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Dias Toffoli: abraço de tamanduá, lágrimas de crocodilo

Cena de O Mecanismo: “A gente vai sair daqui, vai todo mundo embora, foi pro Supremo, estamos livres, pessoal, foi pro Supremo”

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, durante sessão na segunda turma, quarta-feira, 16, ao comentar sobre a anulação de provas e atos relativos à Lava Jato, com voz suave, olhinhos apertados, testa franzida e tom melodramático, declarou:

Nós fazemos isso com muita tristeza, porque é o Estado que andou errado; o Estado investigador e o Estado acusador. E o Estado juiz está para exatamente colocar os freios e contrapesos, para garantir aquilo que a Constituição dá ao cidadão, que é a plenitude da defesa. Então, vejam as senhoras e os senhores, que é lamentável quando nós temos que realmente declarar nulo um ato de Estado. Mas o erro foi cometido na origem”.

O chororô – que pareceu mais falso que uma nota de três reais – se deu no mesmo dia em que o Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, pediu o arquivamento de uma petição do próprio ministro, para investigar, sob argumentos completamente falaciosos, a ONG alemã Transparência Internacional, que, em janeiro deste ano, divulgou relatório rebaixando o Brasil em dez posições em 2023, nos colocando no 104º lugar entre 180 países avaliados, em um ranking de percepção de corrupção.

Toffoli, como é sabido, tem anulado monocraticamente acordos de leniência e condenações de empresas e réus confessos, que, inclusive, não apenas apresentaram provas dos próprios crimes como devolveram parte do dinheiro roubado. Dentre as empresas corruptas encontra-se a J&F, dos irmãos Batista, onde a esposa do ministro, Roberta Rangel, atuou como advogada, e seu ex-colega de Supremo, Ricardo Lewandowski, parecerista.

A expressão “lágrimas de crocodilo” vem da falsa impressão de que os bichos choram ao mastigar suas presas. Porém, é a pressão sobre as glândulas salivares e lacrimais que acaba fazendo com que lágrimas escorram dos olhos dos répteis. O olhar lânguido de Toffoli não convenceu ninguém, mas, ao menos, o “amigo do amigo de meu pai” não verteu gotas de falsidade pelos olhinhos apertados.

Outra expressão bastante conhecida é “abraço de tamanduá”. Muitos acreditam que o mamífero abraça suas vítimas para estrangulá-las, mas não é bem assim. O bicudo abre os abraços quando se sente ameaçado, a fim de ganhar espaço e demonstrar força. Quem se lembra do abraço de Toffoli em Jair Bolsonaro, à porta da mansão ministerial, lá pelos idos de 2020, quando a descoberta das rachadinhas no gabinete do bolsokid Flávio, na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), tirava o sono do clã mais “patriota” do Brasil?

Enquanto Toffoli chora e abraça, o Supremo Tribunal Federal permanece sob severas críticas da sociedade, a população sente-se um pouco mais machucada e aquela gente poderosa, enroscada na mais alta Corte de Justiça do país, como na célebre cena da série de TV, O Mecanismo, grita feliz e comemora: “A gente vai sair daqui, vai todo mundo embora, foi pro Supremo, estamos livres, pessoal, foi pro Supremo”. Dizem que a vida imita a arte. Não sei. Às vezes me parece o contrário.

O Antagonista

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