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Militares reagem à fala de Múcio sobre salário de generais: “Tem soldado, cabo e sargento rodando Uber”

Múcio quer reajuste para generais: fala sobre salários de estrelados causa indignação entre militares da base

Ao mencionar o salário dos generais em seu pronunciamento no Senado, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, afirmou que os oficiais nos últimos postos da carreira militar “vivem com dificuldades” e são obrigados a se movimentar a cada dois anos, o que “prejudica a vida familiar”.

“É uma elite. Sabe quanto ganha um general? Depois de 50 anos de serviço? Ele vai para casa com R$ 24 mil. Eu, às vezes, digo para companheiros de governo, eles não acreditam. Quanto ganha um brigadeiro quando vai para casa? R$ 23 mil, R$ 24 mil depois de 50. A única coisa que conseguiram poupar foi uma casa e comprar um carro e educar os filhos, que ficaram dispersos, porque a cada dois anos, eles mudam de lugar”, disse Múcio.

A fala, feita durante audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado em 30 de setembro, foi aplaudida por políticos e militares presentes no auditório, mas provocou uma onda de reações de indignação entre militares da ativa e da reserva. A tropa acusa o ministro de olhar apenas para o topo da pirâmide hierárquica, ignorando as dificuldades enfrentadas pela base, especialmente cabos, sargentos e suboficiais.

Muitos comentários reclamam da falta de menção às baixas patentes enquanto ministro só lembraria do salário dos generais

Nas redes sociais, dezenas de comentários destacaram o abismo que separa a realidade dos generais da vivida pelos militares de carreira média e baixa.

Um dos comentários mais curtidos resume o sentimento geral: “Tem soldado, cabo e sargento rodando Uber, vendendo produto, empreendendo em nome de terceiros para complementar a renda, porque o soldo não cobre o básico. Isso é preocupante, pois a necessidade pode levar bons militares a caminhos errados. É preciso olhar com atenção para quem carrega o peso do serviço diário nas Forças Armadas.”

Há também desabafos diretos:

“O dia que eu ver oficial tendo que fazer bico na rua pra fechar as contas de casa, me compadeço! A princípio, só vejo os praças como tendo soldos verdadeiramente defasados.”
“Se tá ruim pros generais, imagina pros praças.”
“O salário de um 1º sargento com mais de 20 anos de serviço é igual ao de um soldado recém-formado da PM.”

Transferência a serviço são consideradas mesmo um ônus?

Um dos principais pontos de contestação é a fala do ministro sobre as movimentações a cada dois anos. Para grande parte da tropa, essas mudanças estão longe de ser um “sacrifício”. De fato, na lei de reestruturação das carreiras dos militares consta que para realizar movimentações a serviço, a depender do destino, onde uma residência de alto padrão e mobiliada o aguarda, o oficial general poderá receber até quatro salários brutos completos, sem contar valores de diárias e custeio do transporte dos moveis. Segundo esse cáuculo, ao ser transferido a serviço oficial general pode receber valores que variam de 150 a 200 mil reais.

“A maior falácia é dizer que são prejudicados pela movimentação de 2 em 2 anos. Além das indenizações todas para a mudança, transporte de veículo e passagens, o militar ainda recebe ajuda de custo. Então, o que o militar mais quer é ser movimentado mesmo. Os oficiais, nesse aspecto, são privilegiados, porque se movimentam muito mais do que os praças.”

” sim..vamos falar sobre isso. A cada dois anos são 200 mil na conta. Não paga aluguel e ganha diárias e ajudas de custo mês a mês. Conheço general de brigada com 16 imóveis. Salário de 24 mil não é baixo levando em conta as regalias e depois o emprego na estatal. Tem que olhar pra base primeiro, assim procede o chefe justo…”.

Um coronel da reserva acrescentou: “Com uma simples movimentação de Resende (AMAN) para o Rio de Janeiro, os valores que recebi foram suficientes para a mudança e ainda me pagaram uma viagem no fim do ano para esquiar no Canadá.”

