O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Mota (Republicanos-PB), tem como chefe de gabinete uma assessora que é investigada pelo Ministério Público por improbidade administrativa
Ivanadja Veloso, que trabalha com Mota desde seu primeiro mandato, em 2011, é acusada de embolsar o salário de um funcionário fantasma da Câmara. Ela nega a acusação.
De acordo com o MP, o esquema teria ocorrido entre 2005 e 2009 e causado um dano de mais de R$ 220 mil ao erário. Na época, Ivanadja atuava no gabinete do deputado Wilson Santiago (Republicanos-PB) e tinha uma procuração para movimentar a conta de um servidor que não aparecia em Brasília. O funcionário público, cunhado do deputado, trabalhava em uma prefeitura. O caso foi revelado pelo portal Metrópoles.
Ivanadja foi demitida no fim de janeiro de 2011 e, no dia seguinte, quando Mota tomou posse, passou a integrar o gabinete dele.
Denúncias recentes apontam que práticas semelhantes também ocorreram sob a gestão do atual presidente da Câmara. Nos últimos 14 anos, a assessora recebeu procurações para sacar e transferir valores da conta de dez funcionários, dos quais dois ainda permanecem na ativa. Além disso, descobriu-se que Mota mantinha ao menos três servidores fantasmas. Duas delas foram demitidas após reportagem da Folha de S.Paulo.
As investigações sobre Ivanadja também revelaram um intercâmbio de funcionários entre os gabinetes de Hugo Mota e Wilson Santiago, muitos deles envolvidos nas mesmas irregularidades. Além da chefe de gabinete, a ex-assessora Atina Pagidis trabalhou em ambos os gabinetes. Atina é mãe de Gabriela Pagidis, fisioterapeuta contratada por Mota enquanto atuava em uma clínica em Brasília. Gabriela foi demitida após a revelação do caso das funcionárias fantasmas. Outros três membros da família Pagidis já foram nomeados pelo presidente da Câmara.
No processo em andamento, Ivanadja indicou Atina Pagidis como testemunha imprescindível. À época, ainda não era pública a ligação dela com o servidor fantasma. Em sua defesa, Ivanadja argumentou que Atina tinha conhecimento do contexto e poderia esclarecer que ela jamais praticou atos de enriquecimento ilícito, nem próprio nem de terceiros. A defesa sustenta ainda que não houve dolo ou danos ao erário, o que descaracterizaria o ato de improbidade administrativa.
O MP, no entanto, não se manifestou sobre a oitiva e destacou a quebra de sigilo bancário da conta do servidor, que afirmou não saber sequer qual era sua conta bancária. As movimentações mostraram transferências frequentes assim que o salário era creditado, inclusive após a demissão do servidor fantasma.
Enquanto esse caso se arrasta há quase nove anos, as apurações sobre indícios de “rachadinha” e servidores fantasmas no gabinete de Hugo Mota podem avançar para o Tribunal de Contas da União, caso seja acolhido o pedido do procurador Lucas Furtado para investigar as eventuais irregularidades.
Fonte: VEJA