O problema da seca no Nordeste vai além da falta de chuva! Desvio de verbas públicas, corrupção na Administração
Alguns dos fatores pelos quais o nordeste ainda segue “pobre”!
Viver no nordeste é estar no paraíso! Foi esse paraíso que me trouxe para cá, no entanto sabendo que seria uma vida de ilusões, onde poucos desfrutam e muitos padecem; alguns, mesmo que vivendo ao lado sequer tiveram oportunidade de ver, quanto mais desfrutar das belezas naturais da região. É assim a vida de muitos nordestinos que ainda batalham para plantar e colher; criar seus animais e vê-los crescer sem padecer de fome e sede nos tempos de estiagem.
Não há nada mais triste que percorrer o sertão em tempos de seca! Talvez, por estarem mais “acostumados” a sofrer ano após anos não se deprimam tanto quanto alguém do Sul, Sudeste e Centro Oeste do Brasil que chega para visitar a região.
Sou da Centro Oeste; quando resolvi me mudar para o Ceará já sabia como era a vida por lá. Tudo muito lindo, regiões paradisíacas; a orla de Fortaleza um espetáculo, com tudo que há de melhor em se tratando de restaurantes e vistas deslumbrantes, percorrendo um pouco mais, em alguns bairros nobres você também encontrará excelentes discotecas e bares da moda. No entanto, Fortaleza é uma cidade mal cuidada, talvez sempre tenha sido mal administrada e por isso segue dessa forma. Apesar de ter me apaixonado por ela desde o primeiro instante que a vi, sempre a considerei assim (suja, violenta – muito embora, de um povo feliz). São os contrastes da Grande capital Cearense.
Voltando ao sertão, o que mais dói é ver os animais trotarem com dificuldade, numa magreza medonha. Difícil acreditar como ainda param em pé em meio ao solo árido, cheio de espinhos e carcaças por todo lado. Essa é uma das visões que se tem do semi-árido em tempos de seca prolongada; sem se falar, é claro, do aspecto das pessoas que lá vivem: semblantes tristes, corpos magros, pelé mal tratada pelo sol e pela falta de cuidados mínimos com proteção. Esses são os sertanejos sofredores, mas que amam sua terra e sempre com a esperança de que, em breve, uma chuva cairá no solo rachado e a vida resplandecerá como em um milagre – a fé em Deus é o maior consolo, é o que dá esperança de dias melhores!
É difícil não deixar as lágrimas rolarem vendo uma situação como essa, sabendo que pouco ou nada poderá ser feito por você em benefício dessas pessoas. Por outro lado, ter certeza que os governos poderiam sim fazer algo e nada fazem para melhorar a situação desses seres humanos é revoltante. Numa época de estiagem essas pessoas sobrevivem, praticamente, dos sonhos que ainda tem, pois as verbas destinadas as obras contra a seca e na melhoria de vida dessa gente são, na maioria absoluta das vezes, desviadas para alguns bolsos já abastados, em se comparando com os que delas necessitam.
A máfia dos banheiros populares no Ceará
Quem é Cearence ou vive há alguns anos no Ceará deve se lembrar da “máfia dos banheiros populares – ou banheiros fantasmas”, que deveriam ter sido construídos com verbas públicas e “sumiram”, indo parar, exatamente, na “latrina” de alguns corruptos responsáveis pela administração de tal recurso. Segundo consta, até um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (Teodorico Menezes) estaria envolvido, além dele os prefeitos das cidades que receberiam os banheiros e também, o na época, secretário das cidades do referido Estado.
Famílias e mais famílias que vivem abaixo da linha da pobreza, pois não tem sequer um banheiro em condições ficaram, literalmente, “a ver navios”, só no sonho de ter um local mais confortável para fazer suas necessidades, no entanto quem está “fedendo” são os que roubaram deles a oportunidade de terem uma vida mais digna!
Falta decoro, falta vergonha na cara dos políticos brasileiros que ao invés de preocupar com o Brasil num todo, preocupam-se apenas consigo.
– “Vamos roubar tudo que pudermos, se nas eleições seguintes não nos elegermos já teremos nosso pé de meia feito”.
O fato é que dificilmente não se reelegem, veja Collor por exemplo, após 8 anos de “esquecimento” (condenado) candidatou-se ao mais importante cargo político, depois de Presidente, e se elegeu. Sinceramente, às vezes penso que merecemos viver assim. O povo brasileiro gosta de ladrão falando por eles e roubando por eles!
Caso das Cisternas (reservatórios de água)
No Ceará foram instaladas até o ano de 2013, 49 mil cisternas de placas de cimento em 113 municípios, no entanto, não se sabe “o porquê” as que faltavam ser instaladas foram substituídas por cisternas de polietileno, um tipo de plástico, 3 vezes mais caras que as outras e muito inferiores (se deformam e até racham com o tempo e o intenso sol que faz na região); infelizmente “alguém” achou melhor contratar esse tipo no lugar das anteriores – algum motivo há e não é para o benefício do povo que delas necessita, certeza que não!
Meados do mês de maio deste ano (2015) o Jornal Nacional (G1) apresentou uma reportagem sobre esse tipo de cisternas que foram enviadas no início do mês de março, pelo Governo Federal na responsabilidade do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca) mas que ainda se encontram armazenadas em um terreno na cidade de Granja, a 340 km de Fortaleza. O pior de tudo é que as chuvas, que já foram escassas, estão no fim, como poderão, as famílias cadastradas se beneficiarem com essas cisternas (“meia boca”) se quando forem instaladas (se forem) não haverá mais chuvas para enchê-las?
