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Popularidade digital: Bolsonaro segue inabalável, Lula se segura em Trump e STF despenca

Dois eventos recentes incendiaram o já superaquecido ambiente da polarização ideológica nas redes sociais: o “tarifaço” de Donald Trump e a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A imposição de sobretaxas pelo governo dos EUA ao Brasil serviu para o presidente Lula fabricar uma narrativa de “soberania nacional” e recuperar parte dos seguidores que vinha perdendo desde 2024. Também deu um novo ânimo à sua militância mais fiel, até então com dificuldades para defender um governo envolto em crises e sem realizações.

Já as reações indignadas à prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, mostram que o “capitão” está longe de perder relevância (como afirmam adversários e a imprensa alinhada ao Planalto). Mais do que isso: Bolsonaro mantém uma hegemonia digital inabalável, mesmo sob perseguição judicial.

Quem parece perder terreno nesse cenário é o Supremo Tribunal Federal. Cada vez mais identificado como ator político, o STF vê sua imagem se desgastar na percepção popular, e corre o risco de se consolidar como um “poder sem voto” para os brasileiros.

Essas conclusões vêm de levantamentos da Ativaweb, agência de monitoramento digital especializada em acompanhar tendências políticas e de mercado. Segundo dados da empresa, a decisão de Moraes sobre a prisão domiciliar de Bolsonaro gerou 6,1 milhões de menções nas principais plataformas em apenas 24 horas — um número expressivo, muito além do sugerido pelas pesquisas tradicionais.

Novo mapa político 

O relatório da Ativaweb revela um mapa político que também contradiz o discurso hegemônico: a região Sudeste liderou o volume de interações favoráveis a Bolsonaro com 1,8 milhão de menções, seguida pela Sul (998 mil) e a Centro-Oeste (865,3 mil).

O dado mais significativo vem do Nordeste, historicamente considerado um reduto petista. Mesmo lá, o ex-presidente superou o nível de apoio digital recebido por Moraes, com 1.210.900 menções contra apenas 478.900 pró-ministro do STF.

Outra informação demonstra a capacidade de mobilização instantânea da direita digital: nas primeiras seis horas após a decisão judicial, a média de postagens saltou de 86 mil para 310 mil por hora. E os termos mais frequentes — “liberdade”, “perseguição” e “resistência” — traduzem o sentimento predominante de uma parcela significativa da população que vê nas ações do Judiciário não o cumprimento da lei, mas abuso de poder.

Em outro estudo, a empresa mostra a recuperação de Lula nas redes sociais. Entre dezembro de 2024 e agosto de 2025, o presidente ganhou 2,5 milhões de seguidores, distribuídos em todas as plataformas. O principal catalisador dessa guinada foi o conflito internacional com os EUA, que segundo o levantamento, “funcionou como gatilho emocional e narrativo” junto à esquerda.

Esse crescimento, porém, precisa ser contextualizado: em maio de 2025, Lula já havia perdido 1 milhão de seguidores apenas no Instagram — reflexo de uma gestão desgastada, sem resultados concretos para apresentar.

Política e preços andam lado a lado 

CEO da Ativaweb, o publicitário e pesquisador Alek Maracajá é cauteloso com relação ao novo fôlego do presidente nas plataformas da internet. “Crescer em volume é relativamente fácil em momentos de alta tensão. O desafio verdadeiro é sustentar esse crescimento e convertê-lo em engajamento duradouro”, diz o autor do livro “Brasil Digital: Nas Entrelinhas da Polarização Política”.

Para Maracajá, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a crise com Trump representou “uma oportunidade rara”. “O presidente conseguiu transformar uma ameaça externa em combustível digital, ativando um sentimento de soberania nacional.”

No entanto, ele alerta que “narrativas digitais são fortes, mas resistem pouco quando a realidade do bolso pesa”. “No Brasil, política e preço do arroz andam lado a lado”, diz.

Questionado se a recuperação do governo se deve ao trabalho do publicitário Sidônio Palmeira (ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social e marqueteiro da campanha de 2022), Alek Maracajá fala em “melhora perceptível” — porém não atribui essa evolução a Palmeira.

