A possível captura de Nicolás Maduro pelos Estados Unidos não seria apenas o fim de um ditador continental — seria o início do maior terremoto político da América do Sul desde a prisão de Noriega. E, ao contrário do que muitos preferem acreditar, esse abalo não pararia na fronteira com Roraima. Ele seguiria direto para Brasília.
Maduro não é apenas um autocrata isolado. Ele é o vértice de um sistema criminoso internacionalizado, investigado por órgãos norte-americanos como uma engrenagem estatal do tráfico global de cocaína. O chamado Cartel de los Soles não foi uma ficção conspiratória: foi, por anos, a espinha dorsal logística de exportação de drogas para os mercados da Europa, Caribe e África.
Se Maduro for capturado, não cairá como um herói revolucionário injustiçado. Cairá como um ativo valioso, uma peça negociável numa mesa em que o FBI e a DEA não jogam para perder. E quando um líder acuado encara décadas de prisão, ele fala. Ele entrega. Ele negocia sua sobrevivência.
E é aí que o governo brasileiro entra no radar.
O fantasma das conexões políticas
A proximidade diplomática entre Brasília e Caracas nos últimos anos sempre foi tratada como “normalização institucional”. Mas o subtexto disso nunca foi devidamente explicado: por que tamanha blindagem ao regime mais denunciado por agências internacionais como parceiro estratégico do narcotráfico estatal?
O governo brasileiro abriu portas, devolveu legitimidade ao chavismo e tentou reintroduzir Maduro no jogo político continental.
Mas que contas serão cobradas caso Maduro detalhe — em delação — como sua máquina criminosa se articulava com aliados políticos na região?
Não se trata de afirmar culpa. Trata-se de reconhecer que:
▪ governos alinhados a Caracas podem ser citados,
▪ políticos que mantiveram relações privilegiadas podem aparecer,
▪ operações financeiras e acordos estratégicos podem surgir em documentos apreendidos.
E se isso vier à tona sob tutela das autoridades americanas, Brasília não terá controle sobre o dano.
Um governo vulnerável a revelações
O atual governo brasileiro, que insistiu em blindar o regime venezuelano sob o discurso de “integração regional”, pode se ver subitamente exposto a um escrutínio internacional impiedoso.
Não será mais o Brasil investigando a Venezuela.
Serão os Estados Unidos investigando quem a Venezuela ajudou, financiou, protegeu ou influenciou.
E esse tipo de investigação não segue o rito lento, autocensurado e negociado da diplomacia sul-americana.
Quando Washington decide abrir um caixa-preta, ninguém escolhe o que será revelado.
O efeito dominó que Brasília teme
Num cenário de captura de Maduro:
- delações de generais chavistas,
• documentos internos sobre rotas e aliados,
• registros financeiros de campanhas estrangeiras,
• mapas logísticos de distribuição,
tudo isso pode cair na mesa dos EUA — e vazar.
E se houver qualquer menção, mesmo lateral, ao governo brasileiro, o impacto político será devastador.
O Planalto sabe disso. E essa pode ser a explicação silenciosa para o desconforto, a hesitação e o cuidado quase desesperado em defender Maduro enquanto o mundo democrático pede o contrário.
Um governo que corre o risco de cair na mesma vala moral
Se Maduro ruir, ele não ruirá sozinho.
Levará consigo décadas de cumplicidades, alianças, apoios e acenos políticos que hoje se tentam vender como “relações diplomáticas normais”.
Mas a história é implacável com quem escolhe parceiros errados.
E a pergunta que assombra Brasília é simples, brutal e inevitável:
Quando o narco-Estado venezuelano desmoronar, o que seus escombros revelarão sobre o governo brasileiro?
Da redação por Jorge Poliglota…