Outro leitor foi mais incisivo: “São com as movimentações que os caras ‘brincam’ de fazer dinheiro! Uma movimentação de um Oficial General não sai por menos que uns 200 mil! O bom da história é que agora o calo apertou lá em cima. Agora chegou a vez dos praças sentarem na arquibancada e observarem o circo pegar fogo.”

A RSM teve acesso ao bilhete de pagamento do General de Exército R. F. Nunes. Ao ser transferido para a Reserva Remunerada, de fato o oficial recebeu mais de 400 mil reais.

Salário de General relativo a agosto de 2025

A insatisfação aumenta quando se compara o poder aquisitivo entre as patentes. “Soldado da PM em vários estados da federação ganhando mais que um terceiro sargento das Forças Armadas!”, escreveu um usuário.

Outro complementou: “A maioria dos praças morando em lugares horríveis de aluguel, salário de miséria para sustentar a família, e esse sujeito vem falar que general tá ganhando mal e só tem um carro e uma casa.”

Outro comentário, que recebeu dezenas de curtidas, foi direto:

“Praças, para o MD, não existem, são apagados e silenciados. Mas são a massa comprometida com as FA para que elas, de fato, funcionem no dia a dia.”

Outros destacaram o contraste entre os privilégios da cúpula e o desânimo da base:

“R$ 5.600,00. Sem casa, empréstimo e pensão alimentícia. 52 anos de idade carregando caixas em supermercado.”

“Um 3º sargento recém-formado recebendo 4.100. Dá nem pra comprar o básico direito.”
“Os praças que estão vivendo pela benção de Deus.”

Desigualdade e descrença em distribuição mais justa dos salários

O tema reacende a discussão sobre a Lei 13.954/2019, que promoveu uma reestruturação de carreira altamente favorável aos oficiais superiores, mas com impacto mínimo para as patentes intermediárias e inferiores.

“A lei 13.954/19 fez com que os generais e suas pensionistas ganhassem 144%, e os praças receberam 9% em duas vezes”, lembrou um comentarista.

Outro resumiu: “O dia que eu ver praça tendo que fazer bico igual aos praças para complementar a renda, aí sim o negócio tá feio de verdade. A tropa tá sangrando e ninguém tá olhando pra eles.”

Ironias e sarcasmos que refletem o cansaço e desânimo

“Os praças então hein… comprou 1 kg de carne, acabou o salário do sargento.”
“Se tirar os generais, os quartéis funcionam normalmente.”
“O último a sair, apague a luz.”
“Olhar para baixo também é patriotismo”

Enquanto parte da oficialidade defende que os salários da cúpula são baixos quando comparados aos do Judiciário e de outras carreiras civis, a maioria da tropa considera que a pauta salarial deveria começar de baixo para cima.

Um dos comentários mais curtidos expressa essa visão: “A hipocrisia é tomar o salário de oficial general como parâmetro para toda e qualquer discussão salarial. Tá na hora de inverter a pirâmide e considerar quem sustenta toda essa engrenagem.”

O abismo dentro da farda

A reação maciça às falas de José Múcio expôs um abismo social dentro das próprias Forças Armadas — onde a retórica da hierarquia e disciplina convive com desigualdades salariais profundas.

A discussão mostrou que, enquanto a cúpula debate reajustes e “dificuldades familiares” contestáveis, a base argumernta que enfrenta anos sem recomposição inflacionária, dívidas, e a necessidade de trabalhos paralelos para manter a família.

Nas palavras de um sargento da reserva: “Ficamos desde 2017 sem reajuste nas baixas graduações. Perdemos o poder de compra. Empobreceram o militar de verdade.”

E outro completou: “Ser militar no Brasil é um sacerdócio. Mas parece que só lembram dos que usam estrelas nos ombros.”

Revista Sociedade MIlitar

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