Enquanto isso o Governo do Estado do Ceará já decretou estado de calamidade pública na região metropolitana (Caucaia, Cascavel e São Gonçalo do Amarante), além dessas cidades mais 25 no interior estão nas mesmas condições ou piores.
É com grande pesar que se vê o povo do sertão passar por esse tipo de problema ano após ano. Os governos não fazem muito caso! Quando há uma possibilidade como essa do povo “sobreviver” mais tempo durante o período de estiagem, ao invés da Administração “correr” para resolver o problema, ou seja, instalar o mais rápido possível as cisternas enquanto há chuva para enchê-las, NÃO, resolve decretar estado de calamidade pública mas “obrigar” os responsáveis a instalar as tais cisternas, NADA!
Falta de água no nordeste e a transposição do São Francisco
O Nordeste brasileiro é detentor do maior volume de água represado em regiões semi-áridas do mundo. São 37 bilhões de metro cúbicos, estocados em cerca de 70 mil represas. A água existe, todavia o que falta aos nordestinos é uma política coerente de distribuição desses volumes, para ao atendimento de suas necessidades básicas.
O projeto Transposição do São Francisco é remanescente de uma ideia que surgiu na época do Império, visa ao abastecimento de cerca de 12 milhões de pessoas no Nordeste Setentrional, com as águas do rio São Francisco. Ele foi idealizado para retirar as águas do rio através de dois eixos (Norte e Leste), abastecer as principais represas nordestinas e, a partir delas, as populações. Em 2012 as obras ficaram praticamente paralisadas, com alguns trechos dos canais se estragando já apresentando rachaduras.
Questões como a perfuração de solos com constituição mais dura do que o previsto afetaram o andamento das obras e o orçamento. Novas exigências do Ibama representaram quase R$ 1 bilhão a mais, valor não previsto inicialmente.
O orçamento passou de R$ 4,8 bilhões para R$ 8,2 bilhões e agora, segundo o Ministério da Integração Nacional, a transposição só deve ser finalizada em dezembro de 2015. A conclusão está próxima de 70% do total, segundo a pasta.
Quando ocorreu a paralisação das obras, os sertanejos chegaram a temer que a Transposição não fosse concluída. Com o atual ritmo, pessoas como o comerciante Mauro Barbosa esperam que secas extensas não sacrifiquem tanto a população.
“Gastar o que se gasta com carro-pipa… É melhor uma obra dessas mesmo. Tem muita gente precisando. Tendo água, tem comida”, acredita Barbosa, morador de Monteiro.
O túnel de Monteiro, que fica entre a cidade na Paraíba e Sertânia (PE), é um dos que segue em ritmo intenso de obra. Com 3 quilômetros de extensão, a rocha está sendo perfurada em um ritmo de dois a quatro metros por dia, de acordo com o tipo de material encontrado. Próximo, em Sertânia, a Barragem de Barro Branco ergue seu vertedouro e vai acertando o terreno, já desmatado.
O São Francisco terá água para todos?
Apesar de o Ministério da Integração afirmar que a Transposição não afeta o rio em si, moradores do entorno da obra seguem preocupados. A gestora de uma escola pública municipal em Floresta (PE), Rosângela de Souza, teme pelo futuro do curso d’água, especialmente devido à seca prolongada
“A gente vê a situação do Rio São Francisco ir se agravando, fica muito preocupado. Como ele vai aguentar dar água para tanta gente se está ficando seco aqui? Se estivesse chovendo, tudo bem”, avalia.
O engenheiro agrônomo João Suassuna é especialista em convivência com o Semiárido e há 20 anos estuda o rio como pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco. Para ele, a população tem razão em ficar preocupada com a Transposição. “O São Francisco não vai ter volume para atender tudo isso que estão querendo fazer com ele. Esse é o caminho mais curto para terminar de exaurir o rio”, opina.
Suassuna explica que o rio é de múltiplos usos. “Cerca de 95% da energia no Nordeste é proveniente dele. Existe uma área irrigável importante, de 1 milhão de hectares, na beira do rio, dos quais 340 mil hectares já estão irrigados e levam um volume importante das águas. Já está havendo um conflito enorme entre gerar energia e irrigar”, argumenta.
“A nascente do Rio São Francisco [em Minas Gerais] chegou a secar. Em regiões como Pirapora, São Francisco e Januária, o rio está praticamente seco. Já há uma limitação de volumes séria e você querer tirar mais volume para abastecer 12 milhões de pessoas e ainda irrigar 300 mil hectares? Isso é fisicamente impossível”, sentencia.
Para ele, cabe aos técnicos fazer com que essa água tenha um bom uso no futuro. “Uma equipe de hidrólogos tem que cair em campo para avaliar as reais necessidades hídricas. O que tem de informação sobre volumes circulando hoje é chute. Eles precisam determinar um número real a partir do qual quem tiver gerenciando essa ‘torneira’ do São Francisco vai ter que obedecer”, sugere.
Suassuna também defende que abastecimento de água passe a ser considerado assunto de segurança nacional. “Tem que ser entregue à Polícia Federal [esse controle], não pode ter interferência política nesse tipo de decisão”, disse.
Nesse diapasão percebo não ser a única a não confiar no sistema, pois se se defende que o abastecimento seja considerado assunto de segurança nacional é porque deixá-lo nas mãos dos administradores locais ou regionais certamente a coisa não iria fluir bem, poderia tornar-se até uma “máfia” como quase tudo que há nesse país!
Autoria/Comentários: Elane F. De Souza OAB-CE 27.340-B
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