A possível cassação do deputado Glauber Braga, em análise hoje na Câmara dos Deputados, representa um daqueles momentos em que o Parlamento é chamado a reafirmar seus próprios limites. Não se trata apenas de avaliar a conduta de um parlamentar, mas de definir que tipo de comportamento a instituição considera aceitável dentro de seu espaço de representação.
Glauber construiu sua imagem política sobre um estilo combativo que, embora legítimo no campo do debate democrático, muitas vezes avançou sobre fronteiras que a própria Casa julga essenciais para seu funcionamento. O acúmulo de episódios de confronto direto, desrespeito às normas regimentais e choques contínuos com colegas fez com que sua atuação se tornasse, para parte expressiva do Parlamento, mais um elemento de tensão do que de contribuição ao diálogo político.
Um processo de cassação não é — nem deveria ser — decisão trivial. Ele carrega consequências institucionais e políticas que exigem cautela. No entanto, também é verdade que o Parlamento não pode se tornar refém de posturas que, sob o pretexto de combatividade, enfraquecem o espaço de debate e corroem a credibilidade da própria instituição. A crítica vigorosa é saudável; a desordem permanente, não.
Se o plenário optar por avançar na cassação, o gesto deve ser lido menos como uma retaliação e mais como um esforço da Câmara para afirmar que há regras, ritos e limites que precisam ser respeitados — independentemente de alinhamentos ideológicos. A democracia não se sustenta apenas na pluralidade, mas também na observância das normas que permitem que essa pluralidade se manifeste.
Caso se confirme, a decisão enviará um recado claro: o Parlamento pretende exercer sua autoridade sobre si mesmo, reafirmando que o mandato conferido pelo voto popular é um instrumento de representação, não uma licença para ignorar regras. Concordem ou discordem da medida, os deputados estarão definindo um parâmetro importante para o futuro da Casa.
Em tempos de radicalizações e ruídos constantes, a reafirmação de limites institucionais pode não resolver todos os problemas do debate político brasileiro — mas é, sem dúvida, um passo necessário.
A cassação de Glauber Braga poderá marcar uma virada importante, mostrando que a Câmara busca recuperar o mínimo de respeito interno e externo, sobretudo em um momento em que o país necessita de instituições firmes, estáveis e capazes de se impor diante de radicalismos de qualquer matiz.
Para muitos, trata-se de uma decisão que chega tarde — mas que, ao menos, chega.
**Poliglota é jornalista e Editor-chefe do Portal Opinião Brasília





