Em editorial, jornal cobra apuração das denúncias de cobrança de uma ‘taxa de proteção’ por guardas civis e membros do PCC
A possível cobrança, por membros da Guarda Civil e por integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), de uma taxa de proteção aos comerciantes da região da Cracolândia começou a ser investigada pela Polícia Civil de São Paulo, de acordo com anúncio da Secretaria Estadual de Segurança Pública.
“Os zumbis da Cracolândia logo se transformaram em uma nova oportunidade de negócio”, afirma o jornal O Estado de S.Paulo, em editorial publicado na edição desta terça-feira, 13, com o título “O ‘pizzo’ mafioso no centro de São Paulo”, em referência à taxa de proteção exigida pela máfia.
O inquérito foi anunciado depois que o jornal fez uma reportagem informando que criminosos, do PCC e da Guarda Civil, exigiam até R$ 30 mil para dar proteção a comerciantes que temem ser atacados por usuários de drogas da região. Os saques, os roubos e furtos se tornaram comuns nos comércios das ruas próximas. Para sustentar o vício, os “zumbis” da Cracolândia atacam pedestres e motoristas desavisados e lojas.
“À anomia, juntou-se o escárnio”, critica o Estadão. “Espera-se que o inquérito policial anunciado pela Secretaria da Segurança Pública apure o papel de cada integrante dessa societas sceleris”, afirma o Estadão.
À extorsão, a título de proteção, somam-se as cenas de mais um cerco violento a motoristas que passavam pela rua Vitória, na sexta-feira 9. Imagens gravadas no local mostram os usuários de drogas jogando pedras nos vidros dos carros e batendo na lataria dos automóveis com pedaços de pau. Os policiais militares reagiram.
Essas cenas, diz o Estadão, retratam “a sensação de impotência dos paulistanos diante do fato consumado de que uma parte da cidade foi sequestrada pelo crime”. “Depois de décadas de descaso e ideias fracassadas, a Cracolândia provou-se mais uma vez imune ao poder público, tornando-se zona de guerra no meio da maior cidade brasileira.”
Como causa do problema, que começou há 30 anos, com “pouco mais de 20 ou 30 usuários” perto da Estação da Luz, o jornal cita a “conivência, desídia ou incompetência dos órgãos de segurança e dos gestores públicos”. E, até agora, todas as respostas fracassaram. “A visão de uma multidão de esfarrapados – homens e mulheres destruídos pelo consumo voraz de crack e de outras substâncias entorpecentes – já despertou as mais variadas respostas do poder público, com mais ou menos vigor, mas sempre com o mesmo resultado: fracasso.”
Com a tolerância das autoridades ao tráfico e consumo de drogas que ocorre à vista de todos, “o centro de São Paulo se tornou refém de uma turba que se movimenta como nômade, saqueando lojas, roubando pedestres e praticando furtos para sustentar o vício”. Com isso, comerciantes que estão no local há mais de 30 começaram a fechar as suas portas. “Clientes com medo deixaram de caminhar pela área que tem a maior parte do comércio justamente na rua. Restaurantes fecharam.”
O jornal afirma ainda que a cidade não pode permitir que seu centro “seja engolido pelos horrores da destruição de vidas pelas drogas, do terror contra os cidadãos, da inviabilidade econômica e do triunfo de um poder paralelo” e conclui que apesar da “necessidade de salvar os usuários de drogas, é preciso agir com rigor contra os que transformaram o centro de São Paulo num inferno”.
Revista Oeste / Estadão