Três filhos decidiram denunciar a própria mãe por agressão, maus-tratos e cárcere privado cometidos supostamente contra o marido, padrasto deles. Polícia Civil investiga o caso
Em entrevista exclusiva ao Correio, o irmão do servidor público aposentado suspeito de ser maltratado e mantido em cárcere privado pela companheira, Maruzia das Garças Brum Rodrigues, 52 anos, disse que a família, que mora no Rio de Janeiro, jamais teve ciência dos maus-tratos. Na quinta-feira (9/9), os filhos da mulher procuraram o jornal para denunciar o caso. A reportagem, publicada nesta segunda-feira (13/9), traz detalhes dos relatos, inclusive de uma doméstica que trabalhou para Maruzia por cerca de um mês. A família entrou com pedido de guarda e contratou um advogado para acompanhar o caso.
Alfredo Nunes, 54, afirmou ao Correio que o relacionamento com o irmão sempre foi distante, uma vez que o servidor mudou-se para Brasília em 1998, depois de ter passado no concurso público do Banco Central. “O contato era muito distante. Ele vivia isolado, sem celular e nós, aqui do Rio, não queríamos nos intrometer no relacionamento. Achávamos que seríamos inconvenientes”, afirmou.
Nas poucas vezes em que falou com o irmão, Alfredo revela que as ligações eram supervisionadas por Maruzia e feitas pelo próprio celular dela, pois o servidor não tinha telefone. Segundo ele, a família não tem dúvidas de que Maruzia afastou o servidor da mãe e dos irmãos, proibindo-o de manter contato com os parentes. “Até o meu sobrinho, filho deles, vive isolado em Portugal e não fala conosco. Ela colocou na cabeça do filho que ninguém quer saber dele.”
Depois de toda a repercussão do caso, Alfredo conta que a família está abalada e sem acreditar no que aconteceu. Ele ressalta, ainda, que Maruzia sempre foi uma mulher autoritária, arrogante e que tinha problemas com os parentes do marido. “Não sabíamos da gravidade desses fatos, mas não temos dúvidas de que ela seja a autora do que aconteceu com o nosso parente querido.”
A família do servidor contratou uma advogada para acompanhar o caso. Segundo o irmão, a mãe da vítima pediu a guarda do filho, mesmo que temporariamente.
O caso
Em relatos contundentes, três filhos decidiram denunciar a própria mãe por agressão, maus-tratos e cárcere privado cometidos supostamente contra o marido, o padrasto deles.
A situação foi piorando, até que os filhos perceberam que o padrasto passava a maior parte do dia dopado, deitado em uma cama, sem conseguir fazer as atividades básicas do dia a dia, como colocar comida no prato e tomar banho.
“Ele ficou submisso a ela e falava para nós que minha mãe só estava cuidando dele e só queria o bem. Mas aí iniciaram-se as agressões. Ela já fechou a mão dele na porta do carro por várias vezes. Quando chegávamos em casa, tinha panela quebrada e ele sempre com marcas pelo corpo. No período em que morei com eles, tinha vezes que nem água ela queria comprar e começou a faltar tudo, e não entendíamos o porquê”, afirmou uma das filhas.
A revelação
Na capital, Maruzia alugou um apartamento em um condomínio de Águas Claras, onde iria ficar com o marido até recuperar-se da cirurgia estética. Enquanto estava internada no hospital, os filhos decidiram visitar o padrasto. Ao chegarem ao edifício, foram informados pelo porteiro que ninguém com determinado nome morava naquele endereço. “Liguei para o dono do imóvel e perguntei se minha mãe ainda tinha contrato com ele. Ele respondeu que sim. Expliquei toda a situação e o proprietário foi até nós, quando conseguimos subir até o apartamento”, afirmou a filha.
A ordem dos filhos para não entrarem no imóvel teria partido da própria mãe. A empregada que negou a entrada prestou depoimento na delegacia. O Correio teve acesso ao interrogatório e, nele, a funcionária confessa que a patroa temia que os filhos levassem o marido à força. Em outro trecho do depoimento, ela afirma que o servidor tomava de oito a 10 comprimidos só na parte da manhã e noite.
Quando soube que os filhos haviam conseguido entrar no apartamento, Maruzia fez uma chamada por vídeo ao marido. A cena foi gravada e, durante a conversa, a mulher, em tom ameaçador, diz: “Se está trabalhando, não responde. Cadê sua mãe? Não responde. Está tomando remédio? Não responde. Está trabalhando? Não responde. Entendeu? Para de dar conversa”, diz a economista. A filmagem foi repassada à reportagem, mas para preservar a identidade da vítima, não será divulgada.
Em 8 de setembro, um dia depois do feriado, uma viatura da Polícia Militar e ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionadas até o endereço. Durante o atendimento do Samu, ficou constatado pelas equipes que a vítima estava sob efeito de superdosagem medicamentosa, como consta no próprio boletim policial registrado na 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro), unidade que apura o caso.
No imóvel, os filhos encontraram várias caixas de rivotril, medicamento utilizado no tratamento de distúrbios de ansiedade, como síndrome do pânico, ansiedade social, entre outros. Caso tomado em excesso, o remédio pode levar a ausência de reflexos (arreflexia), apneia, hipotensão arterial, depressão cardiorrespiratória e outros sintomas.
Fonte: CB