Polícia repreendeu militar pelas declarações publicadas no Youtube, em que ele conta a experiência e descreve situações de preconceito pelas quais passou
O policial militar Henrique Harrison foi alvo de uma repreensão da Polícia Militar. Para a corporação, ele teria exposto indevidamente integrantes da organização, infringindo o Regulamento Disciplinar do Exército (RDE). O documento foi entregue ao policial na última sexta-feira (2/7) e fala em “falta de compostura” para justificar a sanção.
Harisson defende que produziu o conteúdo e que se posiciona sobre o caso enquanto civil, e não como militar, nem fala em nome da corporação. O policial está afastado há 60 dias por recomendação médica para tratar problemas relacionados à depressão e ansiedade. “É um modo claro de a polícia tentar me imputar alguma coisa, por conta de a minha orientação sexual ser um fator aberto, ser do conhecimento de todos”, afirma. Harrison é homossexual, e não esconde sua sexualidade.
Na nota de punição, assinada pelo Corregedor-geral Alessandro Alves, o militar aponta que a sanção se refere ao vídeo gravado por Harrison, mas que foi publicado em abril do ano passado. Para a PM, Harisson “discute assuntos militares sem a devida autorização”.
O canal de Youtube do policial tem 622 inscritos, mas o vídeo em que relata sua experiência na corporação acumula mais de 24 mil visualizações. Em “Ser policial gay é problema?”, Harisson conta que entrar na PM foi a realização de um sonho, e descreve como foi o curso de formação depois de ser aprovado no concurso.
Harisson aponta o ambiente militar como machista e que diz temia que a sexualidade não fosse aceita entre os colegas naquele contexto, mas que, a princípio, foi bem recebido.
Contudo, ele diz que, após uma foto com o então namorado, o tratamento mudou. Na gravação, Harisson descreve frases que ouviu de superiores da PM, sem citar nomes: “Se você quiser sofrer menos, seja mais discreto”, diz Harisson sobre o que ouviu pouco antes da formatura.
Segundo Harisson, um capitão o teria chamado em frente ao pelotão para dizer que ele seria “aparecido”, e passou a levar “Fatos Observados” (FOs), o que abaixou seu desempenho no curso. Ele diz que sentiu que seus perfis nas redes sociais estavam sendo monitorados.
No dia da formatura, em janeiro de 2020, Harisson e o namorado se beijaram, ao lado de outro casal de lésbicas. A foto do momento, publicada nas redes, foi alvo de comentários preconceituosos e ofensas.
Em maio, o Tribunal de Justiça do DF (TJDFT) acolheu a denúncia do Ministério Público e tornou réus por homofobia os envolvidos no caso. Um deles é coronel da reserva.
Sobre a punição mais recente, a Polícia Militar informou que “todo processo administrativo realizado pela Polícia Militar também seguirá os preceitos da ampla defesa e do contraditório”. A corporação ressaltou que os procedimentos ainda não terminaram e, por isso, “não tendo, portanto, até a presente data, qualquer tipo de solução, seja ela publicada para punir, arquivar ou tombar em Inquérito Policial Militar”. A PM ainda afirmou que o policial pode recorrer à Corregedoria.
Contudo, o próprio documento produzido pela PM descreve a punição disciplinar e a sanção de repreensão do policial. Harisson pretende recorrer da medida e, se não for possível revertê-la, planeja procurar a justiça civil por abuso de autoridade.
Fonte: CB