Exército anuncia reformulação do COpESP e professor reage: “Não vai adiantar, tem que encerrar o batalhão”, diz professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Mesmo com escândalo, batalhão mantém vagas e treinamentos com militares dos EUA
O Exército decidiu reformular o Comando de Operações Especiais (COpEsp) após o envolvimento de militares da unidade na suposta trama de golpe de 2022. Entre as mudanças, está a retirada do curso de operações psicológicas do batalhão e a revisão da doutrina, mas o número de vagas para formação dos militares permanece o mesmo. Para o professor emérito da Eceme, Francisco Teixeira, as alterações são insuficientes. “Quem ensinará a nova doutrina, se não os mesmos oficiais que ensinavam a anterior? Para mim, o correto seria encerrar o batalhão”, afirmou à Agência Pública, nesta segunda-feira, (10).
Já o Exército justifica a decisão alegando que “não é conveniente” que o curso de operações psicológicas ocorra “junto ao próprio batalhão”. A Força também criou um Grupo de Trabalho para entregar, até 28 de março, um relatório com propostas de “aprimoramento” das Operações Especiais.
O peso das operações psicológicas
As operações psicológicas (Op Psico) estão no centro das mudanças. Segundo o Manual de Campanha C-45-4, do Estado-Maior do Exército, “as Op Psico constituem uma parte essencial do poder. Os chefes militares e políticos das nações têm utilizado, quer na paz, quer na guerra, as Op Psico como forma de persuasão ao longo da história”.
Professor da Eceme critica mudanças e defende fim do batalhão dos ‘kids pretos’ após envolvimento em operações golpistas. (Foto: Exército)
No entanto, foi justamente esse tipo de operação que colocou o COpEsp no centro da crise. O tenente-coronel Guilherme Marques Almeida, ex-comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas, foi um dos envolvidos. Em áudios obtidos pela Polícia Federal, ele afirmou: “Dá pra fazer um ‘trabalho bom’ nisso aí”, referindo-se à invasão do Congresso em 8 de janeiro de 2023.
Marques Almeida também sugeriu “direcionar o povo” para “a frente do Congresso” e “explorar a dimensão informacional” da situação. “Dentro das Forças Armadas, ninguém quer se arriscar”, disse ele, em referência à resistência de colegas em aderir ao golpe.
“Não vai adiantar nada”
Apesar das alterações, o número de vagas para os cursos de formação dos “kids pretos” permanece o mesmo desde 2009: 24 para sargentos e 24 para oficiais. “Um dos problemas é que o batalhão tem uma tradição de enviar oficiais para cursos no Exército dos Estados Unidos, onde se passa uma noção de ‘ameaça interna’ aos militares latino-americanos”, disse.
Ele ainda criticou a manutenção da lógica do “inimigo interno”: “Se essa lógica for mantida, mudanças pontuais não vão adiantar”.
Para ele, o ideal seria “encerrar o batalhão” e rever a formação dos militares, que inclui cursos no Exército dos Estados Unidos, em Fort Moore, desde os tempos da Escola das Américas. “O curso nos EUA tem a função de direcionar eles contra aquilo que os americanos chamam de ‘forças subversivas’, mas das próprias sociedades em que se encontram”, explica.
Revisão completa até março
O Grupo de Trabalho criado pelo Exército em 13 de dezembro de 2024 tem até o próximo dia 28 de março para entregar um relatório com propostas de reestruturação do COpEsp. Coordenado pelo general de divisão Jayro Rocha Júnior, o grupo reúne 12 oficiais de diferentes setores da Força.
Segundo o Boletim nº 51/2024, o relatório final deve apresentar “conclusões acerca dos trabalhos realizados e a proposta de uma Diretriz específica sobre o tema”. O material será submetido ao general Richard Nunes, chefe do Estado-Maior do Exército.
Com informações sociedademilitar.com.br