A recondução de Paulo Gonet à Procuradoria-Geral da República não deveria ser um ato automático, mas o Senado parece inclinado a tratá-la como mera formalidade. É um erro grave. O procurador-chefe, até aqui, demonstrou uma postura tímida e pouco incisiva diante de questões essenciais para o país. A PGR não pode se reduzir a um cartório de carimbos do Executivo, e o Senado não pode abdicar de seu dever constitucional de avaliar, com rigor, quem ocupa o posto.
A provável aprovação sem resistência revela um Legislativo enfraquecido, incapaz de se colocar como contrapeso efetivo no sistema democrático. Gonet pode até ter méritos técnicos, mas a omissão em casos relevantes levanta dúvidas sobre sua disposição de enfrentar poderosos — e é exatamente isso que se espera de um procurador-geral.
Se os senadores realmente se veem como guardiões da República, a hora de demonstrar independência é agora. A sabatina não pode ser teatro. Aprovar Gonet sem cobrança seria mais uma capitulação de uma instituição que prefere a comodidade do silêncio à responsabilidade da vigilância.
Chances de rejeição a Gonet são baixas, mas desconforto cresce no Senado
O nome de Paulo Gonet, indicado para recondução à Procuradoria-Geral da República, enfrenta uma sabatina que, embora tradicionalmente formal, desperta desconfortos no Senado. Parlamentares de diferentes espectros reconhecem que a aprovação é provável, mas não escondem críticas à postura discreta do procurador em temas considerados sensíveis.
Entre opositores, prevalece a leitura de que Gonet adota uma linha de conveniência política, evitando embates que poderiam contrariar o governo. Já entre senadores independentes, a crítica é de que sua atuação reforça a imagem de uma PGR menos vigilante e mais distante da função de contraponto institucional.
Apesar disso, a rejeição do nome é vista como improvável. Para muitos parlamentares, barrar a recondução representaria não apenas um confronto com o Executivo, mas também uma quebra da tradição de aprovar os indicados ao cargo. Ainda assim, o debate em torno de Gonet escancara o dilema do Senado: ao aprovar nomes sem contestação, reforça a percepção de que o Ministério Público se acomoda a um papel secundário; ao rejeitar, arrisca abrir uma crise política de grandes proporções.
**Poliglota é jornalista e Editor-chefe do Portal Opinião Brasília