André Costa, da Secom: “Marca do governo deve ser sempre preservada”

Fernando Braga/Metrópoles

Em entrevista ao Metrópoles, o secretário fala sobre os eixos prioritários da comunicação do governo e do desafio de gerir a pasta

Há pouco menos de dois meses no cargo de Secretário Especial de Comunicação Social (Secom), o coronel André de Sousa Costa sabe que tem um enorme desafio pela frente. Responsável por gerir uma verba milionária em contratos publicitários, ele está à frente da pasta encarregada por definir as melhores estratégias para veiculação de publicidade e de serviços de utilidade pública realizados pelo governo federal, além de planejar toda a atuação do Executivo nas mídias digitais.

Costa ocupa o mesmo cargo deixado pelo empresário Fabio Wajngarten, exonerado pelo presidente Bolsonaro em março deste ano. Até a nomeação, a Secom estava sendo comandada interinamente pelo almirante Flávio Rocha, que acumulava o cargo com o de secretário para Assuntos Estratégicos da Presidência (SAE).

O militar é especializado em gestão de comunicação e serviu durante um ano no Timor Leste. Também coordenou o setor na Secretaria-Geral da Presidência na época em que o ministro do TCU Jorge Oliveira era o titular da pasta. Atualmente ocupava o cargo de assessor especial do presidente Jair Bolsonaro.

Em entrevista ao Metrópoles, o secretário fala sobre os desafios no comando da secretaria especial, do processo licitatório que será aberto para a escolha da próxima agência que irá atender a conta do governo federal, brand safety, relação com influenciadores digitais, entre outros temas.

O senhor está há menos de dois meses no cargo, ainda está tomando as rédeas da situação. Essa não é a primeira experiência do senhor com comunicação, certo?

Tenho experiência de comunicação até no pós-guerra! Foi na missão de paz no Timor Leste [2004 e 2005], onde uma das minhas atribuições como police adviser [conselheiro para questões de segurança que também realiza atividades de supervisão e de fiscalização], em uma terceira ou quarta fase de uma missão de paz, era conciliar o trabalho da polícia do local e ajudá-la a se restabelecer de forma administrativa e operacional. Tivemos que restabelecer a confiabilidade da população naquela nova polícia que surgia utilizando estratégias de comunicação que tinham como objetivo aumentar a credibilidade. Essa foi uma experiência muito importante.

Antes disso, logo depois que me formei na academia, fiz estágio na área de comunicação social da polícia. Durante muito tempo, atuei em contato com a imprensa, repassando as ocorrências desde o centro de operações. Posteriormente, fui para o Estado Maior e assumi a comunicação durante breve período, em que acabei sendo uma espécie de conselheiro e pude transmitir um pouco de minha expertise em áreas como propaganda, neurolinguística, psicologia – já que comunicação tem muito de psicologia envolvida.

Como o senhor enxerga o papel da Secom para o governo comunicar campanhas e informações de utilidade pública à população em um país continental como o Brasil?

É um desafio muito grande. Na semana passada, estivemos, ao lado do presidente da República, em São Miguel da Cachoeira, no Amazonas [localizada na fronteira da Venezuela e da Colômbia e que abriga uma população indígena com 23 etnias do rio Negro]. Pudemos ver que ainda há muito o que se levar em termos de desenvolvimento para aquele local. Os indígenas pedem por internet. Eles querem se inserir e estar informados. Para essas comunidades, nós temos que utilizar todos os meios que são possíveis, como rádio e internet. Inclusive, ele [o presidente] já determinou que o ministro das Comunicações, Fábio Faria, se empenhe em levar o Wi-Fi Brasil [programa do governo, parceria com a Telebras, que já instalou 13,2 mil pontos de internet via satélite banda larga e de alta velocidade em regiões remotas do país] para essas áreas. Por isso, é necessário conhecer os fatos, a verdade, e não somente as narrativas sobre os fatos.

O papel da comunicação é importante para levar ao país essa realidade. O presidente faz muito bom uso das redes sociais. A TV Brasil tem apoiado bastante, veiculando reportagens sobre o que ocorre nesses locais. Buscamos que haja essa colaboração para que, de fato, o povo conheça essas realidades e possa tirar as próprias conclusões.

Como pretende realizar a condução da Secom a partir de agora? Qual o propósito que deseja imprimir para a comunicação do governo federal?

Ainda não tenho dois meses [no cargo]. Costumo dizer que estou trocando os pneus de uma carreta a 180 km/h. Porém, já deu para perceber que, com a transição da Secom do ambiente palaciano para o Ministério das Comunicações, existem processos que precisam ser readequados para que a engrenagem funcione de maneira azeitada. Por isso, estamos analisando toda a estrutura, fazendo algumas trocas para dar continuidade à essa missão institucional da Secom. A atividade da comunicação pública é bem regulamentada, então, o espaço de ação é muito delimitado mesmo. São as chamadas “quatro linhas” que o presidente cita. Então, dentro dessas quatro linhas vamos procurar incrementar a capacidade de fazer chegar ao povo as realizações do governo e daquilo que está acontecendo de fato no Brasil, as políticas públicas adotadas, campanhas de utilidade pública.

