“Nunca antes na história desse país” cobramos tantos impostos, pagamos tantos juros, devemos tanto dinheiro e não entregamos nada
Há 45 anos, o chamado PIB per capita por paridade do poder compra, que significa, grosso modo, a relação entre o rendimento e a capacidade de consumo médios das pessoas de um país em relação a outras, de outros, colocava o Brasil no 48º lugar do ranking, exatas 22 posições acima da linha de corte, que divide os países mais ricos dos mais pobres.
Dez anos depois, o Brasil caiu nove posições e foi parar no 55º lugar, mas ainda 20 posições acima das nações mais pobres. Dez anos à frente, passamos para 71º lugar e fomos caindo, sucessivamente, até ocuparmos, hoje, a 87º posição, com previsão de caírmos mais duas, para 89º, em 2029, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Estes dados, que foram apresentados dias atrás pelo jornalista Eduardo Oinegue, da Band News, mostram que o Brasil, hoje, está apenas nove posições acima da linha que o separa da metade inferior – os países mais pobres do mundo. Ou seja, em quatro décadas e meia, não apenas não enriquecemos como empobrecemos substancialmente.
Presos no labirinto do atraso
Neste período, experimentamos “de tudo um pouco”. Abandonamos uma ditadura militar, elegemos presidentes, adotamos uma nova constituição, trocamos de moeda três – ou seriam quatro? – vezes, vencemos a hiperinflação, fomos governados pela esquerda e pela direita, e migramos do presidencialismo para uma espécie de parlamentarismo extraoficial.
Nossa população aumentou em quase 100 milhões de pessoas, e ainda que nossa renda per capita tenha subido, em relação ao planeta andamos como um cágado idoso, usando bengala. “Ah, estamos entre as dez maiores economias do mundo”. Bem, ainda assim, os demais cresceram, em média, pela paridade do poder de compra, muito mais que a gente.
Ostentamos índices vergonhosos, como mais da metade dos lares sem saneamento básico. Nossa taxa de analfabetismo e analfabetismo funcional nos coloca dentre as piores nações do globo. Número de mortes violentas, número de mortes por acidente de trânsito, taxa real de juros… Escolham o tema e lá estaremos dentre as piores colocações no mundo.
Uma culpa, muitos culpados
Em 1980, a renda per capita da Coreia do Sul era 17% da renda per capita americana. A do Brasil, 25% em valores absolutos. Ou seja, éramos mais ricos que os sul-coreanos. Hoje, a renda per capita dos asiáticos é 45% a dos americanos e a nossa, 14%. O nosso mesmo empobrecimento relativo ocorre igualmente em relação à Irlanda, Israel, Espanha, China, Índia…
A culpa não é de um governo ou de um grupo político, mas do conjunto da sociedade, inclusive das elites política, empresarial, artística e intelectual. Como nação, escolhemos o compadrio, o corporativismo, o patrimonialismo e a impunidade. Adotamos, sustentamos e mantemos um sistema político eleitoral que, no limite, nos mantém reféns de nós mesmos.
Neste sentido, nos cabe apenas identificar e analisar os piores, dentre os piores, e os menos piores, dentre os mesmos piores. Assim, forçoso reconhecer que o lulopetismo merece o troféu “péssimo dos péssimos”, pois está no quinto mandato – não consecutivo -, tendo governado o país por 16 dos últimos 23 anos, sempre liderado por Lula da Silva.
Não aprende nada, não esquece nada
Estes dias, ao ouvir o presidente da República anunciar triunfante, orgulhoso e heróico, mais um programa assistencialista eleitoreiro, desta vez, gás gratuito para mais de 15 milhões de pobres, como outro dia foi energia elétrica, também gratuita, para mais de 60 milhões de brasileiros, me lembrei do comentário acima (do meu colega jornalista).
O governo, ou melhor, o governante, que suga mais de 30% da riqueza da sociedade em impostos acachapantes, majoritariamente para sustentar uma casta privilegiada de servidores públicos e de empresários amigos, além de pagar aposentadorias humilhantes aos “comuns” – e milionárias aos apaniguados -, acredita-se benevolente e “pai dos pobres”.
Este mesmo governante, que estoura as contas públicas, obrigando o Banco Central a remunerar a ínfima porção de quem tem dinheiro aplicado no país com juros estratosféricos, jacta-se por retirar parte dos miseráveis da miséria para, anos depois, quando ocupar o poder, fazer o mesmo: retira hoje, recoloca amanhã e retira novamente depois de amanhã.
Vergonha, não orgulho
Este círculo vicioso perverso de perpetuação da pobreza, combinado com a quase equivalente perpetuação no poder do lulopetismo que, se não é o único responsável, como já dito, é o principal, tem em sua raiz fraturas culturais estruturais até então insanáveis, originadas e originárias do patrimonialismo conveniente da classe política brasileira.
Quando Lula humilha uma senhora pobre, zombando de sua falta de dentes, prometendo uma dentadura nova – com o dinheiro dela mesma -, ou distribui – sempre com o dinheiro alheio – fraldas geriátricas, para além do ato populista messiânico, aprisiona os pobres em um modelo de sociedade em que o Estado que os empobrece é o Estado que lhes auxilia.
O lulopetismo deveria se envergonhar de suas não conquistas (desenvolvimento econômico e social do país) e de suas conquistas (empobrecimento contínuo da nação e do povo). Mas, ao contrário, triunfante, alardeia que “Nunca antes na história desse país” cobramos tantos impostos, pagamos tantos juros, devemos tanto dinheiro e não entregamos nada.
O Antagonista