Dentro da corporação, entre oficiais e praças, o sentimento é de revolta com a atitude do governador e uma sensação clara de que houve uma retaliação à tenente-coronel Gabryela
Após responder o ataque do jornal O Globo, a tenente-coronel Gabryela Dantas, coordenadora de Comunicação Social e porta-voz da Secretaria de Estado da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ), será exonerada do cargo a pedido do governador em exercício Cláudio Castro (PSC).
Em vídeo divulgado ontem (8), Gabryela rebate e diz ser mentirosa a notícia divulgada pelo jornalista do jornal O GLOBO, Rafael Soares, sobre o aumento do descarte de munições usadas por policiais do 15º BPM de Duque de Caxias.
“Consumo de munição explodiu no batalhão de PMs investigados pelo homicídio de meninas em Duque de Caxias”, dizia a manchete da notícia.
De acordo com a policial, o jornalista agiu de forma maldosa e irresponsável, aproveitando-se da comoção nacional pela morte a tiros das meninas Emilly Victória Silva dos Santos, de 4 anos, e de Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, de 7 anos, em uma comunidade em Duque de Caxias.
A tentativa da reportagem de O Globo, de acordo com a porta-voz da PMERJ, era colocar a população contra a Polícia Militar.
“Rafael Soares, de forma maldosa, dá a entender que houve um aumento de consumo de munição por parte de um batalhão da PM e que policiais desse batalhão estariam sendo investigados pelo assassinato de duas meninas”, diz a tenente.
Ainda de acordo com a policial essa ilação totalmente irresponsável, além de mentirosa, “é covarde e inescrupulosa”. “Ele traz uma relação sem qualquer fundamento de um possível aumento do consumo de munições, o que é uma mentira”, disse.
Segundo ela, o consumo de munição da unidade relatada não sofreu alterações significativas, se mantém dentro de uma média e representa menos de 10% do consumo noticiado pelo jornalista. Rafael Soares chegou a ser informado pelos policiais de que suas informações estavam erradas.
“Poderíamos acreditar que o jornalista se enganou e confiou numa fonte mentirosa, afinal, errar é humano”, pondera a tenente-coronel. “Porém o jornalista, ao termino do expediente de ontem, entrou em contato com a assessoria de imprensa da PM, sendo prontamente atendido e tecnicamente avisado de que a informação que ele tinha não correspondia com a realidade”, acrescentou.
A Globo repudiou o vídeo da porta-voz e disse que “faz parte da prática jornalística diária lidar com críticas, contestações e pedidos de reparação de alguma informação”, mas que “não é papel de uma instituição de Estado atacar pessoalmente um profissional nem incitar a população contra ele”.
O Grupo Globo também disse que os dados da reportagem “criticada” pela PM constam em documento produzido pelo próprio batalhão da PM de Caxias.
O que diz a PM
O Terça Livre entrou em contato com a PMERJ que explicou que não houve consumo do número de munições mencionado pelo jornalista Rafael Soares, que seria de mais de 6 mil projéteis, no último mês de novembro.
“O que houve, e foi publicado no Boletim Reservado da Corporação, foi a movimentação de uma quantidade maior de munições da unidade para descarte, o que faz parte das rotinas logísticas diante do vencimento dos referidos projéteis para utilização”, diz a polícia em nota.
A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informou também que, por vezes, um número maior de munições é movimentado para eliminação por acúmulo de demanda, onde o material é reunido durante vários meses e encaminhado num único montante, gerando um registro em um mês que representa o acúmulo de um período maior do mesmo ano, o que não onera o processo de eliminação do material.
“Informamos ainda que os números de consumo do 15º BPM no último mês de novembro estão abaixo de 10% do número indicado na demanda. Vale ressaltar que estes quantitativos em exatidão são de caráter sigiloso”, informou.
Fonte: Terça Livre (com adaptações)