Complicações são as mais comuns atendidas pelos Bombeiros e demandam agilidade e prontidão para garantir a vida dos pequenos
Na última quinta-feira (29/10), os pais de uma criança de 1 ano e 3 meses entraram pelas portas do 15º Batalhão da Polícia Militar, na Estrutural, com o bebê sem respirar no colo. Minutos antes, os três comemoravam o “mêsversário” da menina, que se engasgou com uma secreção. Por sorte, havia policiais disponíveis para socorrer a criança, que voltou a respirar e foi levada ao hospital.
Casos de engasgo e, por consequência, desfalecimento de bebês e crianças, assim como de ingestão de objetos não comestíveis são mais comuns do que parecem, mas são assustadores e perigosos na mesma medida. No primeiro trimestre de 2021, o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal atendeu 169 ocorrências e a maioria delas foram relacionadas a bebês e crianças nessa situação. São ocasiões nas quais o tempo é o inimigo da vida.
Por isso, é importante — e até mesmo imprescindível — que pessoas que morem ou tenham contato com crianças e bebês aprendam os primeiros socorros necessários nestes casos. À convite do Correio, o sargento João Almada, do CBM-DF, ensina a fazer as manobras de desengasgo e conta o passo a passo para cada situação: na qual a vítima está consciente, inconsciente ou se ainda respira. Confira:
Engasgou? Antes de mais nada, verifique o tipo de obstrução das vias aéreas
Ao notar que a criança engasgou, o primeiro passo mais relevante para o socorro é identificar o tipo de obstrução. Almada explica que verificar se a vítima respira definirá os próximos passos.
“Nós definimos o socorro de acordo com a obstrução. Se ela for total, ou seja, se ela impedir completamente a respiração, precisamos entrar com a manobra de desengasgo”, explica.
Já se a obstrução for parcial, quando a criança ainda consegue respirar ou se o bebê ainda chora, o sargento ressalta a importância de não fazer a manobra do desengasgo.
“Ligue 192 ou 193 e peça orientação. Se o médico que atender não mandar uma ambulância, indicará um hospital para os adultos levarem a criança. Não comece os procedimentos, porque corre o risco de que os movimentos façam com que se torne um engasgo total”, frisa.
No caso de bebês e crianças lactantes, que ainda são amamentadas, que estejam com obstrução parcial, Almada ainda dá uma dica extra: colocá-lo de lado para que drene a saliva enquanto aguarda por socorro ou leva a vítima para um hospital.
Manobra de desengasgo: agilidade e persistência
Ao perceber que o engasgo é total e que, consequentemente, a criança não respira, é preciso começar as manobras. Para isso, pais e responsáveis devem ligar para o 192 ou o 193 para obter auxílio no socorro. “Esse é um passo muito negligenciado, mas que salva vidas. Ligue para nossos telefones, o atendente auxiliará nas manobras enquanto um socorro será enviado”, frisa Almada.
A orientação a ser dada por telefone são as mesmas ensinadas pelo sargento. Primeiro, as manobras mudam se a vítima estiver consciente ou inconsciente (Veja abaixo o que fazer em caso de crianças inconscientes).
Se o bebê lactente ainda está acordado, a pessoa que prestará socorro deve ficar em pé, apoiar o bebê na perna dominante, com ele de barriga pra baixo e em uma posição de 45º graus, então dar cinco tapas no início das costas.
Em seguida, na mesma posição, o bebê deve ser virado de barriga pra cima e, com dois dedos no centro do peito, faça cinco compressões torácicas. “É preciso fazer isso até que a criança desengasgue”. Caso a criança fique inconsciente, outra manobra deverá ser utilizada. Veja abaixo:
Crianças maiores de 5 anos
Se a criança tiver mais de cinco anos é preciso fazer a manobra de Heimlich. “Em pé, a pessoa se posiciona por detrás do paciente, o abraça, posiciona as mãos na boca do estômago e faz uma pressão para que ele desengasgue, como empurradas para dentro do estômago e em direção a pessoa que presta o socorro”, detalha Almada.
Se a vítima estiver inconsciente, a abordagem é diferente e emergencial
É possível que pais ou responsáveis percebam o engasgo depois que a vítima já perdeu a consciência. Ou, ainda, as manobras de desengasgo não foram eficientes e, por falta de respiração, a criança ficou inconsciente.
Se isso ocorrer, é preciso levar a vítima – bebê ou criança acima de cinco anos – para o chão, deitá-la de barriga pra cima e fazer compressões torácicas para que o objeto saia pela boca. “É preciso fazer 30 compressões e depois procurar o objeto na garganta. Se conseguir vê-lo, retire-o. Se não, faça mais 30. Faça até que o socorro, que foi pedido no começo do incidente, chegue ao local ou que a criança desengasgue”, diz o bombeiro.
É por situações como essa, nas quais as manobras não se tornam suficientes para solucionar o problema, que é crucial que o Corpo de Bombeiros ou a Polícia Militar seja acionada assim que o engasgo for identificado. Quanto mais rápido o socorro for dado, mais chances tem aquela vida de ser salva.
Pais devem cobrar treinamento de primeiros socorros de creches e escolas
A escolha da escola ou de uma creche é feita, muitas vezes, pelo preço, pela proximidade de casa ou pela disponibilidade de vagas. No entanto, acima desses critérios, o sargento Almada aponta para uma capacidade essencial nesses estabelecimentos: o treinamento de primeiros socorros.
“É preciso que pais, ao matricularem os filhos em creches ou escolas, cobrem e pesquisem se os professores ou qualquer outro funcionário fizeram algum curso de primeiros socorros. Existe a Lei Lucas (nº 13.722/2018) que tornou obrigatória a capacitação desses profissionais nas noções básicas de socorro”, explica.
“E primeiros socorros abrangem não só desengasgo, mas cuidados com hemorragia, queimadura, intoxicação e muitas outras questões. Os pais podem e devem cobrar isso dos locais em que deixam os filhos”, aconselha o sargento.
Fonte: CB