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A farda desvalorizada: quando o governo esquece quem garante a ordem

Há decisões políticas que ecoam mais do que decretos: soam como recados. A negativa ao reajuste das forças de segurança do Distrito Federal é um desses sinais — e o que ele transmite é perigoso.

Brasília é palco do poder. É a vitrine do país, onde ministros, parlamentares e chefes de Estado circulam sob o olhar atento de policiais militares, civis, bombeiros e agentes de custódia. São esses homens e mulheres que, diariamente, seguram a linha entre a ordem e o caos. Mas quando pedem o mínimo — a recomposição de seus salários corroídos pela inflação — recebem como resposta o silêncio do Estado, mesmo quando o próprio Estado tem os recursos disponíveis para tal concessão sem onerações e impactos.

Não é a primeira vez que isso acontece. A história brasileira está marcada por episódios em que a desvalorização das forças de segurança resultou em crises institucionais.

Quem não se lembra das greves de policiais militares na Bahia, no Espírito Santo, no Ceará e a famigerada Operação Tartaruga em Brasília, que mergulharam cidades inteiras no medo e escancararam a fragilidade do pacto social? Ignorar essas lições é brincar com fogo e o governo Lula tem se queimado constantemente e não aprende.

A retórica de que “não há recursos” soa como uma afronta quando, ao mesmo tempo, bilhões são destinados a emendas parlamentares e projetos menos urgentes. O governo do Distrito Federal fez o seu papel, através do governador Ibaneis Rocha, encaminhando ao governo federal todos os cálculos feitos pela Secretaria de Economia de que os recursos oriundos do Fundo Constitucional do DF aportariam o reajuste, com sobras.

Mas o recado do governo federal foi claro: a farda que protege Brasília não é prioridade. É como se dissesse ao policial que arrisca a vida todos os dias: “seu sacrifício não cabe no orçamento”.

Mas o que está em jogo não é apenas o contracheque. É a motivação, a confiança e a legitimidade das corporações. Sem valorização, a segurança pública sangra por dentro. O policial desmotivado continua trabalhando — mas com menos ânimo, menos dedicação, menos esperança. E uma polícia desmotivada é o prenúncio de um Estado vulnerável.

Historicamente, grandes impérios ruíram não pela força dos inimigos externos, mas pela corrosão interna, pela incapacidade de cuidar de suas próprias guardas. Roma não caiu apenas sob a pressão dos bárbaros, mas também porque negligenciou os soldados que sustentavam suas fronteiras. O Brasil corre o risco de repetir esse erro em pleno coração da República.

Negar reajuste às forças de segurança do DF não é apenas uma escolha contábil. É um ato político carregado de simbolismo. E o símbolo que ele transmite é devastador: o de que quem garante a ordem pode ser descartado.

Se a capital do poder insiste em desvalorizar aqueles que a protegem, que mensagem restará para o resto do país? Talvez a de que a farda pesa mais no corpo do servidor do que na consciência do governante.

**Poliglota é jornalista e Editor-chefe do Portal Opinião Brasília

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