Quando alguém se declara o verdadeiro representante do povo, essa pessoa está, na verdade, agindo de forma antidemocrática e suas intenções também não são democráticas. Lula deixou isso claro com a frase: “Quando eu estiver fazendo uma coisa errada, ao invés de vocês falarem ‘o Lula está errando’, vocês têm que falar ‘eu tô errando’, porque o Lula é o povo na Presidência.” Essa é a essência do que ele pensa. E, por uma boa parte da imprensa, ele tem sido tratado com muita condescendência.
Imagine se o ex-presidente Jair Bolsonaro tivesse dito algo semelhante. A reação seria muito diferente, e com razão. É inadequado que apenas algumas vozes se levantem contra um absurdo antidemocrático dito pelo presidente da república. Lula nunca escondeu que se comportava assim. O que houve foi um estelionato eleitoral por parte de quem tentou vender o lulismo como uma força democrática, capaz de fazer uma frente ampla e abrir espaço para outros atores políticos. Nem dentro do PT existe espaço para outros líderes. A liderança de Lula é como uma árvore que não deixa nada crescer sob sua sombra.
Muitas vezes se diz que Janja, sua esposa, poderia ser uma sucessora, uma espécie de Evita Perón de Lula. Isso só mostra que Lula não prepara substitutos dentro do PT. Para ele, é ele e somente ele. E o mais triste é ver parte da imprensa se comportando como subordinada a ele. Alguns, na rejeição a Bolsonaro, acabam abraçando Lula. Mas essa é a questão: o populista só se estabelece onde não há jornalismo independente. Para haver jornalismo independente, é necessário que haja apoio popular a um jornalismo que não se rende a nenhum político.
Temos isso aqui no Brasil? Ou o povo está se acostumando a gostar apenas do jornalismo que abraça seu político de preferência? Se for o caso, Lula, como populista, que está no poder e conta com o apoio tácito de parte da imprensa, só tende a se beneficiar cada vez mais.