Alto Comando da Força permanece sem kids pretos após ápice das forças especiais no governo Bolsonaro
O Alto Comando do Exército fechou na terça-feira (24) a lista de promoção dos três novos generais quatro estrelas. Comandante Militar do Planalto à época do 8 de Janeiro, o general Gustavo Henrique Dutra não foi escolhido e passará à reserva.
A decisão do Alto Comando mantém fora da cúpula da Força os chamados “kids pretos” —grupo de militares com formação em forças especiais que teve integrantes envolvidos na trama golpista de 2022, segundo as investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado.
Os “kids pretos” tiveram grande presença na cúpula do Exército durante o governo Jair Bolsonaro (PL), com quatro forças especiais no Alto Comando da Força. Nenhum outro general com essa formação integrou o grupo dos 16 generais da mais alta patente após o início do governo Lula (PT).
Três generais foram escolhidos agora para a cúpula do Exército. São eles o general Luiz Gonzaga Viana Filho (infantaria), o general Luís Cláudio de Mattos Basto (infantaria) e o general Alcides Valeriano de Faria Júnior (cavalaria).
Dutra e outros cinco generais de três estrelas que disputavam uma das vagas do Alto Comando do Exército devem ir para a reserva no fim de julho, quando se espera que Lula assine o decreto promovendo os novos oficiais.
Hoje na vice-chefia do Estado Maior do Exército, Dutra se formou na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em 1987 e, nos anos seguintes, direcionou sua carreira para as forças especiais.
Como kid preto, comandou o contingente brasileiro no Haiti, em 2015, e participou da missão de verificação dos direitos humanos na Guatemala. Comandou ainda a Aman, o Comando de Operações Especiais e a 1ª Brigada de Infantaria de Selva, em Boa Vista (RR), antes de assumir o Comando Militar do Planalto.
Dutra era o responsável pela área na qual, em 2022, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro estabeleceram o principal acampamento em que pediam intervenção militar contra a vitória de Lula na eleição presidencial.
O general contou à Polícia Federal e à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal que o Exército atuou para a desmobilização gradual do acampamento em frente ao Quartel-General.
A falta de uma ação mais incisiva da Força contra os acampamentos foi criticada por autoridades.
A decisão de não desmobilizar à força o acampamento foi tomada pelo ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes.
Quando militares tentaram retirar os manifestantes do local, em 29 de dezembro, por decisão de Dutra, o chefe da Força ligou para o general e o chamou de irresponsável e inconsequente. Freire Gomes alegava, como mostrou a Folha, que uma operação de desmonte mal-ajambrada na véspera da viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos poderia incendiar os ânimos.
A avaliação de generais ouvidos pela Folha é que a promoção de Dutra poderia reacender discussões sobre a atuação do Exército diante dos acampamentos golpistas. O fato de ser um kid preto também pesou para o general ser preterido.
Oficiais-generais também destacaram que Viana Filho, oficial que disputava a vaga da turma de 1987, tem vasta experiência na área de inteligência e logística, predicado que o levou a ser promovido.