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A falácia do “trabalhador do tráfico”

Há uma semana, o ministro da Fazenda declarou a um jornal que “a cabeça do crime organizado está na praia de Miami e não na Penha”. É provável que a declaração faça parte do esforço do governo federal para desmerecer a operação policial do dia 28 de novembro, no Rio de Janeiro. Essa declaração se parece com outras que escuto com frequência. “Não adianta prender o traficante pé-de-chinelo que está na favela portando um fuzil”, dizem alguns críticos. “Tem que ir atrás dos grandes traficantes, que não moram na favela, moram na Vieira Souto”. Esse tipo de argumento é, muitas vezes, aceito como correto e como uma demonstração da inutilidade do combate ao tráfico. Mas quando o examinamos com cuidado ele se desmancha.

Primeiro, é evidente que os criminosos que comandam as organizações – os chefões – são muito mais difíceis de ser capturados. O dinheiro do narcotráfico dá a esses criminosos acesso aos melhores advogados, que usam mecanismos jurídicos sofisticados para defender seus clientes. O dinheiro também corrompe agentes nas instituições do Estado. Muitos líderes de organizações criminosas saem pela porta da frente da cadeia, soltos por medidas judiciais inexplicáveis.

“Não se pode esperar por condições perfeitas para combater o crime. Essas condições nunca existirão. O combate precisa ser feito agora, dentro das restrições e com todas as dificuldades”

Isso é motivo para desistir de combater o tráfico? Absolutamente não. Estamos diante de um argumento falacioso que tenta nos convencer de que ou a polícia e a Justiça conseguem investigar, prender, julgar e condenar todos os envolvidos, ou então ninguém pode ser preso e nada pode ser feito.

Mas, na vida real, as operações são sempre incompletas, porque o combate ao crime é uma luta assimétrica, na qual os criminosos desfrutam de muitas vantagens e da possibilidade de violar a lei. Não se pode esperar por condições perfeitas para combater o crime. Essas condições nunca existirão. O combate precisa ser feito agora, dentro das restrições e com todas as dificuldades.

Existe outro erro lógico e moral em um argumento que minimiza o papel do “pequeno traficante”: se não houvesse alguém disposto a segurar um fuzil para defender uma boca de fumo, não haveria tráfico. O traficante da favela não é um pobre coitado que, ingenuamente, foi envolvido no crime. O “trabalhador do tráfico” fez a escolha consciente de participar de uma facção. Sem o “vapor”, sem o olheiro e sem o soldado armado de fuzil, o tráfico de drogas não existiria.

Crime é escolha – uma escolha que, multiplicada por milhares de decisões individuais, determina se vamos viver em um país decente ou em um inferno de sangue, corrupção e violência. Como vivemos agora.

Por Roberto Mota – Via Gazeta do Povo

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