Prisão domiciliar não é questão de justiça: é privilégio! Mas, no Brasil do STF seletivo, apenas para quem pode pagar – ou conhece quem manda
O Brasil é incorrigível. O STF é incorrigível. O todo-poderoso Alexandre de Moraes é incorrigível. E a elite política brasileira continua dando risada da nossa cara de trouxa.
Fernando Collor de Mello, condenado a oito anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, não vai mais para o xilindró. Vai para casa. Com tornozeleira eletrônica, médicos particulares, cama limpa, ar-condicionado, comida gourmet e vinho do bom. Alguém surpreso? Eu não.
E a “casa” não é uma qualquer. Aquele que “nasceu com aquilo roxo” cumprirá sua pena (pena?) em uma cobertura de 600 metros quadrados, avaliada em R$ 9 milhões pela Justiça do Trabalho na orla da Ponta Verde, o bairro mais nobre de Maceió. Sua “punição rigorosa” inclui piscina, elevador privativo, salas amplas, suíte master e vista definitiva para o mar.
Aos amigos do Rei, tudo
Tudo porque o Supremo Tribunal Federal que, segundo alguns de seus ministros, salvou a democracia brasileira, decidiu que o ex-presidente — aquele que um dia se vestiu de caçador de marajás para enganar o país — cumprirá pena em prisão domiciliar. Tudo dentro da lei, claro, como sempre ocorre quando o réu usa terno, circula pelos salões de Brasília e tem sobrenome que abre portas e fecha processos.
Collor recebeu, segundo a acusação, R$ 20 milhões em propina. Esperou sentado por 15 anos enquanto a Justiça “trabalhava”. E agora, condenado, recebe como castigo todo o conforto do lar. O argumento? Idade avançada e problemas de saúde. A mesma alegação jamais aceita quando o réu é um pobre diabético ou hipertenso, preso por furtar uma garrafa de café. Aliás, como esquecer do caso Clezão, envolvendo justamente o mesmo Xandão?
Hoje, mais de 800 mil pessoas estão presas no Brasil, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Destas, cerca de 40% ainda não foram julgadas. A maioria é pobre, negra, jovem e vive amontoada em celas imundas, com acesso precário à água potável, comida de qualidade duvidosa e atendimento médico inexistente. Nenhuma delas foi para casa por pressão alta ou hérnia de disco.
O futuro repete o passado
Fernando Collor, vale lembrar, renunciou em 1992 para escapar de um processo de impeachment, e escapou. Trinta anos depois, finalmente condenado, mais uma vez sai ileso.
O tempo passa, a impunidade permanece e os poderosos seguem intocáveis. A conta nunca chega para essa turma. A vergonha na cara, muito menos. Até porque, se nada lhes acontece de pior, por que deveriam mudar os modos, não é mesmo?
Prisão domiciliar não é questão de justiça: é privilégio! Mas, no Brasil do STF seletivo, apenas para quem pode pagar – ou conhece quem manda. Depois os capas pretas reclamam da revolta popular e dizem não entender por que são tão odiados. O ministro Barroso, rei desse tipo de vitimismo, que o diga.
O Antagonista