Está também em mansões do Lago Sul, coberturas no Guarujá, sítios em Atibaia, escritórios empresariais e, vez ou outra, palácios públicos
Em corretíssima afirmação, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, foi aplaudido por quem acompanhava o julgamento de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) sobre o drama da crescente mortalidade nas favelas cariocas e como combatê-la, na quinta-feira, 3.
“O que tem de principal no crime organizado do Rio de Janeiro não está nos bairros populares, nos morros ou periferias. Na verdade, está no asfalto, tanto no que se refere ao financiamento do crime organizado e das milícias, quanto no que se refere à lavagem de dinheiro”. Sim, ministro. O senhor tem razão e, se me permite, vou além.
O crime organizado, como sabido, não se resume ao tráfico de armas e de drogas. Ao contrário. Quadrilhas especializadas em crimes diversos operam também no âmbito dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), nas três esferas (municipal, estadual e federal), em conluio com parte do setor privado como já mostraram diversas investigações.
Brasília é asfaltada?
Lobistas poderosíssimos, que financiam clandestinamente campanhas políticas, circulam por gabinetes, restaurantes e mansões de Brasília, e não por turismo. Advogados estrelados, inclusive parentes de magistrados de instâncias superiores, abocanham contratos milionários e honorários de sucumbência de seis dígitos.
Empresários com histórico comprovado de corrupção continuam operando e participando de reuniões de primeiro escalão – e até fornecendo produtos e serviços ao próprio governo federal. Aliás, não raro, alguns são vistos em eventos pomposos ao lado de alguns de seus colegas de Judiciário, ministro Dino.
Certos partidos políticos, que recebem bilhões de reais para custeio, são comandados por condenados e presos por corrupção. Aliás, o próprio presidente da República, de quem o senhor foi ministro, também já foi condenado por corrupção (e lavagem de dinheiro), tendo suas penas posteriormente anuladas pelo STF, no âmbito de investigações de quadrilhas organizadas.
Morro dos Três Poderes
Operações policiais que desnudaram escândalos incontestáveis de corrupção, como o mensalão e a Lava Jato, tornaram-se, aos olhos da população, sinônimos do fracasso da Justiça brasileira e da vitória da impunidade dos “colarinhos brancos”. Pergunto: quantas operações assim, de fato, já produziram qualquer efeito prático no país?
Sim. O senhor tem toda a razão. Os grandes criminosos do Brasil não estão nos morros e nas favelas. Estão no asfalto! Em mansões do Lago Sul, coberturas no Guarujá, sítios em Atibaia, escritórios empresariais e, vez ou outra, palácios municipais, estaduais e federais. Suas armas não são fuzis, mas canetas.
Com informações O Antagonista