Não sei mais como chamar a imprensa que desistiu de ser imprensa… Velha imprensa? Não, a Gazeta do Povo tem 106 anos e não pode ser incluída nesse grupo. Nova velha imprensa? Talvez… É a imprensa tradicional passando a se comportar como militante político, como cabo eleitoral, por questões ideológicas ou financeiras, ou as duas, mas ainda é pouco… O que grande parte dos jornalistas tem feito talvez seja mesmo inominável. É comportamento destruidor, aterrorizante, um movimento bárbaro que precisa perder força, ou o Brasil caminhará de vez para o fim dos tempos.
Aqueles que deveriam ter olhos atentos para todos os lados, que deveriam desconfiar (no bom sentido) de tudo e de todos, que não poderiam abrir mão da curiosidade, das perguntas, que deveriam trabalhar com fatos, com o mundo real, buscando a verdade, doa a quem doer, desistiram de tudo isso. Ainda assim, acham que podem continuar tratando a si próprios como jornalistas. Não podem. Já não contam mais histórias reais e em movimento. Estão enredados em narrativas, e a conclusão é fechada, é deles. Estão abraçados a mentiras impossíveis de esconder e disfarçar, com o advento das mídias digitais e do verdadeiro jornalismo independente.
Podem pulular suas bobagens: “Lula restabeleceu a democracia”; “Alexandre de Moraes é a muralha que defende a Constituição”… Não tem como. Lula foi condenado em três instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro. Foi liberado em artimanhas dos amigos no Supremo. Moraes rasgou, interpretou como quis e até inventou leis, implementando uma tirania escarrada como se fosse a salvação da democracia. Uma imprensa de verdade teria a obrigação de desmascarar esses dois, e Luís Roberto Barroso, e Dias Toffoli, e Flávio Dino, e Edson Fachin… Eles nem disfarçam. Só há um grupo perseguido, só há um grupo preso, exilado, sem redes sociais, sem passaporte, com contas bancárias bloqueadas no Brasil.
“O que grande parte dos jornalistas tem feito é destruidor, aterrorizante, um movimento bárbaro que precisa perder força, ou o Brasil caminhará de vez para o fim dos tempos”
Agora, personagens abjetos e seus jornalistas de estimação – a extrema esquerda radical, cheia de ódio, totalitária, intolerante, mentirosa, protetora de bandidos e terroristas – têm adversários mais fortes. São os homens mais poderosos do país mais poderoso do mundo… A nova velha imprensa até já deixou o deboche, as risadinhas, as gargalhadas e está rebolando para fingir que a aliança que ainda mantém com o STF e o PT representa o bem, e vencerá. Claro, vale inventar qualquer história, como se fosse possível moldar uma “verdade”, ao bel-prazer dos “jornalistas”.
Daniela Lima, da Globo News e do G1, é especialista nisso. Ela tentou transformar uma decisão da Justiça americana claramente contra Alexandre de Moraes em uma vitória do ministro do STF… Distorceu fatos e omitiu pontos cruciais para manter seu discurso de que “só a censura salva”. Nessa defesa de um ministro autoritário, Daniela encobre abusos de Moraes e manipula informações em comentários tendenciosos e propagandísticos. A “agência checadora” Aos Fatos até deu uma forcinha para a moça, que tinha afirmado que as leis brasileiras obrigam as plataformas digitais a ter um representante legal no Brasil. O Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados não tratam especificamente disso, mesmo que o Supremo queira dizer que sim e imponha o fim do debate.
O embate de agora não é apenas sobre a Rumble ou a Trump Media contra Alexandre de Moraes. A ideia é mostrar que juízes estrangeiros, impunes em seus países, não vão atacar a liberdade de expressão nos Estados Unidos, a liberdade de americanos ou de estrangeiros residentes no país garantida pela Constituição americana. Se a lei máxima do Brasil não é respeitada por quem deveria protegê-la, e a nova velha imprensa acha que isso é positivo, ainda existem países sérios…
A turma da Daniela insiste que a campanha autoritária de Moraes é fundamental para salvar a democracia e é restrita ao Brasil. A nova velha imprensa jura que as sandices do ministro do Supremo nunca foram estendidas para além das nossas fronteiras… Não? E por que há contas do jornalista Allan dos Santos bloqueadas no mundo todo, inclusive nos Estados Unidos? E por que, em julho de 2020, o jornal O Globo publicou o seguinte: “Alexandre de Moraes determina bloqueio de perfis bolsonaristas no Twitter a nível internacional”? Por que, na mesma época, foi manchete do Correio Braziliense: “Moraes determina bloqueio global de contas de bolsonaristas no Twitter”? E a CNN estampou em seu portal: “Facebook cumpre ordem de Moraes e faz bloqueio global de contas de bolsonaristas”?
Não é fácil mesmo manter uma mentira. Alexandre de Moraes está todo errado, no conteúdo e na forma, e a nova velha imprensa que se vire para defendê-lo. Suas decisões são ilegais e não obedecem às formalidades necessárias. E quem é obrigado a cumprir ordem ilegal e com vícios formais na citação, na intimação? Ninguém. Em lugar nenhum do mundo. Muito menos nos Estados Unidos. Foi isso que a juíza que analisou o pedido de liminar da Rumble e do grupo de media do Trump deixou claro. E vem o “repaginado” Reinaldo Azevedo, no UOL, assinar artigo cujo título é: “Brasil ensina liberdade de expressão aos Estados Unidos, mergulhados no obscurantismo”.
