagem e sua fortuna falando exatamente o que o público quer ouvir, acumulando dinheiro, prestígio e poder com essa estratégia. Ele também se especializou em usar a retórica do ódio e, depois, se vitimizar. Agora, está até lançando um livro sobre como combater o ódio, o que chega a ser irônico, vindo de quem abertamente admitiu usar o ódio como ferramenta. Se você assistiu ao stand-up dele na Netflix, sabe que ele mesmo confessa o uso do ódio como estratégia.
Agora, ele aparece “arrependido” por ter promovido casas de aposta, tentando fingir que o problema todo gira em torno disso. Mas não se engane: o buraco é muito mais embaixo. A questão não é simplesmente a propaganda de jogos, algo que, inclusive, algumas pessoas apoiam em debates sobre a legalização dos cassinos no Brasil. O problema real é outro.
Ele, Neymar e outros influencers foram intimados pela Justiça do Rio de Janeiro num processo de um usuário da Blaze que perdeu todas suas economias, 62 mil reais.
Arrependido?
Felipe Neto está tentando redirecionar a discussão. Justo quando é intimado num processo, se diz arrependido de ter anunciado bets. Assim, dá a impressão de que a questão judicial é sobre a moralidade dos jogos de azar. Mas o verdadeiro problema sempre foi a forma como ele promoveu uma plataforma específica, a Blaze. Ele falava de cassino online como se fosse um investimento. Ele usava a palavra “investimento” em um país onde a educação financeira é precária e onde milhões de pessoas são analfabetas funcionais. Em suas lives, ele mostrava como colocava 100 reais e, de repente, tinha mais de 1.200 reais, levando muitos a acreditarem que estavam diante de uma oportunidade financeira.
É óbvio que algumas pessoas sabiam que era um jogo, mas há muitos que foram enganados pela falsa promessa de multiplicar o dinheiro. E, para piorar, não havia clareza sobre as condições de saque. Para sacar qualquer valor, o usuário precisava ganhar o dobro do que investiu, mas isso só era informado depois que o dinheiro já estava preso na plataforma. Mesmo quando alguém conseguia atingir o valor exigido, enfrentava uma burocracia imensa, com exigências de documentos, falta de respostas e, em muitos casos, falhas na plataforma que impediam o saque.
Desviando o foco
Felipe Neto quer agora transformar essa questão em um debate moral sobre a legalidade do jogo no Brasil, para desviar o foco do que realmente importa. É um movimento calculado, típico de quem sabe manipular a narrativa a seu favor. E isso é algo que vemos constantemente na mídia: figuras que, por venderem livros ou atraírem milhões de cliques, são levadas a sério, mesmo quando sua “desculpa” é rasa e insincera.
Talvez a sociedade esteja começando a mudar, talvez estejamos ficando mais atentos. Mas o fato é que muitas pessoas ainda seguem influencers que fazem o mesmo jogo sujo que Felipe Neto, mas são perdoados porque dizem o que elas querem ouvir. E aqui vai minha pergunta: quantos influencers você segue que agem exatamente como ele? Quantos deles você perdoa porque eles te fornecem as frases e os argumentos que você quer usar contra aquilo que você abomina no mundo?
Vale a pena continuar ouvindo essas pessoas?
Com informações O Antagonista