Enquanto os principais ministros do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantêm discrição diante da operação da Polícia Federal que impôs medidas cautelares ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como o uso de tornozeleira eletrônica, a militância petista utiliza conteúdos fornecidos pelo Palácio do Planalto para intensificar o desgaste do adversário político nas redes sociais.
A Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência afirmou, em nota, que seus servidores produzem apenas materiais institucionais, mas reconheceu que vídeos e recortes do pronunciamento de Lula, exibido na véspera da operação de 18 de julho, foram distribuídos a setores do governo e rapidamente utilizados pela estratégia de comunicação do PT.
A campanha “Pode Espalhar”, coordenada por agências contratadas pelo partido, pelo Instituto Lula, pela Fundação Perseu Abramo e por sindicatos, amplifica mensagens que associam Bolsonaro a crimes como o “mentor do 8 de Janeiro” e o roubo de joias, casos ainda em julgamento.
A estratégia petista, segundo fontes, foca em explorar a imagem de Bolsonaro com tornozeleira para reforçar a narrativa de que “traidor da Pátria não tem vez”.
Um vídeo disseminado pela militância, baseado em material institucional, retrata o ex-presidente como “um ladrão que tenta esconder provas e combina fuga com um estrangeiro”. A ordem nos grupos de WhatsApp do PT era destacar o pronunciamento de Lula e a ação da PF, com mensagens compartilhadas minutos após o discurso presidencial, algumas originadas de e-mails da Secom, como o de Mariana Gurgel Zoccoli, diretora do Departamento de Produção, Edição e Acervo, que não respondeu aos questionamentos do Estadão. A Secom nega qualquer interferência externa ou produção de conteúdo para o partido, alegando que a distribuição de material para órgãos governamentais, ministros e parlamentares é prática legítima e comum em redes sociais.
A operação contra Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, gerou forte polarização.
Enquanto a militância petista celebra, bolsonaristas reagem com hashtags como #SomosTodosBolsonaro e acusações de “perseguição política”.
Um levantamento da AP Exata apontou que 50,3% das postagens nas redes sociais são contrárias a Bolsonaro, contra 49,7% favoráveis, evidenciando a divisão no debate público.
A Secom reitera que seu papel é estritamente institucional, mas a rapidez com que conteúdos oficiais chegam às redes petistas levanta questionamentos sobre a linha entre comunicação governamental e estratégia partidária. A ação da PF, que incluiu buscas na casa de Bolsonaro e a apreensão de itens como um pen drive escondido, reforça o embate político, com o PT capitalizando o momento para enfraquecer o ex-presidente.
Fonte: O Estadão