Com volta das chuvas, prefeitura de Porto Alegre suspende aulas e diz que fechará comportas para que água não volte a entrar

Prefeito Sebastião Melo, durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira — Foto: Reprodução / Prefeitura de Porto Alegre

Questionado sobre possível demora para alertar a população, prefeito Sebastião Melo diz que não foi pego de surpresa, mas admite que não esperava chuva tão intensa que alaga novas áreas

A chuva forte voltou a castigar a cidade de Porto Alegre, nesta quinta-feira (23), e o recrudescimento do nível do Rio Guaíba faz com que áreas onde água já havia começado a escoar voltem a alagar. Com a nova crise instaurada, e relatos de pessoas voltando a ficar ilhadas em suas casas ou em pontos da capital, o prefeito Sebastião Melo (MDB-RS) fez uma reunião de emergência com sua equipe e convocou uma coletiva de imprensa para falar sobre a situação. Melo comunicou a suspensão das aulas nas redes municipal e privada e disse que ordenou, também, o fechamento das comportas da cidade.

— Nós sabíamos dessa chuva, sim, tínhamos essa previsão, o governo do estado publicou e nós republicamos em nossas redes sociais da prefeitura, dizendo que poderia chover na Região Metropolitana de 60 a 100mm. Essa chuva concentrou muito hoje pela manhã, na Região Sul já choveu 100mm até agora. E aquilo que era um problema das áreas alagadas se estendeu para toda a cidade. Por conta da chuvarada, temos sério problemas, além das áreas alagadas. Então, temos que tomar algumas decisões: a primeira, é que vou suspender as aulas municipais e particulares — disse o prefeito.

Melo afirmou que, quanto mais veículos transitarem pela cidade neste momento, maiores são os riscos. Acrescentou que a suspensão das aulas deve valer, a princípio, até sexta-feira. “A chuva vai diminuindo, e volta certa normalidade”. Disse ainda que as escolas municipais ficarão abertas para acolhimento e as cozinhas funcionarão para atender a população.

O prefeito anunciou também o iminente fechamento das cinco comportas que, neste momento, atuam para escoar a água da cidade. A previsão dos profissionais do município é de que, ainda nesta quinta-feira, a pressão da água comece a inverter o processo, enchendo a cidade, ao invés de esvaziá-la.

— Tomamos a decisão de fechar as comportas. Do ponto de vista do rio, a chuva começa a chegar amanhã e, segundo os meteorologistas e hidrólogos, isso pode elevar de 40 a 50cm o nível do Guaíba. Então, tomamos essa decisão, vamos fazer isso hoje — disse Melo.

O diretor do Departamento de Água Esgoto municipal (DMAE), Maurício Loss, comentou sobre a decisão, e disse que, hoje, há 10 das 23 estações de bombeamento e drenagem de água da cidade funcionando.

— Nesse momento da chuva, as comportas ainda ajudam o escoamento das águas, até porque não temos todas as estações de bombeamento funcionando. Caso entendamos que há uma inversão, ou seja, ao invés de sair há indicativa de que a água esteja entrando, fecharemos as comportas. Provavelmente, isso vai ocorrer hoje à tarde — disse Loss.

Perguntado se encara a situação das estações de bombeamento como um colapso no sistema de drenagem na cidade, Sebastião Melo disse que não considera. Questionado sobre como definiria a situação, o chefe do Executivo municipal desconversou.

Melo falou ainda sobre a possibilidade de fechar o corredor humanitário, porque a pista já começa a apresentar desgaste e pode representar um risco caso a chuva continue forte. Pediu para que só passe por lá quem realmente estiver participando da operação da ajuda. Pediu também para que parceiros da prefeitura, voluntários e igrejas não desativem os abrigos.

Acumulado passa de 130mm, segundo Inmet

O prefeito foi questionado sobre o motivo pelo qual não tomou as decisões preventivas ainda na quarta-feira, quando já sabia-se que iria chover forte na cidade. Melo disse que entende os questionamentos, mas afirmou que, neste momento de crise, é “tudo difícil”.

— A prefeitura não foi pega de surpresa, mas a própria meteorologia, e eu confio muito neles, disse que iria chover de 60mm, 80mm, 90mm, mas essa chuva caiu de forma mais intensa. Tão logo isso aconteceu eu vim para o DMAE, depois para a comissão de crise, e tomamos as decisões. Poderia ter feito isso antes? Com certeza é o questionamento de muitos e respeito essa posição, mas penso que nós agimos… muitas vezes num momento de crise é sempre muito difícil, tudo é difícil… poderíamos ter suspendido as aulas (ontem)? Talvez. Mas a prefeitura não foi pega de surpresa. Sabíamos que ia chover, mas a chuva foi extremamente forte pela manhã.

