O jornalismo, quando exercido com responsabilidade, tem o dever de informar, esclarecer e proteger a sociedade.
No entanto, a matéria publicada pelo portal Metrópoles sobre um assalto no Riacho Fundo I, no DF, onde um coronel da Polícia Militar reagiu, matando um dos assaltantes e baleando o outro, revela uma abordagem sensacionalista que beira a irresponsabilidade.
Ao expor o nome completo da vítima e publicar um carrossel de fotografias suas, o veículo desrespeita a privacidade do militar, e coloca sua vida em perigo, prestando um desserviço à sociedade.
O caso em questão, que ocorreu na manhã desta terça-feira (05) no Riacho Fundo I, envolve dois criminosos com extensas fichas criminais, incluindo tráfico de drogas, homicídios, tentativas de homicídio, roubos de carros e assaltos à mão armada.
Um deles, Ruan Matheus Marques de Castro, que foi baleado era foragido da justiça. O outro que morreu, Gabriel Fellipe Ribeiro Nunes, pertencia à facção criminosa “comboio do cão”, segundo a Polícia Civil.
A vítima, por sua vez, teve a sorte de não se tornar mais uma estatística de latrocínio, reagindo com sucesso ao ataque.
Em vez de destacar a gravidade dos crimes cometidos pelos assaltantes, o Metrópoles optou por um título sensacionalista, “Saiba quem é o coronel da PM que reagiu a assalto e matou ladrão no DF”, e uma narrativa que, ao expor detalhes pessoais do militar, parece mais preocupada em atrair cliques do que em proteger a integridade de uma vítima.
A abordagem, além de ser antiética, é também perigosa. Ao divulgar o nome e as imagens do militar, o veículo de comunicação expõe um cidadão que, por defender sua vida, agora pode ser alvo de retaliações por parte de comparsas dos criminosos ou de outros membros do crime organizado.
A exposição desnecessária da identidade da vítima e até a quadra da rua onde mora desconsidera o contexto de violência no qual o caso está inserido, ignorando o risco real que o militar enfrenta após o episódio.
A matéria parece sutilmente induzir o leitor a enxergar os assaltantes como “coitadinhos”, minimizando suas trajetórias criminosas e focando desproporcionalmente na vítima, que, por sua profissão, é transformada em personagem de um espetáculo midiático.
O jornalismo sensacionalista, em busca de audiência, não pode se sobrepor à responsabilidade social.
O Metrópoles, ao priorizar o clique fácil, negligencia o impacto de suas escolhas editoriais. Expor uma vítima de assalto à mão armada, que agiu em legítima defesa, é mais do que um erro jornalístico: é uma atitude que pode custar vidas.
*Toni Duarte é jornalista e editor/chefe o Radar-DF, com experiência em análises de tendências políticas e comportamento social da capital federal. Siga o #radarDF