Presidente da Câmara mantém Derrite como relator do PL Antifacção e afirma que segurança pública não será pautada por interesses políticos do governo
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), deixou claro nesta segunda-feira (17) que não pretende atuar como extensão do governo federal na tramitação do chamado PL Antifacção. Motta afirmou que sua escolha pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP) como relator é uma decisão “técnica” e “pessoal”, sem espaço para pressão de ministros ou líderes governistas.
Derrite, ex-comandante da Segurança Pública de São Paulo e aliado histórico de Jair Bolsonaro, tem sido alvo da artilharia da base lulista.
Mesmo assim, Motta não recuou. Pelo contrário: dobrou a aposta ao marcar a votação para esta terça-feira (18), em pauta única, e reforçar que o foco é atender “a sociedade que sofre com o crime organizado”, não os interesses políticos do governo.
“Tem muito palpite aqui de Brasília, mas pouca gente que enfrentou bandido de verdade”, disse Motta, ao justificar a escolha de Derrite. “Eu escolhi o cara que está no dia a dia, na rua, encarando o crime. E não quem vive de nota oficial.”

Hugo Motta banca Derrite e desafia Planalto – foto: GOV.br
A irritação do Planalto com o relator ficou evidente nas sucessivas versões do parecer, quatro até agora. Governistas pressionam para diluir trechos mais duros do texto, enquanto Derrite tem defendido endurecimento real contra facções, especialmente no bloqueio financeiro dos grupos criminosos.
Motta manda recado ao governo
Mesmo assim, Motta afirmou que ajustes ainda podem ocorrer, mas sem descaracterizar a essência do projeto.
“Guerra de narrativas não me preocupa. O que me preocupa é o cidadão que não consegue ir trabalhar porque a facção domina o bairro”, disse o presidente da Câmara, enviando um recado direto ao governo, que tenta tirar protagonismo do Congresso em temas de segurança.
Motta também destacou que o Marco Legal de Combate ao Crime Organizado tem apoio para avançar tanto na Câmara quanto no Senado, onde avalia existir um “fluxo legislativo positivo”. A articulação, segundo ele, tem sido construída com base em diálogo, mas sem submissão ao Palácio do Planalto.
Além do PL Antifacção, outra pauta sensível deve ganhar força nos próximos dias: o projeto que endurece regras contra sonegação e devedores contumazes.
O texto, já aprovado pelo Senado, virou uma das prioridades do Ministério da Fazenda, o que acirrou a disputa pela relatoria. Motta, porém, voltou a puxar para si a narrativa de independência.
“Essa matéria não é de governo nem de oposição. É da sociedade. E o relator precisa ter perfil técnico”, afirmou.
Blog do Cláudio Dantas




