Candidato de extrema-direita é favorito na eleição que ocorrerá no domingo. Relação com o vizinho deve esfriar com eventual vitória, mas não deixar de existir, avaliam especialistas
Especialistas ouvidos pelo g1 nesta sexta-feira (20) afirmam que uma eventual vitória do candidato de extrema-direita Javier Milei na eleição presidencial da Argentina, marcada para o próximo domingo (22), deve enfraquecer as relações políticas e diplomáticas do país vizinho com o Brasil.
Entretanto, de acordo com esses especialistas, a possível eleição de Milei não deve resultar em uma ruptura das relações entre os dois países, em especial os comerciais. A Argentina é o principal parceiro econômico do Brasil na América do Sul.
Crítico do governo Luiz Inácio Lula da Silva, Milei já classificou o petista como “socialista com vocação totalitária” e disse que o Mercosul, bloco econômico fundado por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, é um “fracasso”.
Segundo a colunista do g1 Julia Duailibi, o governo brasileiro tem monitorado com atenção a eleição no país vizinho e acredita que a vitória de Milei representaria um “retrocesso diplomático” na relação Brasil-Argentina.
Lula tem preferência pela candidatura de centro-esquerda de Sergio Massa, atual ministro da Economia na Argentina que é apoiado por Cristina Kirchner.
Relações devem ‘esfriar’
Para Regiane Bressan, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista em integração da América Latina, uma vitória de Milei pode até “esfriar” a ligação do Brasil com a Argentina, mas as relações não vão deixar de existir.
“Um país depende do outro. No momento, a Argentina precisa mais de nós. O Brasil, devido às relações no Mercosul, enxerga no país latino-americano um parceiro em exportações de industrializados”, afirma.
Carlos Eduardo Vidigal, doutor em Relações Internacionais e membro do Núcleo de Estudos do Mercosul da Universidade de Brasília (UnB), afirma acreditar que a ideia do candidato de tirar a Argentina do Mercosul não será efetivada.
“Não vejo a possibilidade de ele alterar determinadas integrações bilaterais, inclusive com o Brasil e o próprio Mercosul. Entendo que as relações comerciais e os investimentos recíprocos já consolidados, dificilmente, serão afetados”, declarou o especialista.
Vidigal avalia ainda que a relação de Milei com o presidente Lula tende a ser conturbada, a exemplo do que ocorreu entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com o atual mandatário argentino Alberto Fernández, que é de centro-esquerda.
“Seriam vários atritos cotidianos, alfinetadas de um lado e de outro. Essas divisões provocam o esvaziamento da pauta política e atrapalham diversos foros multilaterais” complementa o especialista.
Além de participar do Mercosul, a Argentina iniciou nesta última terça-feira (17) um processo de adesão ao grupo Brics, segmento de países emergentes que buscam crescimento econômico.
Para Hussein Kalout, conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o Brics sairia prejudicado caso Javier Milei recue, se eleito, nas relações com o grupo.
O candidato já anunciou em eventos de campanha que pretende priorizar vínculos com Estados Unidos e Israel.
“Se o governo argentino recuar com a entrada nos Brics, o grupo agiu de forma precipitada em permitir a associação. Pode mostrar que o bloco não tem coesão e colocar em jogo a atratividade do pacto”, analisa Kalout.
Tendo em vista a possibilidade de tensão entre Argentina e Brasil com a possível vitória do Javier Milei, apelidado pelos argentinos de “El loco”, o especialista sugere que os países repensem uma relação política para além do período de mandato presidenciais.
“Já que existe um matrimônio e nenhuma das partes têm direito ao divórcio, é necessário pensar além de quatro anos, livre de qualquer ideia política. É uma boa saída para cessar a tensão entre os países da América e pôr um fim na oscilação política”, disse.
Com informações G1