Em seguida, o município afirmou que última atualização do Inmet indica que, desde meia-noite, choveu um acumulado de 100mm a 130mm em Porto Alegre em determinados pontos.

Há possibilidade de chuva de até 100mm, vento de até 100 km/h e queda de granizo em Porto Alegre e outras partes do estado — Foto: Giulian Serafim/Prefeitura de Porto Alegre

Guaíba só deve baixar em 12 dias, diz Serviço Geológico

Previsões do Serviço Geológico do Brasil indicam que o nível do Rio Guaíba, em Porto Alegre, pode levar pelo menos 12 dias para ficar abaixo da cota de inundação, de 3m, por conta da volta das fortes chuvas ao Rio Grande do Sul. De acordo com última atualização, às 13h desta quinta-feira (23), a elevação está em 3,90m. A tendência, segundo o serviço do governo federal, é de que volte a crescer um pouco antes de cair.

— Com os novos eventos de chuvas que já estão ocorrendo, pode haver repique, cuja intensidade dependerá do volume dessas chuvas — comentou o coordenador do Sistema de Alerta Hidrológico do SGB, Artur Matos.

Matos pontuou que esses repiques são historicamente observados no Guaíba após ocorrências de inundações, o que pode atrasar o retorno à normalidade. Ainda ele, em todas as outras estações monitoradas por meio do Sistema de Alerta Hidrológico das bacias dos rios Caí, Taquari e Uruguai, o nível está reduzindo.

As previsões para o Guaíba, realizadas com base na modelagem elaborada pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e os dados dos Sistema de Alerta Hidrológico foram apresentadas durante a 5ª Reunião da Sala de Crise da Região Sul, promovida pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), nesta quinta.

Imagens mostram água voltando

Moradores do bairro Menino Deus, no Centro de Porto Alegre, publicaram uma série de vídeos mostrando as ruas da cidade voltando a serem alagadas pelas chuvas que afetam a capital gaúcha. As ruas André Belo, Barão de Gravataí e 17 de Junho foram atingidas com a subida rápida das águas após o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) desligar uma casa de bombas, a Ebap 16, para colocar mais um motor em funcionamento, às 16h21. O Dmae religou a bomba posteriormente.

Pelo menos 18 pessoas foram resgatadas no Menino Deus. De acordo com soldados do Corpo de Bombeiros Militar, 17 comerciantes foram resgatados na rua José de Alencar. Uma idosa também foi resgatada de um apartamento na localidade, na esquina com a rua Antenor Lemos, de acordo com o Correio do Povo. A mulher foi resgatada por uma guarnição da Brigada Militar. De acordo com os policiais, ela passa bem.

Diversos bairros da cidade estão registrando novos alagamentos e subida da água em várias localidades na manhã desta quinta-feira (23). No Centro, o shopping Praia de Belas, que já tinha sido reaberto, fechou novamente agora ao meio-dia, por causa da nova elevação da enchente no entorno. Bueiros nas esquinas das ruas João Manoel e Sete de Setembro estão transbordando.

De acordo com a GZH, na Avenida Praia de Belas, a partir da Rua Edmundo Bitencourt, todos os bueiros estão jogando água para a via, que já se encontra parcialmente alagada, causando acúmulo nas vias. A rua Doutora Rita Lobato é um dos pontos mais críticos. A água já está na altura da canela na Praia de Belas com Barão do Gravataí.

A água também voltou a inundar o acesso ao Hospital Mãe de Deus. No início do mês, também por conta da enchente, quase 280 pacientes foram transferidos do local para outros hospitais.

A prefeitura de Porto Alegre informou uma lista de Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) que foram fechados no turno da tarde desta quinta-feira, dia 22, em razão de alagamento ou dificuldade de locomoção das equipes. Os CRAS são Centro Sul, Restinga, Quinta Unidade, Santa Rosa, Eixo Baltazar, Extremo Sul, Restinga Velha, Sul, Glória.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) havia emitido três alertas na quarta-feira (22) para tempestades no estado. O aviso mais recente, laranja, e com validade até as 10h de quinta-feira (23), destacava a possibilidade de chuva de até 100mm, vento de até 100 km/h e queda de granizo nas regiões Central, Metropolitana, Sul, no Litoral Sul, Fronteira Oeste, Vales, Noroeste e Campanha.

Os outros dois alertas, divulgados também nesta quarta-feira, amarelo laranja, eram válidos até as 12h de quarta-feira e destacavam municípios localizados no Sul, no Litoral Sul, na Campanha, no Centro, na Fronteira Oeste e no Noroeste. Em publicação posterior, o Inmet confirmou que, das 0h01 até 12h, choveu 66mm na Estação Jardim Botânico e 96,6mm na Estação Belém Novo.

O Globo