A demora do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, em dar encaminhamento ao pedido de extradição de Fábio Luís Lula da Silva, o “Lulinha”, à Procuradoria-Geral da República (PGR) alimenta questionamentos legítimos sobre a condução institucional da Casa. Independentemente do mérito do requerimento — que deve, como manda o Estado de Direito, ser analisado pelos órgãos competentes — o que causa estranheza é a inércia diante de uma provocação formal apresentada por parlamentares.
A Câmara não é tribunal, tampouco substitui o papel do Ministério Público ou do Judiciário. Mas é, sim, uma instância política com deveres procedimentais claros. Quando um pedido é protocolado, cabe à Presidência assegurar o trâmite regular, sem juízos prévios, sem filtros informais e, sobretudo, sem seletividade. Ao reter o encaminhamento, Hugo Motta expõe a instituição a críticas de complacência e reforça a percepção — já difundida na sociedade — de que há dois pesos e duas medidas quando o assunto envolve nomes ligados ao Palácio do Planalto.
Não se trata de antecipar condenações, nem de endossar narrativas. Trata-se de cumprir ritos. Encaminhar à PGR não significa validar o conteúdo do pedido; significa respeitar a legalidade e permitir que a autoridade competente decida. Ao postergar esse passo elementar, a Presidência da Câmara deixa de proteger a Casa e passa a protegê-la do escrutínio — um erro político e institucional.
Em tempos de polarização e desconfiança, a transparência não é um luxo: é uma obrigação. Se o pedido é inconsistente, que seja arquivado pela PGR com a devida fundamentação. Se há elementos a examinar, que sejam examinados. O que não se justifica é o limbo procedimental. O silêncio, neste caso, fala alto — e cobra um preço para a credibilidade do Parlamento.
A Câmara dos Deputados deve ser guardiã do devido processo, não sua barreira. E o presidente da Casa precisa escolher de que lado da história quer estar: o da institucionalidade, que faz o processo andar, ou o da omissão, que apenas aprofunda a crise de confiança.
**Poliglota é jornalista e Editor-chefe do Portal Opinião Brasília





