Ex-chefe da Polícia Civil do RJ tentou atribuir assassinato de Marielle a rival dos irmãos Brazão, diz PF

Rivaldo queria que rival dos Brazão recebesse culpa FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL - 13.7.2018

Rivaldo Barbosa tentou fazer com que miliciano assumisse autoria do crime a mando do ex-vereador Marcello Siciliano

As investigações da Polícia Federal sobre o caso do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, que aconteceu em 2018, mostraram que um inquérito de 2015 pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro teria sido utilizado para forçar uma confissão falsa sobre a autoria das mortes.

No entendimento dos investigadores, o então chefe da corporação, Rivaldo Barbosa, e o delegado Giniton Lages queriam que o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curicica, afirmasse que participou do assassinato da parlamentar a mando do então vereador e rival dos irmãos Brazão, Marcelo Siciliano.

Para realizar a suposta fraude processual, Lages contou com uma testemunha-chave: o ex-policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, conhecido como Ferreirinha. Ele seria o responsável por apontar indícios que distanciariam as apurações sobre a morte de Marielle dos verdadeiros responsáveis do crime. O suposto plano incluía a resolução de um inquérito “hibernado” pela Divisão, o assassinato do sócio de Ferreirinha, Rafael Freitas Pacheco Silva, em 2015.

A PF conseguiu recuperar conversas entre a então testemunha-chave e Marco Antônio de Barros Pinto, integrante da equipe de Lages, que mostram um alinhamento de versões para que, segundo os investigadores, a denúncia contra Curicica pelo assassinato fosse viável.

Em um áudio, Barros Pinto chega a dizer que Ferreirinha teria que se “concentrar” para narrar uma versão dos fatos previamente combinada. “O que você soube do Rafael Pacheco a partir da tua ida na casa dele [Orlando Curicica] lá, que ele te chamou, te obrigou a ir né, e a partir daí você passou a trabalhar com ele, que foi obrigado a trabalhar com ele. Mas sem se vitimizar, sem se vitimizar, aquela coisa que a gente já conversou tá, então se concentra nesse sentido”, diz a transcrição de um áudio enviado ao ex-policial militar antes do testemunho.

Com a versão, Lages e sua equipe se dirigiram ao presídio onde Curicica estava preso, e apresentaram a denúncia. A ideia, segundo o PF, era conseguir uma confissão que indicasse a participação de Siciliano.

“Imputar o delito em tela ao então vereador Marcelo Siciliano teria o condão não só de garantir-lhes a impunidade, mas também fulminaria politicamente um dos concorrentes eleitorais da Família Brazão nos bairros da Zona Oeste carioca”, ressalta o relatório da PF.

De acordo com a corporação, o plano só não deu certo porque a então Procuradora-Geral da República à época, Raquel Dodge, requisitou à PF a abertura de inquérito visando apurar suposta interferência de autoridades policiais responsáveis pelo caso na tentativa de embaraçar ou dificultar a apuração do crime envolvendo os homicídios de Marielle e Anderson.

Com informações R7.com

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