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Uma gosma de jornalistas

*Por Luís Ernesto Lacombe

Talvez fosse preciso fazer uma grande campanha nacional… Pichar o país inteiro com a frase: “Liberdade não se fatia; ou todos têm, ou ninguém tem”. Espalhar cartazes pelas ruas, fazer campanha no rádio, na televisão, nos jornais, portais de notícias, nas redes sociais. Talvez fosse preciso sacudir cada maluco que ainda está por aí apoiando uma tirania “para salvar a democracia”. Olhar nos olhos de cada um, e falar em tom firme, em voz alta: “Chega! Não há país livre, se apenas um lado pode existir, se apenas um grupo pode defender suas ideias, emitir suas opiniões”. E os jornalistas desorientados fariam fila, uma fila quilométrica, para passar por esse exorcismo.

A turma da imprensa que desistiu de ser imprensa já não está tão fagueira com Alexandre de Moraes. Demorou muito para que abrisse ligeiramente um dos olhos. O outro continua cerrado, e sem perspectiva de abertura mínima… A pouca luz que os jornalistas desgarrados de sua profissão percebem ilumina, por enquanto, apenas o seu mundinho. Poxa, a censura chegou àqueles que sempre foram tão fiéis ao todo-poderoso Moraes… Eles estão por aí, em veículos tradicionais de comunicação, e sempre fizeram questão de não ver nada de anormal nos inquéritos ilegais e intermináveis do ministro, na perseguição implacável contra os conservadores. A turma da imprensa aprendeu com o “dono do STF” a tratá-los como extremistas, radicais, nazistas, fascistas, terroristas, golpistas, gente da pior espécie.

A imprensa fajuta passou a defender o que considera a sua liberdade particular, que, obviamente, não é liberdade, nunca foi

Censurar Jair Bolsonaro, tirar dele suas redes sociais, aplicar contra ele uma série de medidas cautelares absurdas, isso foi, de certa forma, aceito de bom grado pelos jor-na-lis-tas, que formam o suprassumo da inteligência… Até que veio o aviso: ninguém pode veicular falas, depoimentos, discursos, entrevistas do ex-presidente. A turma entendeu que a medida era um ataque à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, era censura prévia. E, imediatamente, passou a se perguntar o que havia feito para merecer tal castigo. Toda a devoção ao tirano Alexandre de Moraes – que a revista Veja chegou a tratar numa capa como “a muralha em defesa da democracia” – tinha sido, de repente, ignorada.

A imprensa fajuta passou a defender o que considera a sua liberdade particular, que, obviamente, não é liberdade, nunca foi. E agora faz editoriais em telejornais, “análises” em programas jornalísticos, escreve artigos de opinião em jornais, em portais de notícias, afirmando o seguinte: “Moraes não respeita a Constituição, impondo censura e censura prévia”; “Proibir entrevista é indevido e inoportuno”; “Supremo não pode atropelar direitos fundamentais, como a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa”; “A imprensa deve ser livre e não pode trabalhar sob cerceamento”; “É um caso escandaloso de censura”; “O Supremo, convencido de que salvou a democracia, se acha em condições de fazer o que quiser”; “É um perigo ter uma instituição que é a última palavra em tudo exorbitando das suas prerrogativas”…

A imprensa não tinha desistido de ser imprensa? Só agora percebeu que temos um Estado de exceção no Brasil? Só porque “esbarraram” nela… Não ouviu falar da censura contra O Antagonista, a revista Crusoé, a Brasil Paralelo, o Terça Livre, os jornalistas Allan dos Santos, Rodrigo Constantino, Guilherme Fiuza, Paulo Figueiredo? A Gazeta do Povo, a revista Oeste, a Jovem Pan, a Revista Timeline… Daria para encher algumas páginas com todos os que foram e são perseguidos pela tirania do Judiciário, enquanto a imprensa que se acha a dona da verdade atua em delírios durante um sono profundo. Na verdade, essa gosma de jornalistas não acreditava mesmo que Alexandre de Moraes era um grande defensor da democracia, mas ele atuava contra inimigos comuns seus com a gangue da caneta torta.

Para se dar conta de que os jornalistas espúrios sabiam que Moraes era um tirano, um rasgador da Constituição, basta verificar a quantidade de artigos e editoriais que difundiram o seguinte pedido ao ministro: “Agora que a democracia foi salva, que Bolsonaro foi ‘derrotado’, é hora de voltar a cumprir as leis”. Sim, esse “muco das notícias” defendeu a tirania como forma de “restabelecer a democracia”, e arrastou nessa os incautos, os ingênuos, os ignorantes. Meus “coleguinhas” estão esperneando, querendo de volta sua fatia de liberdade, algo que jamais existirá, para fingir que está tudo bem no Brasil. Abram os olhos de uma vez, os ouvidos, busquem o exorcismo… Porque nunca será livre a imprensa que não tem humildade, que não tem compromisso com os fatos, com a busca pela verdade. Nunca será livre a imprensa que é refém dos seus próprios interesses.

*Luís Ernesto Lacombe é jornalista e escritor. Por três anos, ficou perdido em faculdades como Estatística, Informática e Psicologia, e em cursos de extensão em administração e marketing. Não estava feliz. Resolveu dar uma guinada na vida e estudar jornalismo. Trabalha desde 1988 em TV, onde cobriu de guerras e eleições a desfiles de escola de samba e competições esportivas. Passou pela Band, Manchete, Globo, Globo News, Sport TV e atualmente está na Rede TV. Escreve na Gazeta do Povo às quintas-feiras. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

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