O senador Davi Alcolumbre (União-AP) se transformou em tudo aquilo que dizia combater. De promessa de renovação política, virou o símbolo da submissão do Legislativo ao poder do Supremo e ao jogo de conveniências do governo Lula. Alcolumbre não apenas traiu quem o ajudou a subir — traiu também a própria ideia de um Congresso livre, corajoso e independente.
Ele chegou à presidência do Senado com o apoio decisivo de Jair Bolsonaro e da base conservadora, acenando à direita, prometendo equilíbrio e respeito à pauta da oposição. Bastou garantir o cargo para mostrar seu verdadeiro rosto: o de um político que governa de costas para o eleitorado e de joelhos para o sistema.
Foi Alcolumbre quem enterrou a PEC da Blindagem, aprovada com folga na Câmara, que buscava conter o ativismo judicial e restabelecer limites entre os Poderes. Foi ele também quem bloqueou qualquer chance de anistia aos condenados do 8 de janeiro, preferindo manter o clima de perseguição e medo que hoje domina a política nacional.
Enquanto milhares de brasileiros clamam por justiça e equilíbrio, o presidente do Congresso finge que não ouve. Faz o jogo do Supremo, recusa-se a pautar pedidos de impeachment contra ministros e transforma o Senado em uma mera extensão do STF. Alcolumbre parece governar com mais deferência aos desejos de Alexandre de Moraes do que à voz do povo.
Não é à toa que até seus antigos aliados no PL hoje o acusam de traição. Dizem, com razão, que “Davi é mais presidente do Supremo do que do Congresso”. A irritação cresceu a tal ponto que a base bolsonarista já articula, com mais de um ano de antecedência, um movimento para barrar sua tentativa de nova reeleição em 2027.
Alcolumbre fala em pacificação, mas age como peça de um projeto de poder que sufoca o contraditório. Fala em diálogo, mas fecha as portas às demandas da oposição. Fala em equilíbrio, mas mantém o Senado refém de seus interesses e dos do Planalto.
O Congresso precisa de coragem — e não de conivência. O Brasil não pode continuar refém de um presidente do Senado que prefere proteger o poder de ministros togados a defender os direitos de quem o elegeu.
A história cobrará caro de Davi Alcolumbre. E o preço será pago nas urnas e na memória política de um país que não suporta mais a covardia travestida de prudência.
**Poliglota é jornalista e Editor-chefe do Portal Opinião Brasília