“A narrativa do embate com [o presidente da Câmara] Hugo Motta, que levantou uma sequência de vídeos explorando o sentimento de ricos contra pobres, somada à soberania nacional pós-Trump deu fôlego, abriu espaço para mudanças de linguagem e reposicionou o presidente digitalmente. A comunicação de Sidônio começa a surfar nessa onda, mas não foi a origem dela.”

Massa silenciosa decide 

Maracajá também explica a liderança de Jair Bolsonaro sobre Alexandre de Moraes no debate digital sobre a prisão domiciliar. “O bolsonarismo trabalha com o mito da perseguição. ‘Sou o alvo do sistema’, ‘Querem me calar’. É uma narrativa que ativa revolta e mobiliza indignação”, afirma.

Bolsonaro, no entanto, está juridicamente impedido de disputar as eleições 2026 e enfrenta restrições nas redes sociais. Dado esse cenário, quais lideranças conservadoras podem ocupar o vácuo deixado pelo ex-presidente no ambiente virtual?

Para Maracajá, Michelle Bolsonaro e Tarcísio de Freitas são os nomes mais emergentes —nenhum dos dois, contudo, tem a força de Nikolas Ferreira.

“Michelle pela identificação pessoal, Tarcísio pela força da gestão paulista. Mas, depois de Bolsonaro, o maior patrimônio digital da direita hoje é Nikolas Ferreira. Seus números são exponenciais, alcançando marcas que nem Bolsonaro tinha na fase de ascensão. Ele é o motor da nova geração conservadora e a prova de que engajamento é poder político digital.”

Por fim, o publicitário comenta a incongruência entre os levantamentos digitais e as pesquisas de opinião tradicionais. De acordo com ele, essa diferença existe porque as redes medem emoção e volume de engajamento, enquanto as pesquisas captam a intenção de voto e o eleitor oculto.

“O Brasil é um país hiperconectado, mas também profundamente polarizado. Ao mesmo tempo, tem uma massa de mais de 55% da população silenciosa. São pessoas que não curtem, não compartilham, mas decidem no voto”, afirma.

Imprensa favorável 

A convite da Gazeta do Povo, o cientista político Mário Sérgio Lepre analisou os últimos levantamentos da Ativaweb para além dos números. Ele aponta, especialmente com relação à recuperação de Lula, um quadro mais amplo de manipulação midiática.

“O governo conta com uma imprensa favorável que apoia todas as suas pautas. Se o mesmo caso do INSS tivesse ocorrido na gestão anterior, já teríamos ex-ministros presos, com delação premiada, busca e apreensão e fishing expedition [pescaria probatória, ou seja, investigações especulativas e indiscriminadas] nos telefones”, afirma.

Ainda sobre o papel da imprensa, o professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) denuncia um suposto conluio entre o que chama de “mídia tradicional” e os institutos de pesquisa convencionais. Para ele, essa parceria resulta na já citada divergência entre os levantamentos digitais e presenciais — e explicaria por que o apoio popular ao ministro Alexandre de Moraes aparece apenas nos estudos divulgados pelos veículos dominantes.

“O STF, atualmente, consolidou um ‘governo de fato’. E, por não ter sido eleito, sofre com uma péssima avaliação pública”, afirma, referindo-se aos dados levantados exclusivamente online.

Sobre a direita sem Bolsonaro (nas urnas e nas redes), Lepre reconhece Nikolas Ferreira como “ponto fora da curva”. E aponta uma vantagem do jovem deputado mineiro sobre outras personalidades do mesmo campo político: sua capacidade de, muitas vezes, conseguir furar a bolha conservadora.

“Os outros nomes têm boa penetração, mas não furam a bolha. Talvez Eduardo Bolsonaro, nos últimos meses, também tenha crescido e multiplicado apoiadores”, diz.

O professor conclui com uma observação que deixa um alerta sobre os possíveis próximos passos de uma gestão petista encurralada. “O governo, que não tem resultados a mostrar, se agarrou ao discurso de soberania. Mas é o único do mundo sem um canal de comunicação com a Casa Branca. Há um problema aí. Por mais que a imprensa amiga ajude, o que podemos esperar para os próximos meses?”

Gazeta do Povo

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