Apesar de ser cotada por alguns veículos de imprensa como possível candidata à vice-governadora, a deputada Lêda Borges coleciona uma série de perdas em sua trajetória política.
Um dos grandes desafios para quem se embrenha na política, é manter-se em evidência ou, pelo menos, numa posição estável como pessoa pública. Mas, como num jogo de xadrez, nem sempre as estratégias são bem-sucedidas. No Entorno, a deputada federal Lêda Borges (PSDB), outrora uma das lideranças mais emblemáticas da região, distanciou-se dos “tempos de glória”, acumulando mais derrotas do que vitórias em seu domicílio eleitoral, o município de Valparaíso. Isto ficou ainda mais evidente com os resultados das últimas eleições.
Ela, que começou como secretária, foi eleita vereadora e em 2008 tornou-se a primeira prefeita do município, ficando à frente de Zé Valdécio, uma importante liderança política da época, agora atravessa um declínio considerável, na avaliação do cientista político Márcio Aguiar. “Apesar de sua habilidade em construir alianças e derrotar figuras tradicionais, como Zé Valdécio, uma sequência de derrotas subsequentes e o enfraquecimento de seu partido comprometeram sua capacidade de se consolidar como uma liderança regional”, analisa.
Um exemplo disso foi em 2012, quando Lêda perdeu a eleição para a professora Lucimar, do PT, que estava em alta devido aos dois governos de Lula e o primeiro da ex-presidente Dilma. Na ocasião, mesmo com a máquina pública municipal em mãos, a candidata do PSDB conseguiu apenas 42,31% dos votos válidos, contra 56% da petista.
Em 2016, Lêda Borges tentou dar a volta por cima ao apadrinhar o ex-vereador Pábio Mossoró. Na época pelo PSDB, ele foi eleito prefeito de Valparaíso, alcançando 51,76% dos votos válidos e derrotando Afrânio Pimentel, candidato pelo PR. Essa vitória parecia indicar a recuperação de Lêda e tudo apontava que, em 2020, mesmo já ocupando uma cadeira no Legislativo, ela poderia voltar a comandar o Executivo municipal e recuperar seu status como principal liderança local.
O prefeito, porém, rompeu com sua madrinha política e formou seu próprio grupo. Assim, os dois se tornaram os principais oponentes nas eleições daquele ano. O vitorioso foi Mossoró, agora no MDB, com 51,40% dos votos válidos, enquanto Lêda, pelo PSDB, amargou mais uma derrota, tendo somente 36,14% dos votos. “Esse rompimento mostrou fragilidades em sua liderança. Sem a capacidade de manter aliados próximos, a deputada enfrentou uma nova derrota significativa, desta vez com uma perda substancial de votos”, destaca Márcio Aguiar.
Novas forças políticas
Em 2024, a parlamentar enfrentou, provavelmente, a perda mais notória de sua carreira: ao apoiar o vereador Zé Antônio (PL) à prefeitura, seu candidato obteve pífios 21,04% dos votos válidos, enquanto Marcus Vinicius, apoiado por Mossoró, levou o pleito com 61,28%.
A surpresa ficou por conta da chegada de Maria Yvelônia (SD), que saiu de 1% no início da campanha para terminar em terceiro lugar nas urnas, com 12,27% dos votos. “O surgimento de Yvelônia como uma terceira via também mostra que novas forças políticas estão emergindo em Valparaíso, limitando ainda mais o espaço de Lêda”, pontua Márcio.
O cenário da eleição de 2024 revela que o grupo liderado por Pábio Mossoró está cada vez mais consolidado no município. Já Maria Yvelônia, que conta com o apoio de figuras políticas nacionais, como o ex-presidente Jair Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, tem potencial para crescer e causar desconforto nos caciques da política local. Por sua vez, Lêda vem derretendo politicamente dentro do município e não parece mostrar sinais de que conseguirá reverter essa tendência, enfrentando desafios crescentes para recuperar sua influência e apoio popular.
Cenário estadual
Recentemente, a imprensa goiana tem apontado Lêda Borges como uma potencial candidata à vice-governadoria do estado. A justificativa é que sua proximidade com o senador Wilder Morais (PL) poderia proporcionar a ela mais projeção em nível estadual. No entanto, considerando que, atualmente, em seu curral eleitoral, a deputada está extremamente enfraquecida, não parece plausível imaginar que ela tenha a musculatura política necessária para suplantar a série de revezes em sua trajetória.
De acordo Márcio Aguiar, a possível candidatura de Lêda como vice-governadora ao lado de Wilder Morais pode ser vista como uma tentativa de reerguimento político, mas não sem desafios. “Lêda perdeu influência em Valparaíso, que deveria ser seu principal reduto eleitoral, o que levanta questionamentos sobre sua capacidade de contribuir significativamente para uma chapa majoritária no estado”, reflete. Essa perda de relevância em sua base eleitoral levanta dúvidas sobre o impacto que ela poderia ter em uma disputa tão expressiva.
Além disso, o cientista político lembra que “o enfraquecimento do PSDB, tanto em âmbito estadual quanto nacional, e a perda de prefeituras comprometem ainda mais sua viabilidade política”.
Apesar de sua proximidade com Wilder Morais oferecer uma plataforma mais ampla, ele ressalta que “sem uma base sólida no município e com sua imagem política desgastada, é incerto se essa aliança será suficiente para garantir uma posição de destaque em 2026”.
Partido enfraquecido
A situação do PSDB, por sua vez, não ajuda em nada nesse cenário promissor. O partido enfrentou um grande revés nas eleições de 2024, resultando em uma significativa redução de sua representatividade. Com apenas 273 prefeitos eleitos no primeiro turno, o PSDB caiu da quarta para a oitava posição em número de prefeituras, perdendo 250 cidades em relação a 2020.
Em Goiás, a sigla conseguiu eleger apenas seis prefeitos. Portanto, se Lêda pensa que sua conexão com Wilder Morais pode ser a chave para um renascimento político, talvez ela esteja mais para uma esperança improvável do que para uma verdadeira fênix em ascensão.
De acordo com Márcio Aguiar, as acusações de improbidade administrativa que Lêda enfrentou durante seu mandato como prefeita de Valparaíso têm impactado negativamente sua trajetória. “Embora tenha obtido uma decisão favorável na segunda instância, a reabertura da questão pelo Ministério Público de Goiás pode minar sua credibilidade no cenário estadual”, comenta o cientista político, indicando que esse processo jurídico ainda pode prejudicar sua imagem.
Ele também analisa que a evolução desse caso no STJ poderá trazer novos obstáculos. “Questões judiciais costumam ser usadas politicamente contra candidatos, especialmente em disputas de alta visibilidade, como uma vice-governadoria”, observa Márcio.
Em sua avaliação, os insucessos eleitorais e os problemas judiciais diminuíram em demasia o capital político da parlamentar em Valparaíso. “Lêda precisará reformular suas estratégias, reconquistar apoio popular e provar que ainda tem relevância no PSDB goiano”, conclui o cientista político, destacando que o fortalecimento de novas lideranças, como Maria Yvelônia, e a ascensão do grupo de Pábio Mossoró tornam seu caminho ainda mais desafiador.
A matéria em suma, produzida pelo Jornal Opção Entorno, é fruto de uma entrevista com o cientista político Márcio Aguiar