A ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia, esposa do ex-presidente Ollanta Humala (2011-2016) e que chegou na quarta-feira (16) ao Brasil após ter recebido asilo diplomático do governo Lula, tem um grande histórico de relações com outros governos de esquerda na América Latina e de acusações contra si.
Nascida em Lima, Heredia tem 48 anos, se formou em comunicação e depois obteve os títulos de mestre em sociologia pela Pontifícia Universidade Católica do Peru e de doutora na mesma área na universidade de Sorbonne, na França.
Trabalhou em organizações internacionais, como a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), e em 1996 conheceu Humala na França. O futuro presidente do Peru atuava como adido militar no país europeu à época.
Eles se casaram em 1999 e tiveram três filhos, dos quais o mais novo, Samin Mallko Ollanta Humala Heredia, de 15 anos, também foi contemplado com o asilo diplomático concedido pelo Brasil.
Nos anos 2000, Heredia e Humala se aproximaram do então ditador venezuelano Hugo Chávez, que teria pago a comunicadora para escrever artigos que nunca foram publicados.
O casal fundou o Partido Nacionalista Peruano, pelo qual Humala concorreu à presidência em 2006. Naquela campanha, na qual foi derrotado por Alan García no segundo turno, o esquerdista recebeu ilegalmente recursos de Chávez – parte da denúncia que gerou uma condenação de 15 anos de prisão para Humala e Heredia na terça-feira passada (15).
Outra parte dizia respeito a financiamento irregular da empreiteira brasileira Odebrecht na campanha vitoriosa de Humala em 2011.
Durante o mandato do marido, Heredia foi acusada de usurpação de funções por publicar no então Twitter (hoje X) comentários e informações sobre o governo sem que ministros e o próprio Humala tivessem aprovado.
Além das denúncias que levaram à condenação na terça-feira, Heredia foi acusada de tráfico de influência, associação ilícita, contrabando e até homicídio, pela morte em 2015 de Emerson Fasabi, segurança da residência do casal em Surco.
Entre julho de 2017 e abril de 2018, Heredia e Humala ficaram presos preventivamente devido a acusações de lavagem de dinheiro.
Na terça-feira, ela e Humala foram condenados a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro pelo financiamento ilegal nas campanhas de 2006 e 2011, em processo no qual o irmão de Heredia, Ilán, também foi condenado, mas a uma sentença menor, de 12 anos de prisão.
Humala foi levado para o presídio de Barbadillo, conhecido no Peru como a prisão dos ex-presidentes, porque Alberto Fujimori já esteve detido na unidade e os ex-mandatários Pedro Castillo e Alejandro Toledo estão no local.
Heredia, por sua vez, se refugiou na Embaixada do Brasil em Lima e o governo Lula lhe concedeu asilo diplomático – que o governo peruano disse ter aceitado devido a “obrigações internacionais”.
“Que coincidência ser o Brasil! Quem é o presidente? Lula da Silva, aí está a conexão. Isso confirma mais uma vez a relação que existia entre o Partido dos Trabalhadores, liderado por Lula da Silva, e o senhor Ollanta Humala. É por isso que há apoio, por afinidade ideológica”, disse o procurador Germán Juárez Atoche, integrante da Operação Lava Jato no Peru, em entrevista à rádio RPP.
Por Fábio Galão – Gazeta do Povo