Apenas no primeiro semestre deste ano, o órgão registrou 456 autuações provocadas por motoristas que promovem manobras e corridas ilegais
O ponto de encontro é manjado: estacionamento do Shopping Popular, onde funciona um posto do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF). O horário da zombaria, em plena madrugada, permanece despistando a previsão das autoridades. As pistas vazias e o isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus é um convite aos rachas e pegas promovidos por um grupo de jovens.
Todos os dias, de acordo com dados do órgão de trânsito, uma média de três condutores são autuados por infrações relacionadas às corridas ilegais nas ruas do Distrito Federal. Nos primeiros cinco meses deste ano, 456 pessoas foram flagradas pela fiscalização e sofreram sanções por transformarem as vias largas da capital da República em pistas de corrida. No mesmo período de 2019, os casos registrados chegaram a impressionantes 570 autuações.
As ocorrências policiais das últimas semanas – um racha que deixou uma BMW completamente destruída no Pistão Norte, em Taguatinga, e um pega no Noroeste, onde um rapaz de 22 anos ficou gravemente ferido – ligaram o sinal de alerta do Detran, que apertou a fiscalização e mapeou os principais pontos nos quais donos de carros envenenados se encontram para as disputas em alta velocidade.
Pelo menos cinco locais foram identificados pela inteligência do órgão como redutos dos chamados “racheiros”.
Confira imagens:
Corrida no Monumental
Na última semana, o Metrópoles varou a madrugada acompanhando o movimento em um dos points mais tradicionais do DF para reunião de pilotos clandestinos. Ao lado de um quartel militar e a 4 km do Palácio do Buriti, os jovens desafiavam a lei. Grupos de três ou quatro motoristas participam dos rachas.
Tendo como ponto de partida a pista Parque Ferroviário de Brasília (PFB), os carros chegam a fazer 160 km/h em uma rua de apenas 260 metros de extensão. É só o esquenta para eles acelerarem a 200 km/h em pleno Eixo Monumental.
Depois de consumir bebidas alcoólicas e fumar narguilé, os corredores davam cavalos de pau e aceleravam até as proximidades da igreja Rainha da Paz, na entrada do Sudoeste. Perfilados, dois VW Jetta e um VW Up se preparavam para correr quando perceberam a presença da reportagem.
Os motoristas pararam os veículos no acostamento, desembarcaram e chegaram a afrontar a equipe. Um dos condutores fez uma manobra brusca e deixou o local em disparada.
De acordo com o diretor de Policiamento e Fiscalização de Trânsito do Detran, Lúcio Lahm, além da antiga rodoferroviária, a área de inteligência do órgão identificou as vias W7 e W9, no Noroeste, também são palcos dessas corridas clandestinas.
Por ser um local ainda pouco habitado e não ter semáforos e quebra-molas, essas estradas são alvo de rachas. Existe um risco grande no local, pois as vias possuem grandes desníveis e podem provocar acidente graves, como o que ocorreu no caso do jovem de 22 anos – LÚCIO LAHM, DIRETOR DE POLICIAMENTO E FISCALIZAÇÃO DE TRÂNSITO DO DETRAN-DF
Veja os flagrantes feitos pela equipe do Metrópoles:
Outros pontos
O Detran também identificou como um dos locais de encontros para os participantes de rachas o estacionamento do Deck Sul, no Setor de Clubes Sul; além de áreas ao longo da principal via do Setor Lúcio Costa. “Ainda temos pontos itinerantes, como postos de gasolina nas asas Sul e Norte e as redondezes do Setor H Norte, em Taguatinga”, explicou Lúcio Lahm.
Foi justamente nessa região administrativa que uma BMW série M2 Turbo, que custa aproximadamente R$ 370 mil, ficou completamente destruída após um racha no Pistão Norte, em 27 de maio. Imagens registradas por vários ângulos mostram o esportivo de luxo se preparando para largar ao lado de uma moto. Em seguida, o motorista perde o controle, roda na pista e derruba um poste. O caso é apurado pela 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte).
Já em 5 de julho, o ex-subsecretário de convênios e parcerias da Secretaria de Esportes do DF, Wesley Wenisgton Vieira dos Santos, foi preso em flagrante após participar de um racha, no Noroeste. Exonerado pelo GDF, Wesley estava em uma Mercedes-Benz e disputava corrida com o motorista de um Audi, que perdeu o controle e acabou gravemente ferido.
Pedro Luca Lima Gabriel, 22 anos, foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) e levado inconsciente para o Hospital de Base. O morador de Águas sofreu fratura exposta no tornozelo esquerdo, fratura na costela direita, pneumotórax e corte na cabeça. O carro era alugado.
Infração gravíssima
Atualmente, o Código Brasileiro de Trânsito (CTB) fixa a pena pelo crime de participação em racha em um período de 6 meses a 3 anos de detenção. E poderá resultar em reclusão, no caso de a prática gerar lesão corporal grave ou morte.
A pena é de 3 a 6 anos de reclusão no caso de lesão corporal e de 5 a 10 anos se resultar em morte. Pelo texto, a condenação independe da comprovação de que o motorista quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
A norma também aumenta em 10 vezes as multas aplicáveis aos motoristas envolvidos em racha, competições não autorizadas e demonstrações de manobras arriscadas. Se houver reincidência no prazo de 12 meses, a nova autuação será aplicada em dobro.
Fonte: Metropoles.com