Votação puxada pelo jornalista Fred Linhares, que disputou sua primeira eleição para federal bateu nos 165 mil votos
A maior bancada do Distrito Federal no Congresso não será do PL, nem do MDB e muito menos do PT, legendas que historicamente obtêm os melhores resultados na capital. Desta vez, o único partido a fazer três deputados federais será o Republicanos. Sua votação foi puxada pelo radialista Fred Linhares, que disputou sua primeira eleição e bateu nos 165 mil votos, seguido pelo pastor e já deputado Júlio César Ribeiro, com 76 mil, e por outro novato, o ex-secretário de Ciência e Tecnologia Gilvan Máximo que, com 20 mil, foi alavancado pelos demais.
Fred podia contar com o reconhecimento do nome, pois seu pai, o também radialista Sílvio Linhares, já foi distrital. O que mais pesou, porém, foi sua presença constante na TV aberta, como apresentador de programas como Balanço Geral, da RecordTV, ou Cidade Alerta. Também foi apresentador em outra emissora aberta, a Rádio Atividade FM. A partir de sua presença na Record, com audiência elevada nos programas por ele apresentados, sua candidatura foi estimulada pelo presidente regional do Republicanos, Wanderley Tavares, que tem vínculos com a emissora. Fred Linhares conduziu uma campanha propositiva, levantando temas como aperfeiçoamento do Código de Processo Penal, para combater a criminalidade, medidas de proteção à mulher como sua qualificação profissional e expansão do ensino técnico.
Senado cada vez mais conservador
A chegada da ex-ministra Damares Alves como nova senadora pelo Distrito Federal pode servir como símbolo para a guinada imposta nas eleições deste ano à composição do Congresso. A partir da posse dos atuais eleitos, o Senado estará muito mais conservador e muitíssimo mais bolsonarista. Os partidos de centro-direita contarão, a partir de 2023, com 65 das 81 cadeiras disponíveis na Casa. Depois de faturar oito dos 27 assentos em aberto nas eleições de 2022, o PL de Jair Bolsonaro terá a maior bancada, com 52 cadeiras, seguido por partidos do mesmo espectro ideológico, caso do União Brasil, com 12, e do PSD, com 10, acompanhados por PP (sete), Podemos (seis), Republicanos (três) e PSC (um). Mais ao centro, MDB com 10 e PSDB com 4, formam um grupo moderado, que às vezes vota com o governo, mas nem sempre. Ambos começam o ano menores, emedebistas com três cadeiras a menos e tucanos duas vagas abaixo do que possuem hoje. Na centro-esquerda, são 15 senadores. O PT terá a maior bancada, com 9 (quatro a mais do que hoje), seguido por PDT (duas), PSB (um), Cidadania (um), PROS (um) e Rede (um).
Peso bolsonarista
Hoje já existe uma forte presença bolsonarista – por exemplo com o senador fluminense Flávio Bolsonaro, filho do presidente. Mesmo assim, há uma ampla maioria centrista. Isso deve desaparecer. A nova composição tem 24 vagas vistas como abertamente vinculadas a Bolsonaro, o que inclui o vice-presidente, Hamilton Mourão e os ex-ministros Marcos Pontes, Damares Alves, Rogério Marinho e o ex-secretário da Pesca Jorge Seif. Os números ainda podem ser alterados com a definição do segundo turno nos governos estaduais. São cinco senadores no páreo e quatro deles têm suplentes de partidos diferentes. Jorginho Melo, do PL de Santa Catarina, tem uma suplente do MDB; Marcos Rogério, PL de Rondônia, tem suplente do PSDB; Rodrigo Cunha, União de Alagoas, do PSB; e Rogério Carvalho, PT de Sergipe, PSD. Só Eduardo Braga, MDB, tem suplente do mesmo partido, aliás a própria mulher. O mais provável é que o MDB ganhe mais uma cadeira, o que não mexe muito no balanço geral.
Nova agenda
Essa virada no equilíbrio de forças pode mudar a agenda do Senado. O melhor exemplo viria da relação com o Judiciário. Só o Senado pode remover ou condenar um ministro do Supremo Tribunal Federal, por exemplo. Existem dezenas de pedidos de impeachment, vários deles defendidos fervorosamente pelos bolsonaristas-raiz. Até agora, esses pedidos vêm sendo arquivados ou simplesmente ignorados. Da mesma forma, existem propostas que visam mudar a composição do Supremo Tribunal Federal, inclusive prevendo o aumento do número de ministros, o que permitiria a uma eventual nova presidência de Bolsonaro formar maioria diferente da atual. Há também projetos mais simples, como o que acaba com a vitaliciedade dos ministros, do senador tucano Plínio Valério, que recebe apoio de muitos senadores não-bolsonaristas. Todas essas propostas podem ganhar vida nova com os senadores que chegam.
