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Entorno cresce em ritmo acelerado e requer políticas públicas integradas

Municípios da região têm crescido rapidamente. Especialistas apontam necessidades de melhorias em políticas públicas. GDF trabalha para mapear necessidades e promover um crescimento sustentável dessas cidades

A população da região do Entorno do Distrito Federal tem crescido de forma acelerada  a cada ano (confira Área metropolitana). A mancha urbana, isto é, as áreas em hectares, também cresceu significativamente nas últimas décadas. A explosão demográfica e territorial afeta o DF diretamente, uma vez que, de acordo com a Secretaria do Entorno do DF (SEDF-GO), cerca de 224 mil pessoas que moram no Entorno se locomovem para o DF diariamente. Um total de 12 municípios goianos integram a Área Metropolitana de Brasília (AMB).

Trata-se de um território composto por mais de 1,2 milhão de pessoas que se somam aos 2,8 milhões de habitantes do DF. Nesta segunda reportagem sobre o Entorno do DF (a mais recente, no último domingo, tratou das eleições na região), o Correio ouviu especialistas, representantes do governo e moradores dos municípios do Entorno para mapear os maiores gargalos e ações de melhoria.

Para que haja um crescimento ordenado e sustentável, o Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) está finalizando a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios Ampliada (PDAD), um levantamento mais amplo que vai mapear dados dos municípios do Entorno — a previsão é de que esteja concluída em junho. “O planejamento de políticas públicas direcionadas a particularidades de cada cidade depende de informações atualizadas sobre a população local. Isso é essencial para o desenvolvimento das políticas públicas de forma eficiente e o resultado irá contribuir muito para que possamos melhorar o trabalho que o governo de Goiás vem desenvolvendo na região”, salientou a secretária do Entorno do DF, Caroline Fleury, sobre a parceria com o GDF.

Mobilidade

Entre os principais gargalos a serem enfrentados está a mobilidade. No início do ano, foi implementado um grupo de trabalho entre a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o Ministério dos Transporte, a Secretaria de Transporte e Mobilidade do DF (Semob), a Secretaria Geral de Governo do Goiás (SGG-GO) e a Secretaria do Entorno do DF (SEDF-GO) e a Infra S/A, para buscar soluções em relação ao transporte público.

“É preciso trabalhar uma governança tripartite entre DF, Goiás e União. Esse grupo de trabalho vai fazer um desenho de como integrar e baratear a passagem do transporte entre DF e Entorno. Atualmente, a depender do trecho, a passagem de ônibus chega a R$ 11,70”, afirmou a secretária Caroline Fleury. “Precisamos encarar o transporte como política pública. Se o transporte está ruim, isso pode gerar um efeito cascata e até causar desemprego, evasão escolar, etc.”, acrescentou.

De acordo com ela, 70% das 224 mil pessoas que se locomovem diariamente do Entorno para o DF são mão de obra que trabalha para o GDF ou para o governo federal. “Das sete linhas de ônibus, só uma é licitada. As demais atuam de forma precária. Tem gente que passa quatro horas por dia no ônibus, precisamos de transporte de qualidade”, observou Caroline Fleury.

O morador do Valparaíso (GO) Silas dos Santos, 29, trabalha na instalação e manutenção de ar-condicionado no DF e reclama que passa muito tempo do seu dia dentro de um ônibus. “A depender do trânsito, tem vezes que fico três horas no ônibus para chegar ao meu trabalho e isso é um ponto negativo para quem mora no Entorno”, lamentou.

Saindo às 4h30 para chegar ao trabalho às 6h, a atendente Laíse Maria, 25, reclamou da qualidade do transporte público. “O transporte não tem manutenção, é muito precário e, com o crescimento da população, é necessário que tenha um transporte de qualidade com mais ofertas”, desabafou a moradora de Águas Lindas (GO).

O arquiteto e urbanista Pedro Grilo acredita que a transferência do centro administrativo do DF para Taguatinga seria uma forma de desafogar o fluxo de transporte para a região central do DF. “O Centro Administrativo do DF (Centrad) foi construído, mas nunca foi utilizado. Descentralizar é uma forma de diversificar e facilitar o transporte, multiplicando também as possibilidades de emprego em outras regiões”, sugeriu. “É preciso também investir em transporte, uma vez que o transporte do Entorno para o DF é interurbano e de pior qualidade. Assumir o Entorno como uma região metropolitana facilitaria esse investimento”, completou.

O secretário de Governo do Distrito Federal, José Humberto Pires, reforçou a necessidade de melhorias na mobilidade entre o Entorno e o DF. “Precisamos trabalhar para encontrar um mecanismo de gestão do transporte público com a participação da União para que melhore a qualidade”, disse.

“São necessárias políticas públicas cruzadas. As barreiras entre Entorno e DF são somente territoriais. A simbiose existe desde sempre. O crescimento é inevitável. Temos problemas de toda natureza. Para resolvê-los, precisamos conhecer a nova realidade”, pontuou José Humberto Pires.

Entre as melhorias previstas para a mobilidade entre o DF e o Entorno está o BRT de Santa Maria a Luziânia (GO), que foi incluído nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal e, segundo a secretária do Entorno, deve ser licitada ainda neste semestre.

Habitação

“Praticamente o que atrai as pessoas para morar no Entorno é o preço das coisas, como imóvel e supermercado”, é o que comenta Silas dos Santos, morador de Valparaíso. Ele conseguiu comprar uma casa própria e acredita que se morasse no DF estaria ainda pagando aluguel.

O morador da Cidade Ocidental (GO) Jorge Magalhães, 39, sai de casa às 5h para estar no Plano Piloto às 8h — ele trabalha como técnico em eletrodoméstico. Para ele, os preços dos imóveis são um atrativo para quem mora no Entorno. “O preço que paguei no meu imóvel, uma casa grande com mais de três quartos, numa região bem arrumada,  não pagaria em Brasília”, comentou.

Mariana Miranda, 31, moradora de Águas Lindas com emprego de secretária no Plano Piloto, também concorda. Para ela, “uma das vantagens é o preço dos imóveis. “O problema é a distância, costumo gastar quatro horas do meu dia dentro de um ônibus, preciso acordar muito cedo para chegar ao trabalho, o transporte público não é de qualidade”, desabafou.

O urbanista Pedro Grilo ressalta que o ideal para o Distrito Federal seria investir na construção de habitação barata em uma área mais central, para que as pessoas precisem se deslocar menos. “Infelizmente, temos essa cultura de expatriamento urbano. É a cultura urbanística de Brasília. O ideal seria que a gente conseguisse concentrar mais (na região central), mas a realidade são as cidades do Entorno infladas. Isso é sintoma desse expatriamento”, analisou.

Saúde

O técnico em eletrodoméstico e morador da Cidade Ocidental Jorge Magalhães, 39, apontou problemas na área de saúde na região vizinha ao DF. “Apesar do caos que está a saúde do DF, quando estou doente ou alguém da minha família, prefiro procurar os hospitais da capital em busca de atendimento. Eu procuro fazer minhas consultas no DF, por ter hospitais mais qualificados do que os do Entorno”, afirmou.

Está previsto para ser entregue ainda este ano o Hospital Estadual de Águas Lindas, que deve dar suporte para o Entorno e também para o DF. “Ceilândia e Brazlândia também serão beneficiadas com esse hospital”, reforçou a secretária do Entorno, Caroline Fleury.

CB

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