- PUBLICIDADE -

10 coisas que a direita pode aprender com o julgamento de Bolsonaro

Aprender?!, você pergunta. Sim, aprender. Simplesmente porque esse tipo de evento político que começa nesta terça (2) sempre tem algo a ensinar aos poucos que ainda se dão ao trabalho de ouvir. Ouvir atentamente. É perseguição, é injusto, é um jogo de cartas marcadas? Sim. O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro é tudo isso e entendo quem se entrega à indignação estéril (vem cá, deixa eu te dar um abraço!) ou à relativização covarde. Mas não é o meu caso e, quero crer, tampouco é o seu, leitor. Às lições, pois:

Mais união, menos unanimidade

Em se tratando da estratégia política, algo tão necessário a uma direita muitas vezes impulsiva, o julgamento de Bolsonaro ensina quatro coisas. Primeiro, a necessidade de união em torno de princípios que se oponham aos da esquerda. Convenhamos, o sectarismo e o policiamento ideológico fizeram um mal danado ao bolsonarismo, que trata qualquer discordância como dissidência e traição.

Conquistar corações e mentes

Outra: neste momento, e apesar de toda a ansiedade para 2026, o campo de batalha é mais cultural e formativo do que eleitoral. Prova disso é o imenso apoio que Alexandre de Moraes tem entre os formadores de opinião. Conquistar corações e mentes, contudo, leva tempo. Exige convencimento. E aí a coisa complica, porque sabemos que o bolsonarismo não tem tempo e a direita não costuma ter lá muita paciência, não. Eu que o diga!

Menos slogans, mais reflexão

Não chegamos a este ponto à toa. A perseguição aconteceria de um jeito ou de outro, mas as bravatas e a retórica insuflada deram aos perseguidores a justificativa de que eles precisavam. Oficialmente, Bolsonaro está sendo julgado por tentativa de golpe de Estado, etc. Mas sabemos que a condenação começou a ser redigida no “bastam um cabo e um soldado”, ganhou corpo com o “pede pra sair, Alexandre de Moraes, seu canalha!” e agora será carimbada à luz das sanções norte-americanas.

Crítica fraterna é melhor que aplauso fácil

O julgamento de Bolsonaro e o cerco ao bolsonarismo são consequências diretas do puxa-saquismo, da idolatria e sobretudo da rejeição às críticas, por mais bem-intencionadas e caridosas que elas sejam. Puxa-saquismo, idolatria e rejeição às críticas que, por sua vez, são sintomas de uma profunda insegurança. Ou a direita aprende a ouvir, ouvir com intenção, o que vou chamar aqui de críticas fraternas ou.

A urgência de formar novas lideranças

Quando um movimento político depende de apenas um personagem, por melhor que ele seja, basta derrubá-lo para acabar com a ideia que ele representa. Nesse caso, a esquerda é nossa melhor professora. Basta ver o caso de Lula, que surgiu com força já em 1989. Naquela época, porém, a esquerda tinha, vivas e atuantes, lideranças que iam desde Mário Covas e Leonel Brizola. Aliás, a disputa entre múltiplas lideranças pode ser muito benéfica. Isto é, desde que elas não busquem apenas o poder pelo poder.

Atuação política exige autoconhecimento

Agora vamos deixar as estratégias políticas de lado e olhar para dentro de nós. O julgamento de Bolsonaro nos ensina que, para entrar nesse lamaçal fétido da política, é preciso ter vocação. E, para saber se você tem vocação tanto para político quanto para eleitor, é preciso se conhecer. Para se conhecer, contudo, é preciso se mostrar vulnerável. E por aí vai. O ponto é: nem todo mundo tem estômago para enfrentar uma guerra. Você tem? (Eu não sei se tenho).

A perseguição fortalece os vocacionados

Quando você se descobre verdadeiramente vocacionado, não se importa tanto com as derrotas – e o julgamento de Bolsonaro é, sem dúvida, uma derrota. Não só o julgamento em si, mas todo o processo. Toda a humilhação. Só os verdadeiramente vocacionados, portanto, são capazes de absorver o golpe (sim, o golpe!) e olhar para além do retrato presente. Eles sabem se preservar porque sabem que serão necessários nas batalhas futuras. E porque agem por princípio, nunca por conveniência. Pena que sejam tão raros, esses vocacionados.

Compadecer-se do inimigo

Pois bem. Dizia eu que o julgamento de Bolsonaro é ou parece (parece porque é?) uma derrota para a direita. Na maioria, pois, essa derrota, e o sofrimento dela decorrente, se traduzirá em ressentimento e em desejo de vingança, perpetuando um ciclo perverso muito comum ao longo da história. Na minoria, no entanto, ela se transformará em motivação para que a injustiça não se repita – inclusive com nossos adversários.

A verdade que liberta não é a factual

verdade que liberta não é a factual. Não é a dos autos de um processo para lá de corrompido, nem a das páginas de jornal. A verdade que liberta, aquela que a direita tanto gosta de citar, é outra. É uma verdade muito mais profunda e que nem sempre está em sintonia com o espírito do tempo. Aliás, raramente está. A verdade que liberta não tem nada a ver com a culpa ou inocência de Bolsonaro, e sim com a intenção das decisões individuais. Deles e nossas.

Política é apenas um aspecto da vida

Política é legal e entendo que a disputa pelo poder tenha dado sentido à vida de muita gente que viu nela a possibilidade de fazer parte da história. E ainda por cima do “lado certo”. Mas a política não significa nada quando vira um fim em si. Quando se faz política pela política; quando se busca o poder pelo poder. Além disso, a disputa política não é a única forma de mudar o mundo para melhor.

Por Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo

- PUBLICIDADE -
- PUBLICIDADE -

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

- PUBLICIDADE -