Coisa que não dá certo
Apostar exclusivamente em seguidores de redes sociais é coisa que não dá certo em eleições. Morando nos Estados Unidos, Luís Miranda apostou nas suas redes e, da primeira vez, deu certo. Conseguiu eleger-se pelo DEM do Distrito Federal, sem nunca ter participado da política da cidade. Instalado na Câmara dos Deputados, fez as contas e descobriu que tinha ainda mais seguidores em São Paulo. Aí mudou tudo. Transferiu para lá seu domicílio eleitoral, mudou do DEM para o Republicanos e comemorou tudo com uma festa no famoso apartamento do ex-presidente Lula no Guarujá. Deu tudo errado. Luís Miranda teve apenas 8 mil votos, algo insignificante dado o eleitorado paulista, e não tem qualquer chance de assumir.
Com Bolsonaro
Após acordar cedo para reunir-se com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada, o governador reeleito Ibaneis Rocha reafirmou seu apoio a ele. “Vou cumprir minha palavra, dada desde o início das eleições”, completou. Tem motivos para isso. “Sei tudo o que esse governo fez pelo Distrito Federal, as emendas concedidas para que Brasília não parasse e darei meu apoio para que no dia 30 de outubro ele saia vitorioso”, avisou.
Postura de cúpulas nem sempre funciona
Cortejado pela campanha do ex-presidente Lula, que desejava seu apoio em especial pelo peso do partido em São Paulo, o comando nacional do PSDB liberou os filiados. Figurões históricos do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, solidarizaram-se com Lula, mas na prática nada funcionou como o esperado. O governador paulista Rodrigo Garcia, o mais cobiçado pelos petistas, preferiu ficar com Bolsonaro e o mesmo fizeram lideranças de todo o País, inclusive o senador Izalci Lucas, que controla a legenda no Distrito Federal. Restam os candidatos tucanos Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e Raquel Lyra, de Pernambuco, ainda indefinidos. O MDB também liberou os filiados. Resultado foi que os emedebistas do Norte e Nordeste permaneceram com Lula, mas os do Sul tendem a ficar com o adversário, embora Simone Tebet deva apoiar o candidato petista. Em Brasília, o partido desde o início estava com Bolsonaro. Mesmo quando a cúpula dá apoio a um dos nomes o resultado pode ficar aquém do desejado. Prova é o que fez a senadora brasiliense Leila Barros, quando o PDT fechou posição. Limitou-se a dizer, justamente como fez Ciro Gomes, que acatava a posição partidária. E nem mencionou o nome de Lula.
Eleitores gostando
A propósito, o senador Izalci Lucas foi à tribuna nesta quarta-feira, 5, para avaliar o resultado das eleições. Disse que, “se os brasilienses se decidiram pela reeleição do atual governador é sinal de que estão gostando”. Ressaltou, porém, que falta muito ainda a se fazer pela capital. Na opinião dele, a cidade “já poderia ser há muito tempo uma referência não só nacional, mas até mesmo internacional”.
PSD como terceira via
Mantendo o estilo sóbrio, o ex-senador Paulo Octávio, avalia que seu partido, o PSD, surge como a terceira via na capital do País. “Hoje, temos a situação, representada pelo governador Ibaneis Rocha e a oposição, personificada pela aliança PT-PV, na chapa destas eleições encabeçada por Leandro Grass, mas nosso partido, ao apresentar uma candidatura independente, mostrou que é uma via importante para o futuro”, diz Paulo Octávio. Ele também afirma que está feliz por ver suas ideias sendo adotadas pelo atual governo, como a realização do mutirão de cirurgias. “É isso que nos preocupa: pensar grande o futuro do DF. Esse será o trabalho do PSD”, disse. Paulo Octávio foi o terceiro colocado na corrida pelo Buriti. O PSD elegeu dois distritais, mas não conseguiu cadeira de deputado federal, mesmo com os 23 mil votos do pastor Ibi Batista e os 21 mil de André Kubitschek, filho de Paulo Octávio.
Poder feminino
Como presidente do PSD brasiliense, Paulo Octávio vai conversar com Deborah Carvalhido e com Andreia Salles para assumir a presidência do PSD Mulher, que está vaga. A esta coluna, Andreia revelou que o voto dela é para a colega. “Ela tem o DNA do PSD e é completamente identificada com nossas pautas”, disse. Já o professor Ronaldo Silva, presidente do PSD-Afro, continuará à frente da ala, a primeira lançada em um partido de centro-direita do Distrito Federal.
Culpa da urna
Bolsonarista de primeira hora e um dos muitos policiais militares candidatos, o Coronel Charles, do PSD, teve 2.290 votos na eleição para deputado federal. E já arrumou o culpado: a urna eletrônica. Ele vem dizendo a apoiadores que só perdeu por isso. Resta saber se tem provas.
JBr