Mais de 70% dos deputados eleitos pelo povo enfiaram a faca nas costas de quem lhes outorgou a confiança de serem suas vozes no Congresso. R$ 40 Bilhões do seu bolso vão para os cofres do governo
Enquanto o país dormia, a Câmara dos Deputados decidiu acordar o bolso do brasileiro com um duro golpe. Na madrugada do dia 17, em uma votação apressada, pouco transparente e distante do olhar atento da sociedade, deputados federais aprovaram um pacote que eleva a carga tributária em cerca de R$ 40 bilhões até 2028. Um aumento pesado, travestido de discurso social, mas que na prática recai sobre toda a população — especialmente sobre quem menos pode pagar.
O roteiro é conhecido e, ainda assim, revoltante. Sob o argumento conveniente de que os novos impostos atingiriam apenas “super ricos”, bancos ou grandes empresas, o Congresso chancelou medidas que encarecem o crédito, elevam preços de produtos e serviços e pressionam o custo de vida. Quando se tributa investimento, crédito e atividade econômica, a conta nunca fica restrita a uma elite: ela escorre para o mercado, chega ao comércio, ao transporte, aos alimentos, aos remédios e, inevitavelmente, ao consumidor final.
O mais grave, porém, não é apenas o conteúdo do projeto, mas a forma como ele foi aprovado. O texto final foi disponibilizado poucos minutos antes da votação, que ocorreu por volta das duas horas da manhã. Um Parlamento que legisla às pressas, na calada da noite, sem debate amplo e sem dar tempo sequer para que os próprios deputados leiam o que estão votando, age contra a democracia e contra o eleitor que o colocou ali.
Dos parlamentares presentes, apenas cerca de 25% se posicionaram contra o aumento de impostos. A ampla maioria preferiu seguir a cartilha da arrecadação fácil, sacrificando crescimento econômico, geração de empregos e o alívio que o país tanto precisa. É uma escolha política clara: ampliar o poder arrecadatório do Estado em vez de enfrentar desperdícios, privilégios e má gestão do dinheiro público.
O discurso oficial tenta vender a ideia de justiça fiscal, mas a realidade é outra. Fintechs mais tributadas significam crédito mais caro. Investimentos penalizados significam menos poupança produtiva e menos crescimento. Redução de incentivos fiscais, sem critério e sem transição responsável, significa perda de competitividade e repasse de custos. Nada disso fica restrito a planilhas de grandes empresas; tudo isso bate direto no cotidiano do cidadão comum.
A sessão expôs ainda um problema estrutural do Congresso: a desconexão entre representantes e representados. Deputados eleitos com promessas de responsabilidade fiscal, defesa do contribuinte e combate ao excesso de impostos agiram exatamente no sentido oposto. Traíram a confiança de quem votou neles acreditando em um Estado mais eficiente e menos voraz.
Diante desse cenário, resta ao eleitor fazer o que o Parlamento se recusou a fazer: exercer responsabilidade. As eleições de 2026 não podem ser tratadas como um rito automático ou um jogo de memória curta. Deputados que, na prática, votaram para aumentar impostos às escondidas não podem ser premiados com um novo mandato. Democracia também é consequência, e o voto é o instrumento mais poderoso para cobrar coerência e respeito.
O aumento de impostos aprovado na madrugada não foi apenas uma decisão econômica equivocada; foi um gesto político simbólico de desprezo pela transparência e pelo contribuinte. Cabe agora à sociedade lembrar quem estava acordado votando contra o povo — e agir, à luz do dia, quando chegar a hora de escolher novamente seus representantes.
**Poliglota é jornalista e Editor-chefe do Portal Opinião Brasília