É importante que as pessoas entendam que a Secom não realiza toda a publicidade do governo. Cada ministério tem autonomia. Por exemplo, na questão da saúde, quem capitaneia essas campanhas e tem papel primordial é o Ministério da Saúde. A Secom entra com o papel complementar de fazer a coordenação entre os outros integrantes do Sistema de Comunicação de Governo do Poder Executivo Federal (Sicom) para que haja efetividade maior da campanha.

As plataformas digitais, cada vez mais populares entre os cidadãos e importantes para governos, instituições e empresas, continuarão sendo estratégicas dentro da comunicação do governo?

Não temos como fugir das plataformas digitais. As redes sociais são uma realidade. A comunicação pública não pode se furtar de interagir com o público naqueles meios em que as pessoas estão.

Se temos uma geração que está muito mais conectada, quase a integralidade do tempo ligada às novas tecnologias, às novas plataformas e nas redes sociais, temos que nos comunicar nesse meio. Esse público merece e precisa saber o que está acontecendo no país.

Na sua opinião, qual o principal desafio da Secom no momento?

Acredito que o governo tem muitas obras e realizações que a população, em geral, não tem conhecimento. Então, a ideia é facilitar, ao máximo, esse acesso, popularizar os canais oficiais – e isso é um desafio enorme – e fazer com que a informação chegue o mais longe possível. Talvez, esse seja o maior desafio de todos, já que as pessoas precisam de informação, mas, muitas vezes, os meios de comunicação não chegam até elas.

Precisamos descobrir como alcançar essas comunidades mais afastadas e comunicar através de diferentes veículos. Não adianta olharmos para nossa realidade aqui de Brasília e achar que é a mesma para todo o país.

Quais os eixos do governo que deverão ser priorizados pela publicidade da Secom?

No momento, não há que se falar em priorização maior do que a Saúde. Porém, a ideia é traçar uma transversalidade sobre esse tema. Por exemplo, como as obras de infraestrutura favorecem também a questão da saúde, do transporte, das vacinas, insumos e equipamentos médicos que precisam chegar [aos estados e municípios]? Como o Ministério da Justiça pode atuar nesse assunto? Mesmo que haja uma temática central, conseguimos vincular com outras realizações e com as campanhas de utilidade pública de outros órgãos.

No entanto, não podemos esquecer de como o assunto saúde impacta em questões como segurança, economia e direitos humanos? Então, eu não vejo como separar as ações do governo. O governo age de uma forma integrada e sistêmica, e a maioria dos assuntos são transversais.

No ano passado, foi aberta uma licitação no valor de R$ 270 milhões para contratação de agência que iria atender a Secom. Logo depois essa concorrência foi suspensa, com o objetivo de revisar alguns pontos do edital. Há previsão para nova abertura?

O processo licitatório está em andamento. O cuidado que a gente tem é muito grande. Existem várias fases envolvidas antes de se lançar um edital, por isso, há um cuidado muito grande em se garantir transparência e o cumprimento de todas as normas. Como havia dito, esse setor é muito regulamentado – e é bom que seja para garantir que o dinheiro público seja bem empregado. Quando cheguei, o processo já estava em andamento e pedi para dar uma olhada e tomar pé da situação. Está bem adiantado. As observações feitas pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pelo departamento jurídico foram consideradas e creio que teremos um edital bastante justo e transparente, com a lisura em todos os processos.

Como a Secom pretende lidar com o tema brand safety, prática que visa garantir segurança e proteção da marca anunciante, ou seja, do governo federal, em diferentes contextos?

A gente já vem lidando com esse tema há algum tempo. Hoje, quando falamos de plataformas digitais, vemos que existe um cuidado oferecido pela própria plataforma (Facebook, Google, etc.). A ideia é que não se permita que haja anúncios em sites que coloquem em risco a marca do governo.

Mas isso passa por uma definição bem clara de que critério é esse, né? Existem casos que são cometidos erros graves por parte de quem faz essa análise. Então, é um cuidado que também temos de tomar. A ideia é que isso não aconteça. E, acontecendo, mitigar, para que não ocorra novamente.

O governo federal tem uma marca que deve ser preservada, pois pertence ao povo brasileiro. Então, a intenção é aprimorar sempre para que possamos cumprir os preceitos do setor.

Como será a relação com influenciadores digitais?

Esse é um assunto que ainda precisa ser melhor definido, em termos de utilização por parte de qualquer setor do governo. O que é um influenciador digital? Poderia ser o locutor de rádio? Não tenha dúvida de que eles são “influenciadores”, ou seja, têm a capacidade de pegar e levar uma comunicação. Quando bem dirigida, isso, certamente, favorece, pois atinge um público segmentado. Então, é um grupo que deve ser observado e trabalhado, mas precisamos ter muito cuidado para que não haja exageros de nenhum dos lados.

Fonte: Metropoles

Artigo anteriorQueiroga: Copa América no Brasil não traz risco adicional de covid-19
Próximo artigoRebelião de Filippelli no MDB mira vaga na Câmara dos Deputados