O exemplo do Nepal mostra que a censura chega disfarçada de proteção — e destrói liberdades
O que acontece hoje no Nepal é um retrato sombrio do que pode se tornar realidade em qualquer democracia quando o governo decide assumir o papel de “árbitro da verdade”. Sob o pretexto de combater fake news e crimes virtuais, o Estado nepalês aprovou legislações que deram ao governo o poder de vigiar, censurar e punir vozes críticas. Resultado: jornalistas intimidados, opositores perseguidos e uma sociedade cada vez mais silenciada.
Esse modelo autoritário não surge de uma vez — ele é implantado aos poucos, sempre com justificativas nobres, até que o espaço para o debate livre se estreita a ponto de desaparecer. E é exatamente por isso que o Brasil precisa abrir os olhos. O governo Lula, com seu projeto de “regulação da internet”, avança perigosamente na mesma direção. O discurso oficial fala em segurança, em responsabilidade das plataformas, mas por trás da retórica se esconde a tentação de controlar a narrativa pública.
O que está em jogo não é apenas a disputa contra desinformação, mas a preservação do espaço democrático mais livre que existe hoje: a internet. Entregar ao Estado o poder de decidir o que pode ou não ser dito online é criar um mecanismo perfeito para a censura política. Basta olhar o Nepal para entender aonde esse caminho leva: menos pluralidade, mais medo, mais silêncio.
É claro que fake news e abusos virtuais são problemas sérios e precisam ser enfrentados. Mas a saída não é dar ao governo a caneta que define a verdade. Em contextos polarizados como o brasileiro, esse poder inevitavelmente seria usado para proteger aliados e punir adversários. Uma democracia não se fortalece calando vozes — fortalece-se garantindo liberdade e responsabilização equilibrada, sem que o Estado se torne dono da palavra.
Se o Brasil insistir em seguir o roteiro que já destruiu a liberdade digital no Nepal, estaremos, em pouco tempo, diante de uma internet domesticada, uma sociedade acuada e revoltada sem que se possa medir as consequências.
A história ensina: a censura começa sempre com “boas intenções”, mas termina invariavelmente com o sufocamento da democracia.
**Poliglota é jornalista e Editor-chefe do Portal Opinião Brasília