A decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de exigir que o ministro Fernando Haddad encontre R$ 30 bilhões para cobrir o rombo das contas públicas escancarou um problema que o governo vinha tentando adiar: o desequilíbrio estrutural entre arrecadação e gasto.
O discurso de “responsabilidade fiscal” do Planalto esbarra, mais uma vez, na realidade. Não há mágica: ou se aumenta a carga de impostos sobre a sociedade, ou se cortam despesas em áreas sensíveis. Ambos os caminhos são impopulares e politicamente custosos. O que o TCU fez foi simplesmente tirar o governo da zona de conforto e mostrar que a conta já não fecha nem com truques contábeis.
Haddad, que tenta se vender como fiador da confiança econômica, agora se vê encurralado entre a pressão de investidores, a resistência do Congresso e a cobrança da ala política do governo. Enquanto isso, quem paga a conta é a população: seja por mais impostos que sufocam o consumo e a produção, seja por cortes que reduzem serviços essenciais.
O episódio também deixa claro que o governo Lula ainda não apresentou um projeto consistente para controlar as finanças públicas. Vive-se de remendos, anúncios pontuais e expectativas futuras. Mas quando o TCU bate o martelo, o improviso já não basta.
A exigência de R$ 30 bilhões expõe, em última instância, a fragilidade de uma gestão que insiste em prometer muito e entregar pouco. Haddad pode até encontrar saídas de curto prazo, mas o buraco estrutural é profundo. Sem coragem política para encarar o problema de frente, o risco é apenas empurrar a crise com a barriga — até que o próximo ministro da Fazenda herde uma bomba ainda maior.
**Poliglota é jornalista e Editor-chefe do Portal Opinião Brasília