A nova velha imprensa está afundada na hipocrisia. Ninguém desse grupo faz questão de perceber as contradições. Todos ficam cobrando “o princípio da independência dos países”. E onde está a independência quando Moraes enfia Elon Musk num inquérito ilegal e interminável, ou quando o ministro exige que empresas privadas forneçam dados de residentes ou cidadãos americanos, sem consultar órgãos públicos dos Estados Unidos, como no caso Rumble? Também não são mais jornalistas aqueles que aceitam a desculpa de que o STF teve de usar medidas de força, em razão da existência de um golpe no Brasil, o que nem sequer foi julgado ou comprovado.
“Alexandre de Moraes está todo errado, no conteúdo e na forma, e a nova velha imprensa que se vire para defendê-lo. Suas decisões são ilegais e não obedecem às formalidades necessárias”
E como reagiu a nova velha imprensa à desconjuntada nota emitida pelo Itamaraty “em resposta” às ações nos Estados Unidos contra os abusos de Alexandre de Moraes, pela defesa da liberdade de expressão? Os “jornalistas” fingem que os americanos estão politizando o assunto, distorcem tudo, assim como fazem o governo Lula e o Supremo. Ora, ora, politizar decisões judiciais é tudo o que o STF tem feito, sem nenhum constrangimento e com o apoio do Brasil do PT. Está lá, no início do segundo parágrafo da notinha: “O governo brasileiro rejeita com firmeza qualquer tentativa de politizar decisões judiciais”… Deixe aqui a sua gargalhada… Até Rubens Barbosa, ex-embaixador brasileiro em Washington e Londres, teve a impressão de que a nota do Itamaraty não foi redigida pela diplomacia brasileira, já que se entregou a politizar descaradamente o assunto.
Não foi à toa que Mônica Bergamo, da Folha e da Band, travou quando o advogado da Rumble e do grupo de media de Donald Trump perguntou a ela: “Quem determina o que é verdade ou mentira?” Respondo: a nova velha imprensa, certamente… Luiz Megale, num programa com a Mônica Bergamo, na BandNews FM, mandou o seguinte: “Allan dos Santos é um mentiroso. Se eu fizer uma lista das mentiras que ele contou, eu fico até amanhã”. Temos tempo, vai, conta aí… Talvez ele pudesse falar da própria Bergamo. Ela publicou na Folha que, “de acordo com interlocutores de Alexandre de Moraes, ele não tem hábito nem planos de viajar aos Estados Unidos”… Pouco depois, circulava a informação de que o ministro foi convidado para participar de um evento em maio, em Nova York, organizado por João Doria. Parece que Moraes não está se sentindo bem e já avisou que não vai.
Ainda no programa da BandNews FM, Mônica Bergamo, fiel representante da nova velha imprensa, resolveu falar de um “imperialismo das big techs”, em “tecnofeudalismo”… Ela é adepta do mesmo pensamento de Alexandre de Moraes: o planeta Terra era muito melhor sem redes sociais, sem mídias digitais, sem internet… E os “jornalistas” estão aí para acabar com esse mundo livre tão rebelde. Jamil Chade, no UOL, escreveu que os Estados Unidos não estão defendendo liberdade de expressão coisa nenhuma. Tudo o que o atual governo americano quer é “criar as condições ideais para que, em 2026, a eleição no Brasil seja marcada por uma ampla atuação das plataformas digitais em apoio ao bolsonarismo”. Tem mais: “Uma eventual vitória de um governo ultraconservador ajudaria Trump a barrar a ‘expansão de direitos reprodutivos e sexuais para as mulheres’, fazer avançar pelo mundo seu desmonte dos direitos humanos, ações de combate ao racismo e o fim de programas de diversidade”…
Não sei, há muito tempo me parece que o Brasil virou mesmo uma piada. De péssimo gosto, aliás. No O Globo, Merval Pereira escreveu um artigo patético, de um tucano ressentido… Se Lula só faz bobagem, o colunista o exime de culpa: “A figura icônica de Lula foi rebaixada pela agressividade de Bolsonaro e seus seguidores. A oposição tucana sempre foi feita em alto nível e, até mesmo na crise do mensalão, não soube se aproveitar da situação. Lula já havia sofrido rachadura em sua imagem quando foi preso, mesmo que a narrativa de perseguição política tenha sido vitoriosa formalmente. Nas campanhas eleitorais, Bolsonaro tem enfrentado Lula sem meias palavras, tratando-o como político ladrão ‘descondenado’, e não como um mito político. Brevemente, pode estar na cadeia onde Lula já esteve. Talvez assim apareça algum novo caminho”. Entenderam? Pela teoria da nova velha imprensa, para que o Brasil vire um país maravilhoso, dependemos apenas da prisão de Bolsonaro e da eliminação da oposição à aliança STF-PT. Dessa forma, como o Senado nunca reagiu à tirania, não tem jeito: a ajuda dos Estados Unidos é realmente necessária.
Por Luís Ernesto Lacombe – Foto: Marcio Antonio Campos com Midjourney – Gazeta do Povo
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